Tratado constitucional

O «não» alastra na Europa

A cerca de um mês do referendo sobre a «constituição» europeia em França, o campo do «não» mantém-se à frente, enquanto na Holanda, pela primeira vez, as sondagens colocam o «sim» em minoria.

Depois da França, o «não» lidera as intenções de voto na Holanda

Desde meados de Março que a intenção de rejeitar o projecto constitucional parece ter-se instalado solidamente na maioria da opinião pública francesa. As 22 sondagens insistentemente realizadas em cerca de mês e meio concluem, sem excepção, que o «não» irá prevalecer na consulta do próximo dia 29 de Maio.
Do lado do «sim», o nervosismo aumenta entre os chefes de Estado e de Governo e a própria Comissão Europeia dá sinais de «inquietação». Antigos governantes, como o socialista Lionel Jospin, viram-se forçados a entrar activamente na campanha do «sim», dignatários estrangeiros, como Jorge Sampaio ou Gerhard Schroeder, não hesitam em interferir nos assuntos internos, lançando apelos ao eleitorado durante visitas de Estado.
O Comissário do Comércio já fala de «caos»: «Em caso de “não” a Europa estagnará. Na pior das hipóteses, será o caos», declarou o britânico Peter Mandelson, deixando claro que «os mercados europeus não gostam da incerteza».
Mas o aumento das pressões sobre os franceses não produziu até agora os efeitos desejados. As últimas sondagens revelam que o «não» continua ganhar adeptos e esta onda de rejeição ameaça transbordar as fronteiras gaulesas.
Na sexta-feira, dia 22, o «não» ultrapassava a barreira dos 60 por cento, conquistando 62,3 por cento das intenções de voto. Apenas 38 por cento seriam favoráveis ao «sim».
Esta sondagem, realizada pela empresa Market Tools para o jornal francês Metro, confirmou a tendência já demonstrada por um estudo de opinião BVA/L’Express, divulgado na véspera, que dava 58 por cento a favor do «não». Este último inquérito apontou um aumento do «não» de cinco por cento em comparação com o estudo realizado pela mesma entidade nos dias 18 e 19 de Abril.
No eleitorado da esquerda parlamentar, esta evolução é mais acentuada (+ 7%), totalizando 66 por cento pelo «não». Entre os simpatizantes do PS, a percentagem de «não» sobe para 62 por cento (+5%).

Nova tendência
na Holanda


A julgar pelos resultados das últimas sondagens, o «não» poderá também sair vencedor no referendo marcado para 1 de Junho na Holanda.
No sábado, a estação pública holandesa de televisão, NOS, divulgava os resultados de uma sondagem realizada pelo Instituto Maurice de Hond através da Internet, anunciando uma reviravolta nas intenções de voto. No universo dos inquiridos, apenas 32 por cento expressaram a intenção de votar. Destes, 52 por cento optam pelo «não» e 48 por cento pelo «sim».
Entretanto, na segunda-feira, um novo inquérito efectuado junto de 7.500 internautas no site do organismo independente, Institute for Public and Politics, indicava uma acentuada subida do «não» para 58,2 por cento, contra 41,8 por cento de respostas favoráveis.
Estes resultados surpreenderam já que duas sondagens anteriores, encomendadas pelo governo holandês, atribuíam a vitória ao «sim». Em 16 de Março, 76 por cento dos inquiridos declaravam-se certos ou quase certos de que iriam votar e, de entre estes, 44 por cento pretendiam votar «sim» e 23 por cento «não». Um mês depois, em 19 de Abril, outro estudo do governo confirmava uma maioria relativa de «sim» (39 %), dando conta de um aumento do «não» (30%), mantendo-se uma forte percentagem de indecisos (30%).
Apesar de referendo na Holanda não ter carácter vinculativo, as duas principais formações políticas do país, o Partido Democrata-Cristão (CDA, no poder) e o Partido Trabalhista (PvdA), declararam que terão em conta o resultado da consulta desde que a participação ultrapasse os 30 por cento.


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