Líderes: os quatro mais um
Como bem se sabe, os mais recentes dias televisivos têm sido dominados pela campanha eleitoral e, nesse quadro, pelos chamados líderes dos diferentes partidos. Entre eles há os que, digamos, têm perfil de vedetas e vocação para o serem, e os outros, os que nem por isso. Por exemplo, o engenheiro Sócrates tem méritos para triunfar no visual (boa figura, cabelos discretamente grisalhos, fatos de impecável corte) mas é pouco menos que uma desgraça no áudio: um tom de voz enfático que já não se usa, um discurso com casca de generalidades e sem miolo nenhum. O doutor Portas é aquilo que se ouve e vê: na sequência de anteriores comportamentos, promete tudo a toda a gente com a serena confiança de que nunca terá condições para dar seja o que for. Reconheça-se-lhe porém que a sua actuação tem muito de popularmente tradicional na justa medida em que recorda, embora involuntariamente, um velho ditado que ensina que um certo tipo de pessoas tem todo o mundo como seu. O doutor Santana também ostenta um perfil muito português mas num certo ângulo: emocional, lírico, desamado por adversários e atraiçoado por companheiros, sentindo-se injustiçado até ao tutano, é uma figura verdadeiramente dramática a que a rouquidão gripal confere um som de tragédia. Acrescente-se que de algum modo veio em seu socorro o próprio Céu, pois que o falecimento da Irmã Lúcia lhe proporcionou um providencial repouso vocal de dois dias para além de outros eventuais benefícios. Quando a Jerónimo de Sousa é o que se sabe e os próprios adversários têm reconhecido com uma abundância até surpreendente: a figura operária e autêntica, perfeitamente coerente com o partido de base operária a que pertence. É mesmo praticamente certo que os media já lhe perdoaram o pecadilho de saber dançar e gostar de fazer uso dessa sabença, talvez porque entretanto surgiu nos ecrãs a distinta e ministerial figura do doutor Portas numa de bailariquice popular, óbvia afirmação de que o senhor ministro está praticamente por tudo para continuar a ser ministro e, se possível, prosseguir no percurso que desembocará ou não na liderança de uma espécie de união nupcial do PP com o PSD.
Empatia e dois deslizes
Neste breve e muito sumário inventário dos líderes partidários falta até agora, como se notará, o dr. Francisco Louça, e não por acaso: é que quanto a ele parece oportuno ajuntar uma específica observação. Seria inútil repetir o óbvio: que Francisco Louçã tem grandes capacidades para a comunicação pela TV: poder de rápido estabelecimento de empatia, grande vocação para encontrar fórmulas verbais sintéticas e de grande impacto, um ar juvenil que excede a própria realidade dos anos já vividos, sabedoria para encontrar a meia-dúzia de temas em que pode brilhar e porventura convencer. Se a isto se acrescentar, como é justo, a invencível ternura que desde há muito os media têm evidenciado por ele, pelo seu partido, teremos um total de trunfos que explicam muita coisa, se não quase tudo.
Contudo, acontece que o dr. Louçã tem tido recentemente deslizes que não lhe eram frequentes. Um deles, e o que mais deu nas vistas, foi o de ter disparado contra o dr. Portas uma insinuação acerca de características que o senhor ministro terá ou não, isso é lá com ele e ninguém tem nada com isso. Um outro deslize foi mais recente, e o registo dele cabe bem nesta coluna. Foi o caso que, em breve entrevista, lhe foi perguntado o que pensava acerca da afirmação de que o BE pilhava (este termo é meu, não de mais ninguém) e usava como novas algumas causas que há muito o são do Partido Comunista. Quem o dissera havia sido Jerónimo de Sousa, embora o mesmo pudesse ter sido dito por muitas outras vozes por ser um facto público e notório. Ora, em resposta, não achou o dr. Francisco Louça melhor argumento que, lembrando que tanto Jerónimo de Sousa como ele próprio são deputados à Assembleia da República, perguntar de quem se lembrarão mais os portugueses, uma vez que ambos têm igual possibilidade de intervir no Parlamento e de aí apresentar trabalho. Dado que o PCP tem quatro vezes mais deputados que o Bloco, o que para esta formação torna obviamente mais frequente a intervenção de cada deputado, o convite ao confronto proposto por Louçã já não era exageradamente honesto. O pior, porém, é o que toda a gente sabe: que desde há muito os grandes media evidenciam um enorme, curioso e na verdade suspeito carinho pelo BE e por Francisco Louçã; que, sabendo embora de onde sopram os ventos que orientam a navegação de tais media, nunca Louçã fez sequer menção de rejeitar os favores. É isso cousa que convenha lembrar em plena campanha eleitoral?
Empatia e dois deslizes
Neste breve e muito sumário inventário dos líderes partidários falta até agora, como se notará, o dr. Francisco Louça, e não por acaso: é que quanto a ele parece oportuno ajuntar uma específica observação. Seria inútil repetir o óbvio: que Francisco Louçã tem grandes capacidades para a comunicação pela TV: poder de rápido estabelecimento de empatia, grande vocação para encontrar fórmulas verbais sintéticas e de grande impacto, um ar juvenil que excede a própria realidade dos anos já vividos, sabedoria para encontrar a meia-dúzia de temas em que pode brilhar e porventura convencer. Se a isto se acrescentar, como é justo, a invencível ternura que desde há muito os media têm evidenciado por ele, pelo seu partido, teremos um total de trunfos que explicam muita coisa, se não quase tudo.
Contudo, acontece que o dr. Louçã tem tido recentemente deslizes que não lhe eram frequentes. Um deles, e o que mais deu nas vistas, foi o de ter disparado contra o dr. Portas uma insinuação acerca de características que o senhor ministro terá ou não, isso é lá com ele e ninguém tem nada com isso. Um outro deslize foi mais recente, e o registo dele cabe bem nesta coluna. Foi o caso que, em breve entrevista, lhe foi perguntado o que pensava acerca da afirmação de que o BE pilhava (este termo é meu, não de mais ninguém) e usava como novas algumas causas que há muito o são do Partido Comunista. Quem o dissera havia sido Jerónimo de Sousa, embora o mesmo pudesse ter sido dito por muitas outras vozes por ser um facto público e notório. Ora, em resposta, não achou o dr. Francisco Louça melhor argumento que, lembrando que tanto Jerónimo de Sousa como ele próprio são deputados à Assembleia da República, perguntar de quem se lembrarão mais os portugueses, uma vez que ambos têm igual possibilidade de intervir no Parlamento e de aí apresentar trabalho. Dado que o PCP tem quatro vezes mais deputados que o Bloco, o que para esta formação torna obviamente mais frequente a intervenção de cada deputado, o convite ao confronto proposto por Louçã já não era exageradamente honesto. O pior, porém, é o que toda a gente sabe: que desde há muito os grandes media evidenciam um enorme, curioso e na verdade suspeito carinho pelo BE e por Francisco Louçã; que, sabendo embora de onde sopram os ventos que orientam a navegação de tais media, nunca Louçã fez sequer menção de rejeitar os favores. É isso cousa que convenha lembrar em plena campanha eleitoral?