A alternativa da fusão nuclear

Francisco Silva
Ultimamente tem reaparecido a público a questão da energia nuclear. Seja por causa das preocupações e medos relativos ao efeito de estufa e ao «seu causador», o (in-)famoso malfeitor dióxido de carbono - do agora «intelectualmente» popularizado CO2, agora, digo, porque antes, esta coisa das fórmulas e das ciências duras, nas quais se inclui a química, é coisa bárbara para ser olvidada por intelectuais e pessoas cultas «dignas» desses nomes -, CO2 que é lançado para a atmosfera como resultado da produção de energia por combustão de hidrocarbonetos ou de carvão - libertação de CO2 que, aliás, não acontece nos processos de produção de energia nuclear; seja por mor do tema do previsto esgotamento das reservas de petróleo e, de um modo geral, das fontes baseadas em matérias-primas de hidrocarbonetos; seja porque um intenso e rápido agravar dos preços do petróleo se processa em meio a uma luta pelo controlo das suas fontes, uma luta de contornos bárbaros e escabrosos - tanto ao nível político-militar como dos mercados financeiros; o certo é que estão a ressurgir projectos de produção de energia por cisão (ou fissão) nuclear, inclusive em Portugal; o certo também é que voltam a surgir as notícias sobre a produção de energia por fusão nuclear - esta, como se sabe, não apresentando os mesmos inconvenientes de radioactividade do processo de cisão nuclear. Notícias a surgirem oportunamente?
Portanto, um tema, dizíamos, que volta a estar na ordem do dia, o tema da produção de energia nuclear. E volta a estar em agenda, este tema, num ano de comemoração centenária da fórmula que Einstein, entre outras coisas - nunca é demais repeti-lo -, ensinou: E=mc2 - quer dizer, «que energia e massa, de algum modo, são a mesma coisa»(1). E que, em consequência, com o c da fórmula a ser a velocidade da luz, isto é, 300000 Km/s, um valor enorme, c2 é um valor enorme ao quadrado, enormíssimo; e que, portanto, quando desaparece uma massa m, por pequeno que seja o valor dessa massa - por exemplo, da ordem de grandeza das massas dos núcleos atómicos -, o valor da energia E «libertada» correspondente é sempre comparavelmente imenso.
Com efeito, sabe-se que, tanto a fusão nuclear - a agregação de núcleos atómicos em núcleos mais pesados - como a cisão nuclear - a separação de núcleos atómicos em núcleos mais leves -, são processos libertadores de energia e por isso, também, processos perdedores de massa. Isto é, a massa total dos «produtos» de processos de fusão/cisão nucleares é menor que a massa total dos «reagentes», o que contradiz a lei de conservação da massa de Lavoisier! Mas, entrando-se nas contas destes balanços com os valores da energia libertada, e com a fórmula de Einstein, E=mc2, chega-se a um resultado que «generaliza» as conclusões da lei de Lavoisier (bem como se pode concluir de modo semelhante para a lei da conservação da energia).
O processo de cisão nuclear tem sido largamente utilizado desde meados do século XX, a começar pela destruição de Hiroshima e Nagasaki pelas bombas atómicas lançadas pela Força Aérea Norte-Americana há 60 anos. Depois, para além dos submarinos nucleares, tem sido a sua utilização para a produção de electricidade em grande número de países. Nalguns passou a ocupar um lugar principal na produção de energia, acima de todos em França. Mas acidentes maiores e menores com centrais nucleares, sobretudo o de Chernobil, os perigos que a radioactividade representa, os receios que desencadeia, acabaram por proscrever a produção de energia [por cisão] nuclear das mentes de muitos, e das decisões políticas.
Perante este cenário, o processo da fusão nuclear parece poder vir a constituir-se - segundo os seus qualificados defensores - como um ouro sobre azul para o futuro energético da Humanidade. Com efeito, é produção de energia sem prejuízo para o efeito de estufa, sem problemas de radioactividade, sem problemas de esgotamento de recursos - portanto, dando inclusive esperanças de amortecimento dos dramas criados em torno do controlo do petróleo -, e ainda, possivelmente, tal como os entusiastas da fusão nuclear o declaram, a possibilidade de energia barata. Óptimas notícias, que não são muito novas - estão de volta mais uma vez -, para todos os povos do planeta Terra.
Bem, a ver se vai se tais anseios se cumprirão, se será possível replicar na Terra os processos de fusão nuclear próprios do Sol.
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(1) «Einstein…Albert Einstein», Jorge Dias de Deus, Teresa Peña, pág 87. Lisboa: Gradiva, 2005.


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