Comentário

Fascismo mata procurador

Pedro Campos
O atentado terrorista que vitimou o procurador Danilo Anderson mereceu um repúdio total dentro e fora do país. Contudo, não nos enganemos. Os sectores mais reaccionários da oposição antibolivariana não teriam enveredado por este crime se não tivessem muitos e poderosos apoios. Na imprensa venezuelana não será fácil encontrar quem se atreva a uma defesa clara do atentado, mas os média, a ponta de lança da oposição, depois de uma breve pausa estratégica, recomeçaram de imediato a campanha de desprestígio do procurador, ao mesmo tempo que punham ao mesmo nível a morte de dois opositores suspeitos de participação no atentado.
O procurador foi assassinado numa acção terrorista selectiva e premeditada. Dos dois suspeitos, um morreu porque não só não atendeu a voz de alto da polícia como ainda matou de um tiro um dos funcionários, depois de lhe ter passado com o carro por cima. O outro, que se refugiava num motel da província, recebeu uma comissão policial a tiro e faleceu na troca de disparos que se seguiu. Gente inocente como são apresentados pelos média?
Dificilmente. Na casa do primeiro, advogado ligado à oposição e filho de uma ex-senadora democrata-cristã, foi encontrado um verdadeiro arsenal, incluindo armas telescópicas e material explosivo C4, o mesmo que foi utilizado no atentado. Para mais detalhes, viajava com frequência aos Estados Unidos, onde fez cursos de mercenário.
Danilo Anderson era o procurador mais emblemático do processo bolivariano. Como tal, atendia os casos mais perigosos, entre eles os dos apoiantes do golpe de Estado de Abril de 2002, do assalto à embaixada de Cuba e o processo Sumate, grupo opositor ligado à CIA. Era o alvo perfeito para a reacção venezuelana, para os «gusanos» de Miami e logicamente para Washington. Para Heinz Dieterich o «assassinato de Danilo Anderson evidencia que a subversão deu um salto qualitativo para uma ofensiva
generalizada (…) podemos dizer que a Revolução Bolivariana entrou na fase da Revolução Cubana de 1960, quando a contra-revolução estado-unidense deu início à luta armada, sabotagens e assassinatos…».

Ordens partem dos EUA

É de Washington que partem estas ordens. Na televisão de Miami foi possível ver há poucos dias um líder da oposição, o actor Orlando Urdaneta, afirmar que tudo se resolvia «matando o perro maior (…) e talvez alguns mais damatilha». Quando a entrevistadora, cubana antifidelista, lhe perguntou como, respondeu que com uma espingarda telescópica e um franco-atirador «desses que nunca falham», coincidindo ambos em que seria um «comando israelita». É também nos Estados Unidos que estão alguns dos militares implicados nos atentados realizados há alguns meses em Caracas contra sedes diplomáticas. E é igualmente sob a asa do Bush onde está Luís Posada, a
quem Mireya Moscoso, ex-presidente do Panamá, indultou um par de dias antes da tomada de posse de Torrijos. Posada tem vários crimes às costas, entre eles a explosão de um avião que rebentou sobre as Caraíbas, depois de deslocar de Caracas.
Atentar contra a vida do procurador não foi difícil. Era um homem jovem, que não temia nem a morte nem os inimigos e que não contava com a protecção adequada. Enquanto tomava aulas de doutoramento, o carro ficava desguarnecido no estacionamento. Os terroristas devem ter-lhe estudado a rotina e aproveitado essas horas de descuido para colocar a bomba. Depois, foi questão de o seguir e activar o mecanismo detonador à distância.
O assassinato do procurado Anderson é certamente o mais mediático. Mas não convém esquecer que a procuradora Ortega Díaz, que agora leva alguns dos casos de Anderson, já foi vítima de sequestro do qual se salvou por milagre. E muito menos se podem pôr de lado os mais de 80 camponeses assassinados por sicários à ordem de latifundiários, que se opõem violentamente à reforma agrária.
Danilo Anderson foi assassinado para assustar o poder judicial e porque estava perto da verdade. Tão próximo que dois altos responsáveis policiais, aliados da oposição e suspeitos da responsabilidade de várias mortes durante o golpe de Estado, pediram asilo na embaixada de El Salvador, caso que está a mexer a vida política do pequeno país centro-americano.
Políticos da esquerda e da direita local já se manifestaram contra o asilo porque isso seria «uma ingerência» nos assuntos próprios da Venezuela e porque ambos já estavam a ser procurados pelas autoridades.


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