Sementes de Liberdade e Revolução
Em tempos difíceis para os ideais e conquistas do 25 de Abril, os trabalhadores, a juventude, os reformados e muitos outros sectores da população, mostraram mais uma vez a sua disposição para cumprir Abril, que continua vivo e move muitos milhares de pessoas em todo o País.
Foram muitos milhares a demonstrar a sua determinação em cumprir Abril
«Já murcharam tua festa, pá, mas certamente se esqueceram uma semente nalgum canto de jardim», cantou o compositor e intérprete brasileiro Chico Buarque, na segunda versão de «Tanto Mar», uma canção acerca da Revolução portuguesa. Esta letra foi escrita já depois do início da ofensiva contra-revolucionária em Portugal.
Mas, se dúvidas ainda subsistiam, as comemorações deste ano voltaram a dissipá-las e provaram mais uma vez que o poeta brasileiro tem razão: Se, por um lado, a forte ofensiva do capital e das forças políticas a ele ligadas murcharam parte da «festa da Liberdade», a Revolução de Abril, por outro, as comemorações mostraram que as tais sementes «esquecidas» existem. E que são muitas, dispostas a continuar e a cumprir Abril, contra aqueles que querem continuar a desferir ataques contra as suas múltiplas e profundas conquistas. E alguns estiveram mesmo presentes nas diversas comemorações, fazendo lembrar o refrão de uma outra canção: «Cravo vermelho ao peito a todos fica bem, sobretudo dá jeito a certos filhos da mãe…»
Mas era esmagadora a maioria dos que festejavam Abril, as suas conquistas, a sua actualidade e o seu projecto de futuro e que, sincera e generosamente, tudo farão para que se cumpra por completo. Numa coisa o poeta e cantor brasileiro não acertou: não é a alecrim que cheira a grande festa da Liberdade, mas a cravos, rubros, que milhares empunharam nas comemorações e que não deixarão que murchem.
Abril está vivo!
Para além dos muitos milhares de iniciativas comemorativas realizadas um pouco por todo o País – palestras, debates, concertos, fogo de artifício e muitas outras – as duas maiores acções de massas, em Lisboa e no Porto, mostraram que Abril continua vivo, por cumprir, e que muitos há dispostos a lutar para que as causas da Revolução se cumpra.
Esta foi mesmo a grande reivindicação do dia, expressa por muitos milhares de pessoas que participaram nos desfiles de Lisboa e do Porto. «Abril avança se houver mudança!» foi, aliás, uma das palavras de ordem mais ouvidas no desfile de Lisboa. A continuar, seja com quem for, a mesma política até aqui realizada, Abril estará mais longe de cumprir o seu ideal.
A delegação do PCP, saudada por muitas pessoas que, como é habito, não desfilam e ladeiam a manifestação, de cravo ao peito e punho fechado, era encabeçada pelo secretário-geral, Jerónimo de Sousa, e dela faziam parte outros dirigentes comunistas, bem como os cabeças de lista da CDU à autarquia da capital, Ruben de Carvalho e António Modesto Navarro. No Porto, Sérgio Teixeira, da Comissão Política, integrou a delegação do PCP. Em ambos os desfiles, e para além das delegações «oficiais», os comunistas eram mais do que muitos, desfilando junto com os restantes membros das associações ou instituições de que fazem parte.
Não deixar fechar as portas
Foram muitas as portas que Abril abriu. Portas de liberdade, de paz, de esperança – alcançada, em parte – numa vida melhor. Todas estas causas, e muitas outras, desceram, do Marquês de Pombal ao Rossio, a avenida que tem nome que é sinónimo de Abril. Portas essas abertas pelos militares, escancaradas pelo povo nas ruas, há 31 anos atrás, e defendidas, hoje, por muitos que nasceram depois dessa madrugada libertadora e dos dias, meses e anos que se lhe seguiram.
E lá estavam eles, de cravo bem vermelho na mão, a exigir a educação pública, gratuita e de qualidade, bem como a estabilidade no emprego – duas conquistas de Abril seriamente ameaçadas por sucessivos governos desde há largos anos. Em grande destaque estavam os jovens comunistas e os camaradas e companheiros de todos os continentes que participaram, durante o fim-de-semana, na reunião do Comité Internacional Preparatório do XVI Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, a realizar em Agosto em Caracas – ponto alto da luta anti-imperialista e da solidariedade entre os povos, outras das vertentes essenciais consagradas no texto constitucional de 1976, nascido da Revolução, o mais avançado da Europa ocidental e uma das mais progressistas do mundo.
A paz e a solidariedade com os povos do mundo esteve também em destaque. A causa da paz foi levada à avenida não só por intermédio da Associação de Amizade Portugal-Cuba ou do CPPC – e dos seus núcleos locais – mas um pouco por todos os sectores representados.
Causas de futuro
Já os sindicatos, Comissões de Trabalhadores e delegações de várias empresas puseram a tónica no combate ao desemprego e à precariedade e na revogação urgente do Pacote Laboral, nomeadamente de algumas das suas medidas mais gravosas (como, aliás, o PCP exige num projecto de lei já apresentado). Postas em causa estão, entre muitas outras, conquistas de Abril tão importantes como o direito à greve ou à contratação colectiva, duramente ameaçadas pelo Código do Trabalho.
Também as autarquias, câmaras municipais e juntas de freguesia, elas próprias fruto da Revolução, estiveram presentes, prometendo não deixar morrer a Revolução e os seus ideais e causas, e continuar o trabalho feito para fazer de cada dia um novo Abril. A Junta de Freguesia da Ajuda levou inclusivamente dezenas de crianças que entoavam «os jovens querem melhor Educação, fechar as escolas não é solução», referindo-se a um problema concreto e real, sentido em muitas zonas do País e, nomeadamente, da capital. O combate ao racismo, a inserção de imigrantes, a igualdade entre homens e mulheres e a despenalização do aborto foram outras das causas que desfilaram avenida abaixo.
Foi destas e de outras causas – e das lutas travadas em seu nome – que nasceu o Portugal livre e democrático. E será também com elas que este se defenderá e que, tarde ou cedo, Abril se cumprirá!
Mas, se dúvidas ainda subsistiam, as comemorações deste ano voltaram a dissipá-las e provaram mais uma vez que o poeta brasileiro tem razão: Se, por um lado, a forte ofensiva do capital e das forças políticas a ele ligadas murcharam parte da «festa da Liberdade», a Revolução de Abril, por outro, as comemorações mostraram que as tais sementes «esquecidas» existem. E que são muitas, dispostas a continuar e a cumprir Abril, contra aqueles que querem continuar a desferir ataques contra as suas múltiplas e profundas conquistas. E alguns estiveram mesmo presentes nas diversas comemorações, fazendo lembrar o refrão de uma outra canção: «Cravo vermelho ao peito a todos fica bem, sobretudo dá jeito a certos filhos da mãe…»
Mas era esmagadora a maioria dos que festejavam Abril, as suas conquistas, a sua actualidade e o seu projecto de futuro e que, sincera e generosamente, tudo farão para que se cumpra por completo. Numa coisa o poeta e cantor brasileiro não acertou: não é a alecrim que cheira a grande festa da Liberdade, mas a cravos, rubros, que milhares empunharam nas comemorações e que não deixarão que murchem.
Abril está vivo!
Para além dos muitos milhares de iniciativas comemorativas realizadas um pouco por todo o País – palestras, debates, concertos, fogo de artifício e muitas outras – as duas maiores acções de massas, em Lisboa e no Porto, mostraram que Abril continua vivo, por cumprir, e que muitos há dispostos a lutar para que as causas da Revolução se cumpra.
Esta foi mesmo a grande reivindicação do dia, expressa por muitos milhares de pessoas que participaram nos desfiles de Lisboa e do Porto. «Abril avança se houver mudança!» foi, aliás, uma das palavras de ordem mais ouvidas no desfile de Lisboa. A continuar, seja com quem for, a mesma política até aqui realizada, Abril estará mais longe de cumprir o seu ideal.
A delegação do PCP, saudada por muitas pessoas que, como é habito, não desfilam e ladeiam a manifestação, de cravo ao peito e punho fechado, era encabeçada pelo secretário-geral, Jerónimo de Sousa, e dela faziam parte outros dirigentes comunistas, bem como os cabeças de lista da CDU à autarquia da capital, Ruben de Carvalho e António Modesto Navarro. No Porto, Sérgio Teixeira, da Comissão Política, integrou a delegação do PCP. Em ambos os desfiles, e para além das delegações «oficiais», os comunistas eram mais do que muitos, desfilando junto com os restantes membros das associações ou instituições de que fazem parte.
Não deixar fechar as portas
Foram muitas as portas que Abril abriu. Portas de liberdade, de paz, de esperança – alcançada, em parte – numa vida melhor. Todas estas causas, e muitas outras, desceram, do Marquês de Pombal ao Rossio, a avenida que tem nome que é sinónimo de Abril. Portas essas abertas pelos militares, escancaradas pelo povo nas ruas, há 31 anos atrás, e defendidas, hoje, por muitos que nasceram depois dessa madrugada libertadora e dos dias, meses e anos que se lhe seguiram.
E lá estavam eles, de cravo bem vermelho na mão, a exigir a educação pública, gratuita e de qualidade, bem como a estabilidade no emprego – duas conquistas de Abril seriamente ameaçadas por sucessivos governos desde há largos anos. Em grande destaque estavam os jovens comunistas e os camaradas e companheiros de todos os continentes que participaram, durante o fim-de-semana, na reunião do Comité Internacional Preparatório do XVI Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, a realizar em Agosto em Caracas – ponto alto da luta anti-imperialista e da solidariedade entre os povos, outras das vertentes essenciais consagradas no texto constitucional de 1976, nascido da Revolução, o mais avançado da Europa ocidental e uma das mais progressistas do mundo.
A paz e a solidariedade com os povos do mundo esteve também em destaque. A causa da paz foi levada à avenida não só por intermédio da Associação de Amizade Portugal-Cuba ou do CPPC – e dos seus núcleos locais – mas um pouco por todos os sectores representados.
Causas de futuro
Já os sindicatos, Comissões de Trabalhadores e delegações de várias empresas puseram a tónica no combate ao desemprego e à precariedade e na revogação urgente do Pacote Laboral, nomeadamente de algumas das suas medidas mais gravosas (como, aliás, o PCP exige num projecto de lei já apresentado). Postas em causa estão, entre muitas outras, conquistas de Abril tão importantes como o direito à greve ou à contratação colectiva, duramente ameaçadas pelo Código do Trabalho.
Também as autarquias, câmaras municipais e juntas de freguesia, elas próprias fruto da Revolução, estiveram presentes, prometendo não deixar morrer a Revolução e os seus ideais e causas, e continuar o trabalho feito para fazer de cada dia um novo Abril. A Junta de Freguesia da Ajuda levou inclusivamente dezenas de crianças que entoavam «os jovens querem melhor Educação, fechar as escolas não é solução», referindo-se a um problema concreto e real, sentido em muitas zonas do País e, nomeadamente, da capital. O combate ao racismo, a inserção de imigrantes, a igualdade entre homens e mulheres e a despenalização do aborto foram outras das causas que desfilaram avenida abaixo.
Foi destas e de outras causas – e das lutas travadas em seu nome – que nasceu o Portugal livre e democrático. E será também com elas que este se defenderá e que, tarde ou cedo, Abril se cumprirá!