Duas caras dos Estados Unidos
John (War) Bush tem novo representante diplomático nas Nações Unidas. Trata-se de John Bolton. Dito assim, talvez não signifique muito, mas vejamos «o que» está por detrás deste crítico pertinaz dos organismos multinacionais.
Para o New York Times [1] é simplesmente «uma escolha terrível num momento crítico». Primeiro que nada, estamos perante um diplomata convencido de que todas as questões internacionais se resolvem facilmente: basta que os Estados Unidos debatam com... os Estados Unidos.
A sua opinião sobre a ONU não deixa dúvidas: «Se tivéssemos que refazer o Conselho de Segurança hoje, eu teria um só membro permanente porque é isso que hoje reflecte realmente a distribuição do poder no mundo» [2]. Reperguntado pelo entrevistador, Bolton esclareceu, com todas as letras do alfabeto, que esse membro seria os Estados Unidos.
Sobre os compromissos do seu país com a ONU também tem ideias claras. Numa coluna do Wall Street Journal (1997) escreveu que os EUA não estão legalmente obrigados a pagar os seus compromissos com a organização. «Os tratados são ‘lei’ só para os propósitos internos dos Estados Unidos». Quando se refere a «operações internacionais, os tratados não são mais do que obrigações políticas».
Quanto ao Tribunal Internacional de Justiça: Justiça? O que será isso?, parece perguntar-se John Bolton. Estávamos em 2000 quando, numa reunião com a Comissão de Assuntos Internacionais do Congresso, espantou os assistentes com a afirmação de que o TIJ era um «ideal abstracto de um sistema internacional de justiça não apoiado por nenhuma evidência significativa e que ia contra os princípios mais sólidos da solução de crises internacionais».
Bolton também tem ideias sobre a China. O colosso do Oriente, que todos – incluindo a CIA – vêem como um concorrente formidável dentro de poucas décadas, não é problema para ele. Muito menos o é Taiwan, um tema tão sensível para a China, lembra o NYT, que pelo mesmo já ameaçou começar uma guerra. Num artigo publicado em The Weekly Standard, Bolton adianta como faria: «O reconhecimento diplomático de Taiwan é precisamente o tipo de liderança que necessitam os Estados Unidos (...) A ideia de que a China responda com a força é uma fantasia...».
No mesmo ano de 1999, o homem disse a The Angeles Times que uma política mais sólida dos EUA deveria «deixar claro à Coreia do Norte que nos é indiferente se temos ou não relações diplomáticas ‘normais’ com eles e que isso é totalmente do seu interesse, não de nosso».
Com um certo humor negro, mais britânico do que norte-americano, o NYT termina concluindo que John Bolton «fará, sem dúvida, um excelente trabalho dando continuação à charmosa ofensiva da administração Bush contra o resto do mundo».
O mundo que se cuide.
A nossa esperança é a ruína dos EUA
Com 50 romances e ensaios às costas, Vidal Gore, já a caminho dos 80, é uma das vozes mais lúcidas do país de Walt Whitman. Claro, vive há mais de 30 anos na
Europa, ainda que seja de família abastada e até primo de Al Gore, o mesmo que
foi roubado nas presidenciais de 2000.
Numa entrevista ao Jornada [3], um pouco antes das eleições de 2004, afirmou que Bush controlava todos os meios de comunicação. «A CNN, disse, é uma tribuna da Casa Branca, o Washington Post, o New York Times, todos apoiam a política de
Bush no Iraque (...) A ‘guerra preventiva’ é um conceito fascista, mencionado pela primeira vez em 1949. Para alguém que acredite na democracia, a política de confrontação do governo dos Estados Unidos é um horror».
Ao longo dos anos, lembra, os «Estados Unidos cometeram muito erros. Lançaram uma guerra contra o México para se apropriar da Califórnia. Nas Filipinas, matámos 200 mil pessoas com o pretexto de libertar o seu território da Espanha. Fizemos coisas terríveis, mas o que tem feito este pequeno presidente empalidece tudo o que foi feito antes».
Quando a maldade se une à ignorância, a situação agrava-se. «Já tivemos muitos presidente bobos, mas Bush nem sequer sabe ler bem. Apenas pode pronunciar um discurso que chame à guerra. Não consegue discernir claramente nenhum pensamento, muito menos formulá-lo. Pelo menos nisto é representativo. Muitos estudantes norte-americanos não sabem ler.»
Será que ainda fica alguma esperança? Gore Vidal é um tanto céptico. «A única esperança seria que os Estados Unidos caíssem na falência. Ao nosso país também se lhe acaba o dinheiro. Aposto que, dentro de um ano, estaremos tão falidos que já não poderemos pagar os impostos para compensar o nosso défice orçamental».
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[1] Editorial de 9 de Março de 2005.
[2] Entrevista a Juan Williams.
[3] Publicação mexicana
Para o New York Times [1] é simplesmente «uma escolha terrível num momento crítico». Primeiro que nada, estamos perante um diplomata convencido de que todas as questões internacionais se resolvem facilmente: basta que os Estados Unidos debatam com... os Estados Unidos.
A sua opinião sobre a ONU não deixa dúvidas: «Se tivéssemos que refazer o Conselho de Segurança hoje, eu teria um só membro permanente porque é isso que hoje reflecte realmente a distribuição do poder no mundo» [2]. Reperguntado pelo entrevistador, Bolton esclareceu, com todas as letras do alfabeto, que esse membro seria os Estados Unidos.
Sobre os compromissos do seu país com a ONU também tem ideias claras. Numa coluna do Wall Street Journal (1997) escreveu que os EUA não estão legalmente obrigados a pagar os seus compromissos com a organização. «Os tratados são ‘lei’ só para os propósitos internos dos Estados Unidos». Quando se refere a «operações internacionais, os tratados não são mais do que obrigações políticas».
Quanto ao Tribunal Internacional de Justiça: Justiça? O que será isso?, parece perguntar-se John Bolton. Estávamos em 2000 quando, numa reunião com a Comissão de Assuntos Internacionais do Congresso, espantou os assistentes com a afirmação de que o TIJ era um «ideal abstracto de um sistema internacional de justiça não apoiado por nenhuma evidência significativa e que ia contra os princípios mais sólidos da solução de crises internacionais».
Bolton também tem ideias sobre a China. O colosso do Oriente, que todos – incluindo a CIA – vêem como um concorrente formidável dentro de poucas décadas, não é problema para ele. Muito menos o é Taiwan, um tema tão sensível para a China, lembra o NYT, que pelo mesmo já ameaçou começar uma guerra. Num artigo publicado em The Weekly Standard, Bolton adianta como faria: «O reconhecimento diplomático de Taiwan é precisamente o tipo de liderança que necessitam os Estados Unidos (...) A ideia de que a China responda com a força é uma fantasia...».
No mesmo ano de 1999, o homem disse a The Angeles Times que uma política mais sólida dos EUA deveria «deixar claro à Coreia do Norte que nos é indiferente se temos ou não relações diplomáticas ‘normais’ com eles e que isso é totalmente do seu interesse, não de nosso».
Com um certo humor negro, mais britânico do que norte-americano, o NYT termina concluindo que John Bolton «fará, sem dúvida, um excelente trabalho dando continuação à charmosa ofensiva da administração Bush contra o resto do mundo».
O mundo que se cuide.
A nossa esperança é a ruína dos EUA
Com 50 romances e ensaios às costas, Vidal Gore, já a caminho dos 80, é uma das vozes mais lúcidas do país de Walt Whitman. Claro, vive há mais de 30 anos na
Europa, ainda que seja de família abastada e até primo de Al Gore, o mesmo que
foi roubado nas presidenciais de 2000.
Numa entrevista ao Jornada [3], um pouco antes das eleições de 2004, afirmou que Bush controlava todos os meios de comunicação. «A CNN, disse, é uma tribuna da Casa Branca, o Washington Post, o New York Times, todos apoiam a política de
Bush no Iraque (...) A ‘guerra preventiva’ é um conceito fascista, mencionado pela primeira vez em 1949. Para alguém que acredite na democracia, a política de confrontação do governo dos Estados Unidos é um horror».
Ao longo dos anos, lembra, os «Estados Unidos cometeram muito erros. Lançaram uma guerra contra o México para se apropriar da Califórnia. Nas Filipinas, matámos 200 mil pessoas com o pretexto de libertar o seu território da Espanha. Fizemos coisas terríveis, mas o que tem feito este pequeno presidente empalidece tudo o que foi feito antes».
Quando a maldade se une à ignorância, a situação agrava-se. «Já tivemos muitos presidente bobos, mas Bush nem sequer sabe ler bem. Apenas pode pronunciar um discurso que chame à guerra. Não consegue discernir claramente nenhum pensamento, muito menos formulá-lo. Pelo menos nisto é representativo. Muitos estudantes norte-americanos não sabem ler.»
Será que ainda fica alguma esperança? Gore Vidal é um tanto céptico. «A única esperança seria que os Estados Unidos caíssem na falência. Ao nosso país também se lhe acaba o dinheiro. Aposto que, dentro de um ano, estaremos tão falidos que já não poderemos pagar os impostos para compensar o nosso défice orçamental».
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[1] Editorial de 9 de Março de 2005.
[2] Entrevista a Juan Williams.
[3] Publicação mexicana