O Ano Internacional do Desporto e da Educação Física e o Governo…

Francisco Silva
Ano Internacional do Desporto e da Educação Física. Além disso, com um primeiro-ministro que já foi responsável pela área do Desporto, para além do mero mas importante sistema futebolístico, sempre pensei que o ano de 2005 fosse um grande ano para esta área. E as minhas expectativas talvez não estivessem a ficar goradas… afinal, a ser verdade, uma das primeiras medidas do primeiro-ministro até foi a instalação de um ginásio no seu local de trabalho. Tudo a condizer com o Seu Alto Patrocínio (e eu, que também sou engenheiro, a ficar cada vez mais orgulhoso com o meu ilustre colega).
Por outro lado, que é, afinal, ainda o mesmo lado, o Governo que temos, e a força política que propôs o programa de Governo, afirmou como sua orientação estratégica a do Plano Tecnológico; isto é, a Ciência & Tecnologia, a questão do entrosamento do conhecimento com o saber fazer, um sine qua non da produtividade em sentido amplo, enfim, uma recusa dum saber livresco que é pecha das nossas elites. Prolongando este raciocínio, pensei que, fazendo parte do mesmo Governo, a ministra da Educação também devia estar na mesma onda.
O Governo quereria aproveitar - assim julguei - o Ano Internacional do Desporto e da Educação Física para, pugnando pela sua parte, elevar a Educação Física nas Escolas e o Desporto Escolar a um grande exemplo dinamizador. Em ambiente de Plano Tecnológico, em ambiente de libertação de sinergias, de faíscas, entre aquisição de conhecimento e saber fazer, de incentivo à Inovação, de ligação entre a Universidade e Empresas, que neste caso são as Escolas - não é o ministro da Economia que pretende colocar graduados universitários nas Empresas pagando os seus salários? -, a ministra iria, mais do que de certeza, não só manter o regime de estágios pedagógicos, como elevá-los a prodigioso exemplo. Então, os estágios da área da Educação Física e Desporto, esses, seriam, aproveitando a comemoração da ONU e o serem por natureza mais facilmente visíveis para o público, esses, dizia, iriam constituir-se como um aríete de todo o processo. A habilidade política e inteligência brilhante, de mãos dadas, a funcionarem.

Desportista de bancada

Mas chegou aí a surpresa - talvez por incompreensão minha, mas também dos outros que vou ouvindo. Na Comunicação Social pouco aparece de crítica e alertas, porque como escrevia Sérgio Figueiredo em www.negocios.pt , os jornalistas têm procurado proteger este Governo, mas algo lá vai aparecendo.
E a surpresa, mais uma, porque tudo vai parecendo ser feito ao invés do prometido pelo eng. Sócrates, foi a medida que «os estágios assumem a modalidade de prática pedagógica supervisionada [?], pelo que não dão lugar à atribuição de Turma aos alunos estagiários e não conferem direito a qualquer retribuição». Quer dizer, em vez do combate ao estilo livresco, em vez de uma solução que permita aos estagiários crescerem para serem os professores de qualidade que deveriam ser, com uma turma e alunos a cargo durante o ano lectivo, orientados, claro, pela Escola e pela Universidade, o governo recua e prefere uma solução tipo «desportista de bancada» durante o estágio - por muito que venham a dizer que não é bem assim -, termo, aliás, que, no caso dos professores de Educação Física e Desportos, parece assentar que nem uma luva. Depois os professores serão deitados aos bichos - passe o termo - e lá continuarão a ser o inimigo público n.º1. Um governo talvez influenciado pelo modelo do espectáculo futebolístico.
Poupa o Governo o dinheiro. Os que seriam estagiários por um ano continuam a pagar as suas propinas por mais um ano lectivo. Receberão as notas finais de estágio porque as aparências têm de ser mantidas. A antiga paixão já lá vai, reforçado o lá ir com o mote que a antiga ministra da Educação, Manuela Ferreira Leite, deu quando ministra das Finanças. Agora os governantes estão é obcecados a cortar todos os raminhos das árvores da floresta a ver se baixam algum centésimo no défice. Até quando?
As consequências de tal zelo quem as mede? No caso da Educação Física e Desporto, usual parente pobre por não ser «intelectual» como o Português ou a Matemática, ainda menos se importam. Exercício e Saúde - porque não vão antes ao médico e tomam remédios para se curar. Os meninos estão obesos, mas que fazer se não têm jeito para a ginástica. Coitados, a perderem tempo de estudo e, afinal de contas, eles até seguem o desporto, só é pena estarem no defeso, sem futebol na televisão. Para não chatearem…


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