«Glocalização»
Uma questão que a sociedade da informação (SI) levanta quando se procura adivinhar – a sua face de organização territorial é a da adequação futura dos espaços geográficos actuais, hoje sobredeterminados em boa medida pelas realidades dos estados-nação, tais como evoluíram até ao presente nomeadamente numa Europa em grande medida dedicada ao processo de integração regional da União Europeia. Um processo que, tem-se visto, acontece em simultâneo com outros que caminham em sentido contrário, como as consumadas desagregações da União Soviética, da Jugoslávia ou da Checoslováquia. Ou ainda em simultâneo com as aspirações e movimentos autonomistas ou abertamente independentistas que varrem a Europa, desde aqui ao lado na nossa vizinha Espanha até à Rússia, passando pelo próprio coração da UE, na Bélgica, atingindo o Reino Unido e mesmo um estado na aparência estável como é a França. E isto tudo para não falar dos que se tornam independentes como a Eslovénia para, de seguida entrarem para um espaço em integração como a UE. E, por esse mundo fora, é o mais que se sabe. As razões e as intenções podem ser e são diversas, mais transparentes ou mais obscuras, mas os factos têm sido estes, perante os quais, estou de acordo, se deve evitar os simplismos de análise e as constatações, sem mais, amalgamantes.
Estes movimentos e processos, a meu ver, só com alguma dose de insensatez, de ignorância ou de má fé, ou com uma adequada mistura destes ingredientes, podem ser atribuídos ou considerados como tendo sido influenciados pelos mecanismos da SI.
É certo que muitos analistas apontam para os efeitos da propaganda maciça apontada a leste baseada na utilização dos mais «sofisticados» meios de comunicação social electrónicos (TV, rádio). Mas indo por aí, talvez também devesse ser antecipado o papel da SI neste tipo de processos ao estabelecimento e consolidação dos regimes nazi-fascistas, bem como do seu expansionismo, na primeira metade do século XX e ao papel da rádio na divulgação das intervenções como as de Hitler e Mussolini!
É certo ainda que não acontecia a difusão dos computadores nas economias socialistas na prática dos anos 80 – não obstante a sua aplicação determinada em sectores de ponta como o aero-espacial –, isto numa altura em que começavam a constituir-se como um importante instrumento de aumentos de eficiência produtiva no Ocidente, a começar pelos EUA – e se esta novidade não se estava a mostrar relevante! Mas também, a bem dizer, estes não eram mais que primeiros sinais a avisar que algo de novo estava a acontecer (e Alvin Toffler já a referi-los!).
E claro, o Mercado Comum, e mais tarde a EU, tiveram (e têm) as suas explícitas e bem conhecidas razões económico-financeiras para acontecerem e se irem consolidado. Aliás, é de apenas há cerca de uma dezena de anos o documento da Comissão Europeia/Bangemann definindo e crismando a «Sociedade da Informação Europeia» (EIS - European Information Society). Já a Internet era o que era, mas ninguém lhe augurava a expansão que teve. O telemóvel europeu - o GSM - já era considerado um sucesso a ser replicado, documento «Bangemann» dixit.
Mas uma coisa que se entendeu desde logo foi o serem as novas possibilidades oferecidas pelas tecnologias que estão na base da SI, as tecnologias da informação e comunicação (TIC), serem estas, dizia, adaptadas a não conhecerem distâncias, fronteiras ou fusos horários. Portanto foi a vez de muitas «empresa virtuais» («virtuais» mas compostas por localizações muito concretas onde mais conviesse aos custos) verem a luz do dia. E não só para a produção de serviços de seguros ou de marcação de passagens aéreas, ou para investimentos mobiliários, mas também para análises médicas ou mesmo para bandeiras para apoiantes de futebol – a parte tangível, palpável, da transacção, transportada para/e de longe; os produtos sempre entregues da noite para o dia.
Enquanto que, não só as diferentes unidades de uma empresa são cada vez mais encontradas em antipódicos pontos do Globo, como essas localizações se caracterizam não apenas por custos de mão-de-obra baixos, porque isso será (?) só parte do jogo - e os nossos dirigentes deveriam entendê-lo -, e processos de produção eficientes, mas também - e é fundamental - por condições infra-estruturais, ambientais, culturais, de lazer, etc., excelentes, de qualidade de vida elevada, que consigam atrair a fixação. Daí o falar-se na emergência das áreas metropolitanas como pólos da organização futura do território… e não no «ruralismo».
Rectificação
Por um lamentável lapso, o texto publicado no número anterior, na secção Argumentos/Pelos, na página 20, intitulado O velho iraniano e a memória do mazdaquismo, vinha assinado por Francisco Silva. O seu autor é, na verdade, Miguel Urbano Rodrigues. A ambos os nossos colaboradores e aos leitores apresentamos as nossas desculpas.
Estes movimentos e processos, a meu ver, só com alguma dose de insensatez, de ignorância ou de má fé, ou com uma adequada mistura destes ingredientes, podem ser atribuídos ou considerados como tendo sido influenciados pelos mecanismos da SI.
É certo que muitos analistas apontam para os efeitos da propaganda maciça apontada a leste baseada na utilização dos mais «sofisticados» meios de comunicação social electrónicos (TV, rádio). Mas indo por aí, talvez também devesse ser antecipado o papel da SI neste tipo de processos ao estabelecimento e consolidação dos regimes nazi-fascistas, bem como do seu expansionismo, na primeira metade do século XX e ao papel da rádio na divulgação das intervenções como as de Hitler e Mussolini!
É certo ainda que não acontecia a difusão dos computadores nas economias socialistas na prática dos anos 80 – não obstante a sua aplicação determinada em sectores de ponta como o aero-espacial –, isto numa altura em que começavam a constituir-se como um importante instrumento de aumentos de eficiência produtiva no Ocidente, a começar pelos EUA – e se esta novidade não se estava a mostrar relevante! Mas também, a bem dizer, estes não eram mais que primeiros sinais a avisar que algo de novo estava a acontecer (e Alvin Toffler já a referi-los!).
E claro, o Mercado Comum, e mais tarde a EU, tiveram (e têm) as suas explícitas e bem conhecidas razões económico-financeiras para acontecerem e se irem consolidado. Aliás, é de apenas há cerca de uma dezena de anos o documento da Comissão Europeia/Bangemann definindo e crismando a «Sociedade da Informação Europeia» (EIS - European Information Society). Já a Internet era o que era, mas ninguém lhe augurava a expansão que teve. O telemóvel europeu - o GSM - já era considerado um sucesso a ser replicado, documento «Bangemann» dixit.
Mas uma coisa que se entendeu desde logo foi o serem as novas possibilidades oferecidas pelas tecnologias que estão na base da SI, as tecnologias da informação e comunicação (TIC), serem estas, dizia, adaptadas a não conhecerem distâncias, fronteiras ou fusos horários. Portanto foi a vez de muitas «empresa virtuais» («virtuais» mas compostas por localizações muito concretas onde mais conviesse aos custos) verem a luz do dia. E não só para a produção de serviços de seguros ou de marcação de passagens aéreas, ou para investimentos mobiliários, mas também para análises médicas ou mesmo para bandeiras para apoiantes de futebol – a parte tangível, palpável, da transacção, transportada para/e de longe; os produtos sempre entregues da noite para o dia.
Enquanto que, não só as diferentes unidades de uma empresa são cada vez mais encontradas em antipódicos pontos do Globo, como essas localizações se caracterizam não apenas por custos de mão-de-obra baixos, porque isso será (?) só parte do jogo - e os nossos dirigentes deveriam entendê-lo -, e processos de produção eficientes, mas também - e é fundamental - por condições infra-estruturais, ambientais, culturais, de lazer, etc., excelentes, de qualidade de vida elevada, que consigam atrair a fixação. Daí o falar-se na emergência das áreas metropolitanas como pólos da organização futura do território… e não no «ruralismo».
Rectificação
Por um lamentável lapso, o texto publicado no número anterior, na secção Argumentos/Pelos