Em memória de um democrata
Já lá vão umas três décadas que Abril irrompeu e muitas águas passaram entretanto sob as pontes dos rios. Em particular, muito mudou nas comunicações, que então se chamavam telecomunicações – uma designação moderna para a época –, mas onde pontificava – dominava – o serviço telefónico, acompanhado pelo telex. O «digital», a transmissão de dados, a comunicação de dados, para os mais avançados em purismos – ou, melhor dito, em pirismos tecnocráticos? -, já por aí andavam, mas ainda não tinham atingido as massas - ou, digamos, o público, para não ferir os ouvidos personalistas dos politicamente mais correctos?
Muito mudou desde esse tempo, mas também muitas coisas de mais permanente tom ficaram para durar… É sempre assim!
A liberalização do serviço telefónico fixo – como agora é chamado –, a privatização das operações dos sectores de telecomunicações, na sua maioria nas mãos dos CTTs dos diversos países, ainda teria de esperar um quarto de século para ver a luz do dia. E viu-a, com efeito, já de uma forma obsoleta – em atraso. Pois, o facto é, por exemplo a CEE/União Europeia, ter arrancado com o correspondente processo de liberalização/privatização – muito estimulada pelos anglo-saxónicos, isto é, os norte-americanos seguidos dos seus usuais fieis britânicos (forma de seguidismo que, dentro de pouco tempo começaremos a ver, com toda a naturalidade, em relação ao binómio Brasil/Portugal, não obstante o forte atractor que para o nosso país representa a União Europeia) –, a UE, dizíamos, lançou o processo lá por 1987 e iniciou a sua concretização já com o século XX a terminar. Ou seja, quando as comunicações móveis já tinham tomado a dianteira e a Internet já era o que se sabe. Por ora, procuram digerir uma situação que não descortinaram – ou seja, não o viram, os tecnocratas nacionais e europeus da regulação.
Mas adiante, agora (ou atrás?).
Abril alcançou-nos com um serviço telefónico acedido apenas por uma pequena parte da população. Mas Abril alcançou-nos também com um nível avançado de conhecimento científico e tecnológico na área das telecomunicações, um saber existente, em particular, no sector de telecomunicações dos CTT. De facto, existia nesses serviços não apenas um conjunto de quadros técnicos altamente qualificados e competentes – o que poderá parecer estranho, quando os seus engenheiros de telecomunicações eram continuamente drenados para fora da instituição devido às suas más condições de remuneração; mas era assim, e o dinheiro não será tudo. Existiam também as estruturas que eles conseguiram criar e animar: o grupo de I&D que, no essencial, deu origem à PT Inovação, em Aveiro; a engenharia dos serviços centrais que planeava, projectava e fazia implementar em conjunto com a engenharia das regiões e, ainda, uma forte organização de exploração/manutenção de todo o sistema. Um dos sucessos – sim, este um verdadeiro sucesso – foi o completar do processo de automatização da rede telefónica, não apenas antes da área dos TLP (uma empresa de capital britânico, resgatada pelo Estado no final dos anos 60), mas também antes de outros países europeus ocidentais.
Entre o grupo dos engenheiros de telecomunicações dos CTT, a parte de democratas constituía um sector importante. E entre eles o Eng. Cunha Serra, recentemente desaparecido, seria o mais destacado, não só em termos cívicos – ele era à data do 25 de Abril um Bastonário da Ordem dos Engenheiros que lutava, às claras, por colegas presos por razões políticas –, mas também em termos profissionais – pela mesma altura, ele era um dos dirigentes mais importantes das áreas técnicas, sendo ele quem superintendia tanto o sector de I&D como, a nível central, o planeamento, o projecto da automatização da rede telefónica, e a sua manutenção.
Abril chegou, no princípio de Maio aí estava ele no plenário dos CTT que encheu o Pavilhão Carlos Lopes. A certa altura, a Comissão Pró-Sindicato, que dirigia o plenário, apresentou o Eng. Cunha Serra para falar. Vaia gigantesca – era um engenheiro! Cunha Serra esperou que o plenário acalmasse e, dirigiu-se, com tranquilidade, aos colegas trabalhadores, começando: «Parabéns, mostram que estão vivos!»
Quando tanto se fala em produtividade e competitividade – e sem resultados palpáveis –, valeria a pena atentar no papel do Engenheiro e Democrata Cunha Serra há algumas décadas atrás, em particular na ligação entre a I&D empresarial e a produção avançada.
Muito mudou desde esse tempo, mas também muitas coisas de mais permanente tom ficaram para durar… É sempre assim!
A liberalização do serviço telefónico fixo – como agora é chamado –, a privatização das operações dos sectores de telecomunicações, na sua maioria nas mãos dos CTTs dos diversos países, ainda teria de esperar um quarto de século para ver a luz do dia. E viu-a, com efeito, já de uma forma obsoleta – em atraso. Pois, o facto é, por exemplo a CEE/União Europeia, ter arrancado com o correspondente processo de liberalização/privatização – muito estimulada pelos anglo-saxónicos, isto é, os norte-americanos seguidos dos seus usuais fieis britânicos (forma de seguidismo que, dentro de pouco tempo começaremos a ver, com toda a naturalidade, em relação ao binómio Brasil/Portugal, não obstante o forte atractor que para o nosso país representa a União Europeia) –, a UE, dizíamos, lançou o processo lá por 1987 e iniciou a sua concretização já com o século XX a terminar. Ou seja, quando as comunicações móveis já tinham tomado a dianteira e a Internet já era o que se sabe. Por ora, procuram digerir uma situação que não descortinaram – ou seja, não o viram, os tecnocratas nacionais e europeus da regulação.
Mas adiante, agora (ou atrás?).
Abril alcançou-nos com um serviço telefónico acedido apenas por uma pequena parte da população. Mas Abril alcançou-nos também com um nível avançado de conhecimento científico e tecnológico na área das telecomunicações, um saber existente, em particular, no sector de telecomunicações dos CTT. De facto, existia nesses serviços não apenas um conjunto de quadros técnicos altamente qualificados e competentes – o que poderá parecer estranho, quando os seus engenheiros de telecomunicações eram continuamente drenados para fora da instituição devido às suas más condições de remuneração; mas era assim, e o dinheiro não será tudo. Existiam também as estruturas que eles conseguiram criar e animar: o grupo de I&D que, no essencial, deu origem à PT Inovação, em Aveiro; a engenharia dos serviços centrais que planeava, projectava e fazia implementar em conjunto com a engenharia das regiões e, ainda, uma forte organização de exploração/manutenção de todo o sistema. Um dos sucessos – sim, este um verdadeiro sucesso – foi o completar do processo de automatização da rede telefónica, não apenas antes da área dos TLP (uma empresa de capital britânico, resgatada pelo Estado no final dos anos 60), mas também antes de outros países europeus ocidentais.
Entre o grupo dos engenheiros de telecomunicações dos CTT, a parte de democratas constituía um sector importante. E entre eles o Eng. Cunha Serra, recentemente desaparecido, seria o mais destacado, não só em termos cívicos – ele era à data do 25 de Abril um Bastonário da Ordem dos Engenheiros que lutava, às claras, por colegas presos por razões políticas –, mas também em termos profissionais – pela mesma altura, ele era um dos dirigentes mais importantes das áreas técnicas, sendo ele quem superintendia tanto o sector de I&D como, a nível central, o planeamento, o projecto da automatização da rede telefónica, e a sua manutenção.
Abril chegou, no princípio de Maio aí estava ele no plenário dos CTT que encheu o Pavilhão Carlos Lopes. A certa altura, a Comissão Pró-Sindicato, que dirigia o plenário, apresentou o Eng. Cunha Serra para falar. Vaia gigantesca – era um engenheiro! Cunha Serra esperou que o plenário acalmasse e, dirigiu-se, com tranquilidade, aos colegas trabalhadores, começando: «Parabéns, mostram que estão vivos!»
Quando tanto se fala em produtividade e competitividade – e sem resultados palpáveis –, valeria a pena atentar no papel do Engenheiro e Democrata Cunha Serra há algumas décadas atrás, em particular na ligação entre a I&D empresarial e a produção avançada.