Morte política de Blair, anunciada
A democracia e o tradicional sistema de valores que o trabalhismo tem quase sempre defendido, foram os grandes vencidos no Congresso que se desenrolou durante a passada semana em Brighton. Triunfaram as intrigas, o sistema de interesses pessoais, a perfídia, as negociações de bastidores. O povo britânico ficou a saber que os «modernizadores» do New Labour não só envenenaram o quadro de democracia ainda possível no capitalismo como se mostram, até, decididos a desmantelá-lo desde que possam manter-se no poder.
A principal «jogada» blairista e governamental surgiu na 5ª feira (30.09.2004) quando o primeiro-ministro anunciou que espera apresentar-se à frente do New Labour na próxima campanha eleitoral para que, se vencer, governar a Grã-Bretanha ao longo de um terceiro mandato consecutivo após o que abandonaria a política activa. Claro que ao anunciar esta decisão sua, Blair criou uma inesperada vulnerabilidade habilitando o país a considerar que se prepara para governar a partir da ‘sala de embarque’ durante os próximos cinco anos. Marcou a data da sua morte política.
Mas o país precisa de saber quem será o seu sucessor à frente do Partido e do governo, se vencer as eleições gerais que ocorrerão no próximo mês de Maio. Por outro lado, se as não vencer, o que nos parece plausível, ou se a situação interna do Partido se agravar, em que estranha situação se encontrarão os trabalhistas? A luta pelas melhores posições para a designação de um «herdeiro aparente» começou. Mas poderá prolongar-se ao longo dos referidos cinco anos. Contudo, o grande desígnio do primeiro-ministro parece consistir em baralhar os dados do problema da sua sucessão para enfraquecer o Chanceler do Tesouro, Gordon Brown, e facilitar o aparecimento de um leque de outros candidatos - Alan Milburn, já empossado como «supremo» na coordenação da campanha eleitoral, John Reid, ministro da Saúde, e Charles Clarke, ministro da Educação.
«Vou ali, já volto ...»
Logo a seguir à extraordinária declaração feita, Tony Blair anunciou que «ía já, ali, ao hospital» submeter-se a uma pequena operação. No dia seguinte, (6ª feira, 01.10.2004), declarava: «Obrigado, obrigado! Estou ‘absolutely fine’». E anunciou que se prepara para realizar a compra de uma opulenta residência na Connaught Square (Londres) por 5,4 milhões de Euros, garantindo o respectivo financiamento com a venda dos direitos de autor do seu livro de memórias. Na confusão geral, ganha-se a certeza de que tudo isto acontece com um só objectivo: impedir que o Partido Trabalhista e o governo cheguem às mãos de um socialista escocês, Gordon Brown.
Disse o primeiro-ministro adjunto, John Prescott: «Duas coisas podem pôr em perigo a nossa vitória, a complacência e a desunião». Os ministros reagiram, furiosamente, quando o jornal Guardian aconselhou os seus leitores a transferirem o seu apoio para os Liberais-Democratas, o único partido que, além dos comunistas, se opôs sempre à guerra no Iraque denunciando, inequivocamente, as responsabilidades do governo nesse conflito.
Liberdade e democracia no Iraque?
Equívoca política
A moção dita «rebelde» apresentada pelo delegado, Patrick Healy, de Streatham, Londres, exigindo o fim do conflito e a retirada das tropas britânicas, foi recusada por 85,75% dos direitos de voto contra 14,25%. Isto, apesar de que o sentimento contra a guerra continua poderoso no interior do Partido. Mas os organizadores do Congresso fizeram ver aos delegados que o abandono do Iraque deixaria o país numa situação pior do que a actual (como se isso fosse possível ...) e sugeriram ser positivo seguir a «linha» das Nações Unidas.
Uma convidada iraquiana, Shanaz Rashid, que surgiu no Congresso, em lágrimas, a pedir: «Fiquem, por amor de Deus fiquem, para nos darem liberdade e democracia», fez um enorme trabalho a favor de Blair conseguindo persuadir muitos delegados de que a invasão do Iraque foi uma coisa boa para os que desejam a democracia no país. E disse: «Beijei o solo do aeroporto de Baghdad quando as tropas dos EUA lá entraram. Por favor, não nos abandonem nesta hora em que tanto necessitamos de vós. O meu apelo vai para as vossas tropas. Para que ajudem o Iraque a libertar-se das forças do terrorismo».
Mas a deputada britânica aos Comuns pela circunscrição de Halifax, Alice Mahon, esclareceu: «Estamos a viver num balão de ar quente se consideramos que a situação está a melhorar no Iraque. Dia a dia, vemo-la piorar. As liberdades democráticas, tal como as entendemos no Ocidente, não têm possibilidades de realização prática no Iraque».
Vitória dos sindicatos rejeitada pelo governo
O Congresso de Brighton votou a favor da renacionalização dos caminhos de ferro. Todos os principais sindicatos proponentes da moção, que tanto inquietou o governo de Blair, juntaram forças com os delegados das circunscrições no sentido de que os comboios regressem ao sector público. A derrota do governo significa, segundo os Estatutos, que o Partido fica obrigado a incluir no seu programa político os objectivos da moção vencedora. Mas já Tony Blair e o N.º 1 da próxima campanha eleitoral, Alan Milburn, declararam que ignorarão o voto do Congresso e não incluirão a proposta no manifesto partidário a apresentar ao eleitorado.
Gerry Doherty, secretário-geral do TSSA (pessoal administrativo) declarou: «A nacionalização dos caminhos de ferro foi a mais descarada e pirata de todas as medidas que levaram ao roubo deste país através da política de nacionalizações que Margaret Thatcher apresentou para seduzir a população». E Hilary Hosking, delegada pela circunscrição de Sutton & Cheam e funcionária de uma das novas companhias privadas do sector ouviu aplausos ao dizer: «Os accionistas das companhias particulares de caminhos de ferro estão a encher os bolsos com o dinheiro dos contribuintes fiscais!».
Tudo para nada, afinal! Tudo para nada, não! Temos para nós que os caminhos de ferro voltarão, de facto, ao sector estatal quando a luta dos trabalhistas se esclarecer e chegar ao poder, finalmente, o tal socialista escocês que Blair odeia e os conservadores temem.
Mas o país precisa de saber quem será o seu sucessor à frente do Partido e do governo, se vencer as eleições gerais que ocorrerão no próximo mês de Maio. Por outro lado, se as não vencer, o que nos parece plausível, ou se a situação interna do Partido se agravar, em que estranha situação se encontrarão os trabalhistas? A luta pelas melhores posições para a designação de um «herdeiro aparente» começou. Mas poderá prolongar-se ao longo dos referidos cinco anos. Contudo, o grande desígnio do primeiro-ministro parece consistir em baralhar os dados do problema da sua sucessão para enfraquecer o Chanceler do Tesouro, Gordon Brown, e facilitar o aparecimento de um leque de outros candidatos - Alan Milburn, já empossado como «supremo» na coordenação da campanha eleitoral, John Reid, ministro da Saúde, e Charles Clarke, ministro da Educação.
«Vou ali, já volto ...»
Logo a seguir à extraordinária declaração feita, Tony Blair anunciou que «ía já, ali, ao hospital» submeter-se a uma pequena operação. No dia seguinte, (6ª feira, 01.10.2004), declarava: «Obrigado, obrigado! Estou ‘absolutely fine’». E anunciou que se prepara para realizar a compra de uma opulenta residência na Connaught Square (Londres) por 5,4 milhões de Euros, garantindo o respectivo financiamento com a venda dos direitos de autor do seu livro de memórias. Na confusão geral, ganha-se a certeza de que tudo isto acontece com um só objectivo: impedir que o Partido Trabalhista e o governo cheguem às mãos de um socialista escocês, Gordon Brown.
Disse o primeiro-ministro adjunto, John Prescott: «Duas coisas podem pôr em perigo a nossa vitória, a complacência e a desunião». Os ministros reagiram, furiosamente, quando o jornal Guardian aconselhou os seus leitores a transferirem o seu apoio para os Liberais-Democratas, o único partido que, além dos comunistas, se opôs sempre à guerra no Iraque denunciando, inequivocamente, as responsabilidades do governo nesse conflito.
Liberdade e democracia no Iraque?
Equívoca política
A moção dita «rebelde» apresentada pelo delegado, Patrick Healy, de Streatham, Londres, exigindo o fim do conflito e a retirada das tropas britânicas, foi recusada por 85,75% dos direitos de voto contra 14,25%. Isto, apesar de que o sentimento contra a guerra continua poderoso no interior do Partido. Mas os organizadores do Congresso fizeram ver aos delegados que o abandono do Iraque deixaria o país numa situação pior do que a actual (como se isso fosse possível ...) e sugeriram ser positivo seguir a «linha» das Nações Unidas.
Uma convidada iraquiana, Shanaz Rashid, que surgiu no Congresso, em lágrimas, a pedir: «Fiquem, por amor de Deus fiquem, para nos darem liberdade e democracia», fez um enorme trabalho a favor de Blair conseguindo persuadir muitos delegados de que a invasão do Iraque foi uma coisa boa para os que desejam a democracia no país. E disse: «Beijei o solo do aeroporto de Baghdad quando as tropas dos EUA lá entraram. Por favor, não nos abandonem nesta hora em que tanto necessitamos de vós. O meu apelo vai para as vossas tropas. Para que ajudem o Iraque a libertar-se das forças do terrorismo».
Mas a deputada britânica aos Comuns pela circunscrição de Halifax, Alice Mahon, esclareceu: «Estamos a viver num balão de ar quente se consideramos que a situação está a melhorar no Iraque. Dia a dia, vemo-la piorar. As liberdades democráticas, tal como as entendemos no Ocidente, não têm possibilidades de realização prática no Iraque».
Vitória dos sindicatos rejeitada pelo governo
O Congresso de Brighton votou a favor da renacionalização dos caminhos de ferro. Todos os principais sindicatos proponentes da moção, que tanto inquietou o governo de Blair, juntaram forças com os delegados das circunscrições no sentido de que os comboios regressem ao sector público. A derrota do governo significa, segundo os Estatutos, que o Partido fica obrigado a incluir no seu programa político os objectivos da moção vencedora. Mas já Tony Blair e o N.º 1 da próxima campanha eleitoral, Alan Milburn, declararam que ignorarão o voto do Congresso e não incluirão a proposta no manifesto partidário a apresentar ao eleitorado.
Gerry Doherty, secretário-geral do TSSA (pessoal administrativo) declarou: «A nacionalização dos caminhos de ferro foi a mais descarada e pirata de todas as medidas que levaram ao roubo deste país através da política de nacionalizações que Margaret Thatcher apresentou para seduzir a população». E Hilary Hosking, delegada pela circunscrição de Sutton & Cheam e funcionária de uma das novas companhias privadas do sector ouviu aplausos ao dizer: «Os accionistas das companhias particulares de caminhos de ferro estão a encher os bolsos com o dinheiro dos contribuintes fiscais!».
Tudo para nada, afinal! Tudo para nada, não! Temos para nós que os caminhos de ferro voltarão, de facto, ao sector estatal quando a luta dos trabalhistas se esclarecer e chegar ao poder, finalmente, o tal socialista escocês que Blair odeia e os conservadores temem.