Eleições são uma farsa
A realização de eleições no Iraque, a 30 de Janeiro, é contestada por 65 partidos políticos e movimentos iraquianos que apelam ao boicote do escrutínio sob ocupação.
«O Pentágono chamou há dias mais 12 000 soldados para o Iraque»
«É um daqueles momentos da história em que muita gente se espantará por ver uma sociedade passar tão depressa de uma sociedade de tirania e de tortura para uma sociedade onde as pessoas se podem exprimir através de eleições», afirmou a 2 de Dezembro o presidente norte-americano, George W. Bush, ao manifestar a sua oposição ao adiamento das eleições iraquianas (The Los Angeles Times, 3 de Dezembro de 04).
As palavras de Bush não passam de mais um embuste que a dramática realidade iraquiana se encarrega de demonstrar.
A pouco mais de um mês do escrutínio, dados divulgados pela Medact a 30 de Novembro, em Londres, perante a Associação de Imprensa Estrangeira, revelam que:
- o perigo de morrer de forma violenta no Iraque é actualmente 58 vezes maior do que antes da invasão norte-americana;
- doenças como a cólera e a febre tifóide reapareceram em força no país;
- 25 por cento das crianças sofrem de subnutrição, inexistente no Iraque antes das guerras e do embargo decretado em 1991.
No final de Outubro, um outro relatório, divulgado pelo jornal científico The Lancet -«Mortality before and after the 2003 Invasión of Iraq: Cluster Sample Survey», The Lancet, 29 octobre 2004, http://image.thelancet.com/extras/04art10342web.pdf - dava conta de que pelo menos 100 000 pessoas foram mortas após a invasão do Iraque pelos EUA, e que 84 por cento dessas mortes são directamente imputáveis à acção das tropas norte-americanas e britânicas. O estudo revela ainda que 95 por cento das vítimas foram mortas por ataques aéreos e tiros de artilharia, que atingiram sobretudo mulheres e crianças.
Dividir para reinar
Se ao panorama descrito se acrescentar o facto de o assalto a Fallujah para «degolar alguns terroristas», segundo a versão dos EUA, ter provocado mais de 200 000 refugiados (de um total de 300 000 habitantes), que segundo a ONU se encontram numa situação desesperada; e se se tiver em conta que grande parte da população iraquiana vive praticamente sem água, com cortes constantes de electricidade, sem segurança, sem trabalho (mais de 70 por cento está desempregada), torna-se por demais evidente que nem com muito boa vontade se pode falar de eleições democráticas.
Acresce que o registo dos eleitores foi feito com base nas senhas de racionamento de alimentação existentes durante o embargo de 1991 a 2003, que estão longe de se poder considerar fiáveis. Para tornar o cenário ainda mais complexo, de referir que os eleitores vão ter de escolher entre 212 partidos registados, 30 dos quais têm no nome a palavra «patriótico», 24 a palavra «democrático», 21 a palavra «islâmico». A par destes há ainda dezenas de partidos tribais e religiosos.
Face a esta situação, tudo leva a crer que os EUA estão apostados num Iraque dividido em facções, teoricamente mais fácil de dominar, em que o poder central não terá acesso às riquezas petrolíferas.
É contra semelhante estratégica que a resistência iraquiana se bate, defendendo um programa de unidade nacional e rejeitando eleições sob ocupação. O aumento de acções para 150 por dia (dez vezes mais do que há um ano) e o apelo ao boicote das eleições mostra que o ocupante não terá a tarefa facilitada. Confirmando as dificuldades, o Pentágono chamou a semana passada mais 12 000 soldados para reforçar o contigente no Iraque.
O preço da ocupação
Segundo dados publicados no Asia Times («The costs of the failed Iraqi transition», 2 Outubro 2004):
- a média dos mortos e feridos americanos é de 747 por mês desde o fim de Junho, contra 415 durante os primeiros 15 meses de ocupação;
- o número dos resistentes armados passou, segundo o general-major britânico Andrew Graham, de 5000 em Novembro de 2003 para 40 a 50 000 em Setembro de 2004.
- a margem de manobra dos EUA junto das potências ocidentais reduz-se: a França anunciou que apoiará uma conferência sobre o Iraque desde que nela participe a resistência, em pé de igualdade com os partidos representados no governo. Os EUA estão contra. A 5 de Novembro, o presidente francês, Jacques Chirac, abandonou a cimeira europeia no momento em que o primeiro-ministro iraquiano, Allawi, entrou na sala.
As palavras de Bush não passam de mais um embuste que a dramática realidade iraquiana se encarrega de demonstrar.
A pouco mais de um mês do escrutínio, dados divulgados pela Medact a 30 de Novembro, em Londres, perante a Associação de Imprensa Estrangeira, revelam que:
- o perigo de morrer de forma violenta no Iraque é actualmente 58 vezes maior do que antes da invasão norte-americana;
- doenças como a cólera e a febre tifóide reapareceram em força no país;
- 25 por cento das crianças sofrem de subnutrição, inexistente no Iraque antes das guerras e do embargo decretado em 1991.
No final de Outubro, um outro relatório, divulgado pelo jornal científico The Lancet -«Mortality before and after the 2003 Invasión of Iraq: Cluster Sample Survey», The Lancet, 29 octobre 2004, http://image.thelancet.com/extras/04art10342web.pdf - dava conta de que pelo menos 100 000 pessoas foram mortas após a invasão do Iraque pelos EUA, e que 84 por cento dessas mortes são directamente imputáveis à acção das tropas norte-americanas e britânicas. O estudo revela ainda que 95 por cento das vítimas foram mortas por ataques aéreos e tiros de artilharia, que atingiram sobretudo mulheres e crianças.
Dividir para reinar
Se ao panorama descrito se acrescentar o facto de o assalto a Fallujah para «degolar alguns terroristas», segundo a versão dos EUA, ter provocado mais de 200 000 refugiados (de um total de 300 000 habitantes), que segundo a ONU se encontram numa situação desesperada; e se se tiver em conta que grande parte da população iraquiana vive praticamente sem água, com cortes constantes de electricidade, sem segurança, sem trabalho (mais de 70 por cento está desempregada), torna-se por demais evidente que nem com muito boa vontade se pode falar de eleições democráticas.
Acresce que o registo dos eleitores foi feito com base nas senhas de racionamento de alimentação existentes durante o embargo de 1991 a 2003, que estão longe de se poder considerar fiáveis. Para tornar o cenário ainda mais complexo, de referir que os eleitores vão ter de escolher entre 212 partidos registados, 30 dos quais têm no nome a palavra «patriótico», 24 a palavra «democrático», 21 a palavra «islâmico». A par destes há ainda dezenas de partidos tribais e religiosos.
Face a esta situação, tudo leva a crer que os EUA estão apostados num Iraque dividido em facções, teoricamente mais fácil de dominar, em que o poder central não terá acesso às riquezas petrolíferas.
É contra semelhante estratégica que a resistência iraquiana se bate, defendendo um programa de unidade nacional e rejeitando eleições sob ocupação. O aumento de acções para 150 por dia (dez vezes mais do que há um ano) e o apelo ao boicote das eleições mostra que o ocupante não terá a tarefa facilitada. Confirmando as dificuldades, o Pentágono chamou a semana passada mais 12 000 soldados para reforçar o contigente no Iraque.
O preço da ocupação
Segundo dados publicados no Asia Times («The costs of the failed Iraqi transition», 2 Outubro 2004):
- a média dos mortos e feridos americanos é de 747 por mês desde o fim de Junho, contra 415 durante os primeiros 15 meses de ocupação;
- o número dos resistentes armados passou, segundo o general-major britânico Andrew Graham, de 5000 em Novembro de 2003 para 40 a 50 000 em Setembro de 2004.
- a margem de manobra dos EUA junto das potências ocidentais reduz-se: a França anunciou que apoiará uma conferência sobre o Iraque desde que nela participe a resistência, em pé de igualdade com os partidos representados no governo. Os EUA estão contra. A 5 de Novembro, o presidente francês, Jacques Chirac, abandonou a cimeira europeia no momento em que o primeiro-ministro iraquiano, Allawi, entrou na sala.