Oposição teme nova derrota

Venezuela na hora de eleições

Pedro Campos
A Venezuela vai de novo às urnas a 31 de Outubro, desta vez para eleger os órgãos de poder local. A oposição, temendo mais uma derrota, já fala em fraude.

«31 de Outubro anuncia-se como a nona vitória em série dos bolivarianos»

Dois meses e meio depois do referendo que confirmou o apoio maioritário ao processo político bolivariano encabeçado por Hugo Chávez e que significou uma derrota demolidora para a reacção local, a Venezuela vai de novo a eleições no final do mês para definir o poder local.
Pouco mais de 14 milhões de cidadãos preparam-se para eleger governadores, deputados regionais e vereadores, no que se antecipa como uma nova alteração do mapa político da nação, da qual deverá resultar uma correlação de forças mais favorável aos bolivarianos.
Os resultados do referendo de Agosto mostram que as forças bolivarianas ganharam em todos os estados menos num (Nova Esparta). Se bem que destes resultados não se possa fazer uma extrapolação directa, alguma coisa de importante querem dizer, especialmente porque a oposição perdeu os estribos com a derrota de Agosto – ainda não encontrou outra resposta à mesma que não seja uma fraude da qual é incapaz de mostrar uma prova – e está dividida sobre se participar ou não nas próximas eleições.
Vozes muito ruidosas, que não gozam da preferência popular mas que contam com os espaços dos meios de comunicação – claramente conspirativos – estão pelo boicote eleitoral, pela «abstenção activa», que ainda não definiram como é, certamente porque pensam contar os abstencionistas – a abstenção soe ser elevada neste tipo de eleição – como votos a seu favor. Há, porém, outras forças que, sejam elas mais realistas ou com maior opção de triunfo, parecem ter a intenção de disputar o voto popular. Entre outros,
encontram-se nesta situação o delfim da dinastia autocrática que governa Carabobo e Manuel Rosales, do estado Zulia, que já ameaçou separar-se do resto do país e declarar-se independente. Estão ainda outros que ameaçam não entregar o poder, mesmo no caso de derrota…

Esperança no futuro

Mas há também os que já desistiram, como Alfredo Peña, que declarou publicamente que se retira para não participar na «nova fraude». A verdade é que arruma as botas porque não tem qualquer opção de vitória. Quando ganhou, tinha os votos chavistas do seu lado, agora não… E este não será provavelmente o único desistente. Outros há que ainda estão na corrida mas não têm pernas e que, em cima da hora, gritarão fraude e preferirão não chegar à contagem final, eles que durante meses a fio exigiram a Hugo
Chávez que «se contasse».
Ainda faltam perto de três semanas para que sejam conhecidos os resultados da nova consulta eleitoral, mas grande parte da oposição que já tentou várias formas ilegais de derrubar o governo – golpe de estado, greve patronal de mais de dois meses, atentados terroristas e desordens de ruas – grita fraude! e esgrime como evidência que há no registo eleitoral algumas centenas de milhares de eleitores sem uma indicação clara de domicílio.
Isto pode resultar estranho num país europeu, mas é absolutamente compreensível em qualquer país latino-americano, onde há milhões de pessoas a viver em barracas, favelas, ranchos ou barrios jóvenes, que não têm nem água canalizada, nem luz, nem muito menos… uma rua com nome!
O 31 de Outubro anuncia-se como a nona vitória em série dos bolivarianos, um processo que, apesar das falhas que o marcam, é visto como uma esperança de redenção por milhões de venezuelanos tradicionalmente marginalizados numa das sociedades mais ricas da América Latina.

Habilidades da direita

Durante as últimas décadas, a norma foi que primeiro se fazia a eleição presidencial – o regime político do país tem sido tradicionalmente de forte concentração do poder nas mãos do presidente – e depois se ia para as regionais. Desta forma, «permitia-se» que o novo presidente – devido «à dinâmica da vitória» – se assegurasse um poder local não demasiado hostil.
Deste esquema beneficiava fundamentalmente o partido Acção Democrática (AD, social-democrata), o de maior implantação ao nível nacional e que mais vezes deteve a presidência do país. Esta sequência eleitoral respeitou-se até que apareceu na cena política Hugo Chávez. Em 1988, quando as classes dominantes se aperceberam de que a sua vitória parecia inevitável, empurraram os partidos ao seu serviço para trocassem a sequência por outra que lhes fosse mais favorável: primeiro as eleições legislativas – ainda muito se podia ganhar –, depois as presidenciais, porque tudo estava perdido. Desta forma, e porque o chavismo não ainda tinha uma sólida estrutura em todo o país, garantiam uma importante parcela de poder, que muito poderia dificultar a gestão presidencial.
Como resultado desta «habilidade», neste momento a AD é a força partidária com o maior número de municípios (91). Vem depois o bolivariano MVR (80) e em terceiro lugar outro partido grande da oposição, o dos democratas-cristãos (41). Atrás vem o MAS (20), do qual uma parte decidiu apoiar o processo bolivariano, e um pouco mais longe o também bolivariano PPT (15). Os outros 29 municípios são controlados por partidos mais pequenos, alguns sem implantação nacional, e na sua maioria antibolivarianos.
Por outro lado, actualmente a oposição governa alguns estados fundamentais: Zulia, Carabobo, e Bolívar, assentos respectivamente da indústrias petrolífera, ligeira e pesada; Miranda, importante por vizinho da capital; e ainda Monagas e Anzoatégui, neste caso – tal como o de Bolívar – por deserção de dois ex-aliados de Chávez. Com a capital sucedeu o mesmo.
Alfredo Peña, eleito nas listas bolivarianas com um número impressionante de votos, deu muito cedo um salto de malabarista e colocou-se ao serviço da reacção.


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