Um dia com 200 manifestações
Os protestos contra o pacote laboral «Hartz IV» do Governo SPD/Verdes que se realizam todas as segunda-feiras na Alemanha estenderam-se esta semana a cerca de 200 cidades.
As manifestações das segundas-feiras estão a desorientar o SPD
Iniciadas por uma comissão de desempregados nos finais de Julho, em Magdburgo, onde decorreu uma primeira manifestação com 600 pessoas, as acções de contestação rapidamente alastraram nas semanas seguintes a 30, 70, 90 e 140 localidades, ultrapassando os 100 mil manifestantes.
Mas também a presença de dirigentes e governantes do SPD em actos públicos passou a ser alvo da revolta popular. «Traidor da classe operária» gritaram os manifestantes ao presidente do SPD, Franz Münterfering, durante uma tentativa de campanha eleitoral dos social-democratas na cidade de Pirna, na Saxónia. Já na semana passada, Schröder teve de fugir dos manifestantes ao inaugurar uma ligação ferroviária no Leste.
Apelando à intensificação da luta popular, a dirigente do PDS, Katja Kipping, defende que a contestação se estenda a toda a agenda 2010, um pacote legislativo deplorável de destruição de direitos sociais no campo da saúde, do ensino, de liberalização dos despedimentos e redução das reformas e pensões.
Segundo o Neues Deutschland, a maior manifestação da passada segunda-feira, com cerca de 60 mil participantes, realizou-se em Leipzig na antiga RDA, onde Oskar Lafontaine, que recentemente defendeu a demissão de Schröder, afirmou, perante um mar de gente, que a fractura da Alemanha não é entre o Leste e o Ocidente, mas entre «ricos e pobres».
O antigo presidente da social-democracia respondia assim ao pânico do chanceler, do governo e dos círculos do imperialismo pan-germânico de que as manifestações das segundas-feiras possam conduzir ao restabelecimento da República Democrática Alemã.
Convém recordar que Lafontaine, já em 1990, na altura candidato do SPD a chanceler opôs-se à destruição da RDA e à sua anexação pela República Federal da Alemanha. Desmascarou então as mentiras do chanceler Helmut Kohl sobre as promessas de um capitalismo com «paisagens floridas» no território da Alemanha socialista. Contestou o nacionalismo contra-revolucionário de Willy Brandt, então presidente honorário do SPD que, juntamente com Kohl e a extrema-direita, sob os assobios de milhares de manifestantes, afirmou em Berlim que «tinha de crescer na unificação o que deve estar unificado».
A revolta cresce
No seu último livro «A Revolta Cresce» (Die Wut Wächst, 2002), Lafontaine constata que «desde o colapso do comunismo e da União Soviética, o capitalismo de rapina tornou-se ainda mais brutal e agressivo» e que «o comunismo, com as suas normas sociais, obrigava as sociedades capitalistas a moderarem a lei do mais forte».
Não admira pois que o ex-presidente do SPD, perante uma população que viveu e conhece bem as conquistas sociais do socialismo e que hoje se sente totalmente ludibriada com o chamada processo de «unificação», seja recebido com longos aplausos quando classifica a política de Schröder como «o mais puro cinismo face aos sectores sociais mais fracos».
Entretanto, o chefe do governo de Brandenburgo, o social-democrata Matthias Platzeck, confessa que as manifestações das segundas-feiras estão a desorientar o SPD. Mesmo a total submissão à propaganda governamental do primeiro canal da TV alemã (ARD), que falsifica sistematicamente o número de manifestantes e concede abundante tempo de antena para que o chanceler possa divagar sobre o «carácter social» das suas reformas - não produz o efeito desejado.
A direcção do SPD, a democracia-cristã e o patronato atribuem os protestos contra o pacote «Hartz IV» a uma deficiente comunicação com o povo, tentando esconder a verdadeira situação do país, que vive uma explosão de revolta social contra uma política que, nas últimas décadas, tem penalizado constantemente quem vive do trabalho e a privilegiado os multimilionários e as camadas de rendimentos elevados.
Em seis anos de governo, a social-democracia alemã assumiu uma pesada responsabilidade histórica ao empreender o maior ataque às conquistas sociais e aos direitos dos trabalhadores, desde a criação da República Federal, e ao envolver o exército alemão em guerras e agressões na Europa e noutros continentes, o que não acontecia desde o regime de Hitler. É contra estas políticas que revolta alastra. Os trabalhadores e o povo alemão estão a ganhar consciência de que têm de ser eles a tomar nas suas próprias mãos o futuro da Alemanha.
Mas também a presença de dirigentes e governantes do SPD em actos públicos passou a ser alvo da revolta popular. «Traidor da classe operária» gritaram os manifestantes ao presidente do SPD, Franz Münterfering, durante uma tentativa de campanha eleitoral dos social-democratas na cidade de Pirna, na Saxónia. Já na semana passada, Schröder teve de fugir dos manifestantes ao inaugurar uma ligação ferroviária no Leste.
Apelando à intensificação da luta popular, a dirigente do PDS, Katja Kipping, defende que a contestação se estenda a toda a agenda 2010, um pacote legislativo deplorável de destruição de direitos sociais no campo da saúde, do ensino, de liberalização dos despedimentos e redução das reformas e pensões.
Segundo o Neues Deutschland, a maior manifestação da passada segunda-feira, com cerca de 60 mil participantes, realizou-se em Leipzig na antiga RDA, onde Oskar Lafontaine, que recentemente defendeu a demissão de Schröder, afirmou, perante um mar de gente, que a fractura da Alemanha não é entre o Leste e o Ocidente, mas entre «ricos e pobres».
O antigo presidente da social-democracia respondia assim ao pânico do chanceler, do governo e dos círculos do imperialismo pan-germânico de que as manifestações das segundas-feiras possam conduzir ao restabelecimento da República Democrática Alemã.
Convém recordar que Lafontaine, já em 1990, na altura candidato do SPD a chanceler opôs-se à destruição da RDA e à sua anexação pela República Federal da Alemanha. Desmascarou então as mentiras do chanceler Helmut Kohl sobre as promessas de um capitalismo com «paisagens floridas» no território da Alemanha socialista. Contestou o nacionalismo contra-revolucionário de Willy Brandt, então presidente honorário do SPD que, juntamente com Kohl e a extrema-direita, sob os assobios de milhares de manifestantes, afirmou em Berlim que «tinha de crescer na unificação o que deve estar unificado».
A revolta cresce
No seu último livro «A Revolta Cresce» (Die Wut Wächst, 2002), Lafontaine constata que «desde o colapso do comunismo e da União Soviética, o capitalismo de rapina tornou-se ainda mais brutal e agressivo» e que «o comunismo, com as suas normas sociais, obrigava as sociedades capitalistas a moderarem a lei do mais forte».
Não admira pois que o ex-presidente do SPD, perante uma população que viveu e conhece bem as conquistas sociais do socialismo e que hoje se sente totalmente ludibriada com o chamada processo de «unificação», seja recebido com longos aplausos quando classifica a política de Schröder como «o mais puro cinismo face aos sectores sociais mais fracos».
Entretanto, o chefe do governo de Brandenburgo, o social-democrata Matthias Platzeck, confessa que as manifestações das segundas-feiras estão a desorientar o SPD. Mesmo a total submissão à propaganda governamental do primeiro canal da TV alemã (ARD), que falsifica sistematicamente o número de manifestantes e concede abundante tempo de antena para que o chanceler possa divagar sobre o «carácter social» das suas reformas - não produz o efeito desejado.
A direcção do SPD, a democracia-cristã e o patronato atribuem os protestos contra o pacote «Hartz IV» a uma deficiente comunicação com o povo, tentando esconder a verdadeira situação do país, que vive uma explosão de revolta social contra uma política que, nas últimas décadas, tem penalizado constantemente quem vive do trabalho e a privilegiado os multimilionários e as camadas de rendimentos elevados.
Em seis anos de governo, a social-democracia alemã assumiu uma pesada responsabilidade histórica ao empreender o maior ataque às conquistas sociais e aos direitos dos trabalhadores, desde a criação da República Federal, e ao envolver o exército alemão em guerras e agressões na Europa e noutros continentes, o que não acontecia desde o regime de Hitler. É contra estas políticas que revolta alastra. Os trabalhadores e o povo alemão estão a ganhar consciência de que têm de ser eles a tomar nas suas próprias mãos o futuro da Alemanha.