«Plano de separação» da Faixa de Gaza

Sharon isolado no parlamento

A ofensiva israelita em Gaza, desencadeada em fins de Setembro, fez 111 mortos palestinianos em 12 dias, mas Sharon não desiste do «plano de separação».

«Sharon está também em rota de co­lisão com o par­la­mento»

O diário israelita 'Haaretz' noticiou esta semana que o primeiro-ministro Ariel Sharon se recusa a pôr fim à operação «Dias de Penitência», que está a provocar um banho de sangue na Faixa de Gaza, apesar das recomendações do exército para a retirada das tropas.
Segundo o jornal, Sharon insiste na ocupação de Yabalia, onde alegadamente as forças de resistência palestinianas tinham instalados lança-mísseis 'Al Kasam', de fabrico caseiro, embora os comandos militares sejam de opinião que a permanência no campo aumenta o risco para as suas forças e que os lança-mísseis já foram deslocados para outras áreas.
Sharon rejeitou as recomendações do exército e ordenou a intensificação da operação «Dias de Penitência», com ofensivas contra todas as áreas suspeitas de disporem de mísseis. O facto de se tratarem de áreas densamente povoadas é irrelevante para o primeiro-ministro israelita.
Sharon está também em rota de colisão com o parlamento (kneset), onde na segunda-feira sofreu mais uma derrota na votação de uma resolução sobre os princípios básicos do seu «plano de separação dos palestinianos».
A resolução recebeu 44 votos a favor, 53 contra e uma abstenção, enquanto 22 deputados, todos da maioria parlamentar que suporta o governo, se ausentaram ostensivamente do plenário durante a votação.
Embora a derrota de Sharon não tenha efeitos imediatos, revela a fragilidade da actual maioria e a divisão quanto ao «plano de separação», e pode vir a resultar numa reestruturação do governo ou mesmo em eleições antecipadas.
O chefe do governo conta actualmente com uma «maioria condicionada», ou seja, tem o apoio de 61 dos 120 membros do parlamento, mas seis deputados do Partido Nacional Religioso (PNR) ameaçaram abandoná-lo no momento em que colocar o seu plano em prática. Para recuperar a maioria, o primeiro-ministro conta com o apoio do dirigente do Partido Trabalhista, Shimon Peres, mas os deputados deste partido também estão divididos em relação a Gaza, tendo votado contra a resolução de Sharon.
O próximo confronto no parlamento está marcado para 25 de Outubro, data anunciada por Sharon para a apresentação de «uma série de decisões cruciais» relacionadas com a retirada de Gaza.

União Eu­ro­peia con­dena

Entretanto, a União Europeia (UE) apelou no início da semana ao fim imediato das operações militares de Israel em Gaza e alertou que o «plano de retirada unilateral» do território palestiniano não poderia ser um substituto para a solução política de criação de dois estados.
«(A UE) condena a natureza desproporcional das acções militares de Israel na Faixa de Gaza», afirma o comunicado divulgado no Luxemburgo. O documento, embora reconheça o direito de Israel de se defender contra os ataques de mísseis palestinianos, considera que «essas acções acabaram com as vidas de muitos civis inocentes, incluindo crianças e deixaram muitos feridos».
Os ministros fizeram ainda saber que a UE não reconheceria qualquer mudança nas fronteiras estabelecidas antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel invadiu os territórios palestinianos, a menos que os dois lados concordem em modificá-las.
O Alto Comissário de Política Externa da UE, Javier Solana, foi encarregado de implementar as propostas dos 25, de que não foram dados detalhes, como uma possível solução europeia para o Médio Oriente. Segundo Solana, as medidas concretas serão apresentadas a 2 de Novembro e não colidem com o «roteiro da paz» patrocinado pelos Estados Unidos, a Organização das Nações Unidas (ONU), a UE e a Rússia.

«Parem os crimes de guerra»

O Partido Comunista de Israel (PCI) divulgou recentemente uma declaração denunciando o «massacre» do povo palestiniano que Israel está a levar a cabo, especialmente na Faixa de Gaza, e exigindo o fim dos «crimes de guerra».
No documento, o PCI manifesta-se «frontalmente contra assassinatos tanto de palestinianos como de israelitas», mas classifica como um «acto de cinismo e hipocrisia o comportamento do regime de Sharon e do Exército de Israel, que explora a morte de civis, entre os quais duas crianças, na cidade de Sderot, para justificar a reentrada invasora na Faixa de Gaza e a matança de dezenas de palestinianos, entre os quais crianças nas suas próprias salas de aula».
Denunciando que «tanques e helicópteros atiram a esmo, no que Sharon denomina de “Plano de Desocupação”», o PCI lembra que «o massacre e a destruição da Faixa de Gaza foi definido por um dos porta-vozes do Exército israelita como o “pagamento adiantado pela evacuação”».
Para o PCP, os acontecimentos em Gaza mostram «mais uma vez que, quando Sharon fala de “evacuação”, está na verdade a preparar mais crimes de guerra, com o objectivo de eliminar a aspiração do povo palestiniano de se libertar da ocupação e alcançar a independência nacional».
Apelando a «todos os amantes da paz, árabes e judeus» para que denunciem «os crimes cometidos na ocupação», o PCI exige a retirada imediata das tropas israelitas da Faixa de Gaza e a entrega do seu controlo à Autoridade Nacional Palestiniana.
«A paz e a segurança só podem ser alcançadas com o fim da ocupação israelita, com a evacuação de todos os colonatos ilegais, estabelecendo um Estado palestiniano independente, com Jerusalém como capital das duas nações, e com a resolução das questões pendentes dos refugiados baseada nas resoluções da ONU», afirma ainda o PCI.


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