Guerra ameaça toda a região
A escalada da violência na fronteira entre o Ruanda e a República Democrática do Congo põe fim ao cessar-fogo assinado há dois anos e ameaça desestabilizar toda a região.
«Cinco anos de guerra civil deixaram quatro milhões de mortos»
A cidade de Goma e a região de Kanyabayonga, na província de Kivu Norte, são palco de combates entre tropas regulares dos dois países africanos. A informação foi confirmada na terça-feira pelo ministro da Informação e porta-voz do governo da RD Congo.
Henri Mova esclareceu, em declarações à imprensa proferidas na capital, Kinshasa, que um contingente do exército congolês se encontra no leste do país para travar o avanço dos vizinhos ruandeses e de um grupo de opositores ao presidente, Joseph Kabila.
O governante adiantou ainda que foram capturados dois soldados do Ruanda e que outros 25 membros do grupo União Congolesa Democrática (UCD) perderam a vida.
O governo do Ruanda nega a presença dos seus soldados para lá da fronteira com a RD do Congo, embora há duas semanas e meia o presidente do país, Paul Kagamé, tenha anunciado publicamente a intenção de penetrar no território vizinho a fim de aniquilar as bases remanescentes da Frente Democrática de Libertação do Ruanda (FDLR), organização acusada de ter instigado, em 1994, os massacres da minoria Tutsi actualmente ao leme do poder económico e político no Ruanda.
O presidente do Ruanda chegou mesmo a invocar o direito de defender o país e continuar as actividades de «limpeza», dentro e fora das suas fronteiras, contra os que considera inimigos, isto é, a FDLR e os revoltosos de etnia Hutu.
Na altura, Patrícia Tomé, porta-voz da missão da ONU na RD do Congo (MONUC), confirmou que Kagamé lhe tinha comunicado a operação, mas os observadores das Nações Unidas negaram a existência de combates.
Cerca de quinze dias depois a situação repete-se. Segundo informações fornecidas pelo representante da missão de paz, Mamadou Bah, os «capacetes azuis» destacados para o terreno não dão conta de qualquer troca de tiros, facto que faz subir o tom das muitas críticas que acusam a MONUC de pouco ou nada fazer para mediar o conflito.
Tensão cresce há alguns dias
A provar que a tensão tem vindo a crescer entre os dois países é a deslocação a Kinshasa, no passado dia dez, de uma delegação da União Africana (UA).
Os representantes da organização que congrega mais de meia centena de Estados africanos reuniram-se com Kabila na tentativa de encontrar uma solução política para a crise, isto apesar de deixarem um claro sinal de condenação às intenções ruandesas.
Um elemento da delegação da UA sublinhou que resulta evidente a origem da agressão e que a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral pode vir a considerar uma intervenção em auxílio da RD do Congo.
Conselho de Segurança pouco esclarecido
As informações contraditórias sobre a situação no terreno – mesmo as veiculadas pelos próprios enviados da ONU integrados numa missão de cerca de dez mil homens – levaram a que, no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), ainda não se tenha tomado uma posição que vá para além de declarações de condenação.
Em duas reuniões no início do mês, a presumível ofensiva foi analisada e alguns dos membros chegaram a pedir sanções para Kagamé, mas ficou-se por uma advertência pela alegada quebra do acordo de paz de Dezembro de 2002.
Os valores que movem as armas
A região fronteiriça de Kivu Norte e Sul assume particular interesse pelas lucrativas jazidas de ouro e diamantes, facto que está na base da disputa pelo controlo económico da área.
O conflito ganhou novo fôlego em 1998, quando o Ruanda, Uganda e Burundi apoiaram deliberadamente a UCD contra o poder de Kabila, que por sua vez granjeou o apoio de Angola, Zimbabwe e Namíbia.
Por seu lado, o Ruanda acusa a RD do Congo de dar cobertura à FDLR e aos grupos Hutus.
Os números da tragédia
Cinco anos de guerra civil devastaram a RD do Congo e deixaram um rasto de quatro milhões de mortos.
Os reflexos do conflito que envolveu grupos de mercenários e exércitos regulares de sete países, combatendo dos dois lados da barricada, arrastaram no povo congolês as marcas profundas de uma tragédia que continua.
Dados recolhidos pela organização humanitária International Rescue Committee (IRC) e o Instituto Burnet, citados pelo sítio Rebelion, revelam que morrem diariamente na RD do Congo mais de mil pessoas, fruto da má nutrição e da falta de assistência médica resultante do desmoronamento do sistema público de saúde.
Metade das vítimas são menores de cinco anos e os desalojados e refugiados ascendem aos quatro milhões de pessoas, tantas quantas as vítimas de cinco anos de combates.
A IRC acusa também a «comunidade internacional» de se ter alheado do problema. Prova disso é que a «ajuda» internacional canalizada para o Iraque calcula-se na ordem dos 138 dólares por pessoa. Na RD do Congo, tal quantia distribui-se por 43 pessoas, ou seja, por cabeça pouco passa dos três dólares.
Henri Mova esclareceu, em declarações à imprensa proferidas na capital, Kinshasa, que um contingente do exército congolês se encontra no leste do país para travar o avanço dos vizinhos ruandeses e de um grupo de opositores ao presidente, Joseph Kabila.
O governante adiantou ainda que foram capturados dois soldados do Ruanda e que outros 25 membros do grupo União Congolesa Democrática (UCD) perderam a vida.
O governo do Ruanda nega a presença dos seus soldados para lá da fronteira com a RD do Congo, embora há duas semanas e meia o presidente do país, Paul Kagamé, tenha anunciado publicamente a intenção de penetrar no território vizinho a fim de aniquilar as bases remanescentes da Frente Democrática de Libertação do Ruanda (FDLR), organização acusada de ter instigado, em 1994, os massacres da minoria Tutsi actualmente ao leme do poder económico e político no Ruanda.
O presidente do Ruanda chegou mesmo a invocar o direito de defender o país e continuar as actividades de «limpeza», dentro e fora das suas fronteiras, contra os que considera inimigos, isto é, a FDLR e os revoltosos de etnia Hutu.
Na altura, Patrícia Tomé, porta-voz da missão da ONU na RD do Congo (MONUC), confirmou que Kagamé lhe tinha comunicado a operação, mas os observadores das Nações Unidas negaram a existência de combates.
Cerca de quinze dias depois a situação repete-se. Segundo informações fornecidas pelo representante da missão de paz, Mamadou Bah, os «capacetes azuis» destacados para o terreno não dão conta de qualquer troca de tiros, facto que faz subir o tom das muitas críticas que acusam a MONUC de pouco ou nada fazer para mediar o conflito.
Tensão cresce há alguns dias
A provar que a tensão tem vindo a crescer entre os dois países é a deslocação a Kinshasa, no passado dia dez, de uma delegação da União Africana (UA).
Os representantes da organização que congrega mais de meia centena de Estados africanos reuniram-se com Kabila na tentativa de encontrar uma solução política para a crise, isto apesar de deixarem um claro sinal de condenação às intenções ruandesas.
Um elemento da delegação da UA sublinhou que resulta evidente a origem da agressão e que a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral pode vir a considerar uma intervenção em auxílio da RD do Congo.
Conselho de Segurança pouco esclarecido
As informações contraditórias sobre a situação no terreno – mesmo as veiculadas pelos próprios enviados da ONU integrados numa missão de cerca de dez mil homens – levaram a que, no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), ainda não se tenha tomado uma posição que vá para além de declarações de condenação.
Em duas reuniões no início do mês, a presumível ofensiva foi analisada e alguns dos membros chegaram a pedir sanções para Kagamé, mas ficou-se por uma advertência pela alegada quebra do acordo de paz de Dezembro de 2002.
Os valores que movem as armas
A região fronteiriça de Kivu Norte e Sul assume particular interesse pelas lucrativas jazidas de ouro e diamantes, facto que está na base da disputa pelo controlo económico da área.
O conflito ganhou novo fôlego em 1998, quando o Ruanda, Uganda e Burundi apoiaram deliberadamente a UCD contra o poder de Kabila, que por sua vez granjeou o apoio de Angola, Zimbabwe e Namíbia.
Por seu lado, o Ruanda acusa a RD do Congo de dar cobertura à FDLR e aos grupos Hutus.
Os números da tragédia
Cinco anos de guerra civil devastaram a RD do Congo e deixaram um rasto de quatro milhões de mortos.
Os reflexos do conflito que envolveu grupos de mercenários e exércitos regulares de sete países, combatendo dos dois lados da barricada, arrastaram no povo congolês as marcas profundas de uma tragédia que continua.
Dados recolhidos pela organização humanitária International Rescue Committee (IRC) e o Instituto Burnet, citados pelo sítio Rebelion, revelam que morrem diariamente na RD do Congo mais de mil pessoas, fruto da má nutrição e da falta de assistência médica resultante do desmoronamento do sistema público de saúde.
Metade das vítimas são menores de cinco anos e os desalojados e refugiados ascendem aos quatro milhões de pessoas, tantas quantas as vítimas de cinco anos de combates.
A IRC acusa também a «comunidade internacional» de se ter alheado do problema. Prova disso é que a «ajuda» internacional canalizada para o Iraque calcula-se na ordem dos 138 dólares por pessoa. Na RD do Congo, tal quantia distribui-se por 43 pessoas, ou seja, por cabeça pouco passa dos três dólares.