Petrocer adquire parte da Petrogal
O incêndio no terminal de petroleiros no dia 31, em Leça da Palmeira, ocorreu dois dias antes do anúncio do vencedor da privatização. Venceu a Petrocer. «Perdem a empresa, os trabalhadores e o País», afirmou o membro da CCT, Hugo Basto.
Pretendem descredibilizar a Petrogal e a marca Galp, diz a CCT
A Comissão Central de Trabalhadores da Petrogal condena a política de privatização por constatar «que tem sido um grande malefício para a empresa, para os trabalhadores e o País», considerou o sindicalista em entrevista ao Avante!.
O dirigente recordou que o processo se iniciou aquando do Governo PS de António Guterres. O então ministro Pina Moura entregou parte substancial da empresa à Italiana ENI, durante a gestão de António Mexia, actual ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
Embora a Petrogal reserve o estatuto de Empresa Pública, «está já assumida a entrega de parte substancial ao capital privado que pode vir a dominar de forma decisiva os destinos da empresa», considera Hugo Basto. A CCT duvida que o Estado tenha formas de travar qualquer ofensiva contra a empresa.
Apesar de a Petrocer ter assumido o compromisso de não deixar a empresa cair em mãos estrangeiras nos próximos 15 anos, Hugo Basto fez notar que «o proprietário privado de qualquer empresa vende e faz o que quer dessa unidade, esteja a empresa mais ou menos bem gerida, uma vez que servirá sempre o grande capital privado».
Internacionalização
Assim que soube da intenção da Shell em abandonar a Península Ibérica, a CCT veio a saber que a administração de Mexia estava interessada em adquirir os 320 postos de abastecimento da multinacional norte-americana, em Espanha.
A questão foi colocada numa reunião com a administração que não deu qualquer resposta.
O assunto reapareceu depois na comunicação social, e a CCT confrontou a administração de novo, pretendendo saber qual o quantitativo da oferta e quais as exigências do vendedor, tendo em conta os valores exorbitantes que apareciam como propostos por António Mexia para a aquisição, comparando com outros proponentes que divulgaram valores muito mais baixos.
A CCT quer conhecer o verdadeiro valor dos postos da Shell em Espanha, mas a administração não responde. «Quem tem algo a esconder, algum motivo deve ter», afirmou Hugo Basto.
Os amigos e os tachos
Em comunicado no dia 4, a CCT denuncia situações pouco claras de quadros administrativos que entraram na empresa tendo-lhes sido atribuídas datas de admissão de muito mais anos do que os que prestaram efectivamente. Nesta situação estão dois administradores.
O mesmo se passa com membros da comissão executiva da Galp Energia.
No mesmo documento, Mexia é acusado de ter dado seguimento a «situações inadmissíveis e vergonhosas que espelham bem a política inqualificável de pessoal a que urge pôr termo».
O comunicado exemplifica com a admissão de Freitas do Amaral nos quadros da Galp Energia, com contrato de trabalho sem termo, justificada com a necessidade de se criar mais uma assessoria ao presidente da administração.
A mesma estrutura considera que há quem esteja a apostar no descrédito do bom nome da Petrogal e da sua marca Galp, e denuncia as possíveis promiscuidades familiares e de amizade com membros do actual Governo.
Segundo o mesmo comunicado, estão também a passar para os quadros «amigos com contratos de trabalho no âmbito do gás natural, de forma a evitar a sua passagem para a EDP/REN».
Para a CCT, «urge pôr cobro a esta política e a esta gestão».
Menos segurança e manutenção
A manutenção e a inspecção de todas as actividades das refinarias estão ligadas aos problemas de segurança nas refinarias e terminais.
Segundo a CCT, a manutenção tem reduzido drasticamente o número de trabalhadores nas áreas de segurança e, de igual forma, o quadro de inspectores.
Hugo Basto recordou que as diminuições se devem a gestões que consideram que este tipo de serviços podem ser entregues a terceiros.
«Quando se opta por entregar estes serviços a terceiros, deve-se sempre – segundo o responsável sindical -, obter garantias de que as tarefas são executadas enquadrando especialistas e técnicos de refinação.» É aí que as coisas falham na Petrogal: «Não há especialistas suficientes para acompanhar e enquadrar os empreiteiros, tanto na refinaria de Sines como na do Porto», afirmou.
Embora sem fazer juízos de intenções, a CCT considera que a «redução brutal dos quadros de manutenção, da inspecção e da segurança», são factores a considerar na análise ao acidente de Leça.
O «incendiário»
Um dia após o acidente, o novo ministro do Ambiente, Luís Nobre Guedes afirmou ir-se criar uma comissão de inquérito para apurar as causas.
Entretanto, Narciso Miranda, presidente da Câmara de Matosinhos, prestou declarações classificadas pela CCT como «incendiárias», ao defender no dia do acidente, a desactivação da refinaria do Porto para, logo no dia seguinte, ter passado a considerar que qualquer equipamento importante do ponto de vista nacional deve continuar a funcionar em Matosinhos.
A mudança deu-se após a reunião de emergência do Governo realizada domingo, dia 1, para análise da situação em Leça.
A CCT há muito que está acostumada a estas mudanças repentinas de Narciso Miranda. Segundo Hugo Basto, «a situação é tão aberrante que, por certo, algo aconteceu para que ele se tenha retraído e mudado de posição». «Uma administração como a que até agora foi liderada por António Mexia não pode dar qualquer garantia de que não se repitam mais acidentes», acrescentou.
A CCT assume, desde já, a determinação em defender os direitos dos trabalhadores e a defesa da Petrogal como Empresa Pública gerida pelo Estado que dos seus lucros deve poder usufruir.
Um negócio pouco claro
Ao adquirir 40,79 por cento da empresa pública por 856,42 milhões de euros, a Petrocer presidida pelo ex-ministro do PSD, Ferreira do Amaral, diz pretender manter uma quota de 40 por cento no mercado português do retalho de combustíveis e aumentar a sua influência em Espanha.
Com resultados anuais na ordem dos 400 milhões de euros, bastam pouco mais de dois anos de actividade para a Petrocer recuperar o que agora pretende investir.
A aquisição à Parpública – a holding estatal detentora das acções do Estado – foi efectuada sob uma condição: a Petrocer pode, num prazo de vinte dias, desistir da compra caso entenda que a aquisição da rede Shell, em Espanha, poderá prejudicar a transacção.
A Petrocer pertence aos accionistas portugueses da Unicer, através da holding Viacer que reúne o BPI, a Arsopi e o grupo Violas.
Mas o capital estrangeiro reinstala-se no seio da petrolífera portuguesa: o BPI pertence, em parte, ao grupo espanhol, La Caxa que, com o grupo Totta, detém 24 por cento deste Banco, além das participações dos grupos françês, Alliance e do grupo brasileiro, Itaú.
No entanto, a Viacer afirmou garantir a presença de mais de 50 por cento de capitais nacionais na proposta de compra.
O consórcio La Caxa tem um papel determinante no capital social das refinarias espanholas, motivo que faz recear que o grupo possa pretender comprometer o futuro das unidades portuguesas.
O dirigente recordou que o processo se iniciou aquando do Governo PS de António Guterres. O então ministro Pina Moura entregou parte substancial da empresa à Italiana ENI, durante a gestão de António Mexia, actual ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
Embora a Petrogal reserve o estatuto de Empresa Pública, «está já assumida a entrega de parte substancial ao capital privado que pode vir a dominar de forma decisiva os destinos da empresa», considera Hugo Basto. A CCT duvida que o Estado tenha formas de travar qualquer ofensiva contra a empresa.
Apesar de a Petrocer ter assumido o compromisso de não deixar a empresa cair em mãos estrangeiras nos próximos 15 anos, Hugo Basto fez notar que «o proprietário privado de qualquer empresa vende e faz o que quer dessa unidade, esteja a empresa mais ou menos bem gerida, uma vez que servirá sempre o grande capital privado».
Internacionalização
Assim que soube da intenção da Shell em abandonar a Península Ibérica, a CCT veio a saber que a administração de Mexia estava interessada em adquirir os 320 postos de abastecimento da multinacional norte-americana, em Espanha.
A questão foi colocada numa reunião com a administração que não deu qualquer resposta.
O assunto reapareceu depois na comunicação social, e a CCT confrontou a administração de novo, pretendendo saber qual o quantitativo da oferta e quais as exigências do vendedor, tendo em conta os valores exorbitantes que apareciam como propostos por António Mexia para a aquisição, comparando com outros proponentes que divulgaram valores muito mais baixos.
A CCT quer conhecer o verdadeiro valor dos postos da Shell em Espanha, mas a administração não responde. «Quem tem algo a esconder, algum motivo deve ter», afirmou Hugo Basto.
Os amigos e os tachos
Em comunicado no dia 4, a CCT denuncia situações pouco claras de quadros administrativos que entraram na empresa tendo-lhes sido atribuídas datas de admissão de muito mais anos do que os que prestaram efectivamente. Nesta situação estão dois administradores.
O mesmo se passa com membros da comissão executiva da Galp Energia.
No mesmo documento, Mexia é acusado de ter dado seguimento a «situações inadmissíveis e vergonhosas que espelham bem a política inqualificável de pessoal a que urge pôr termo».
O comunicado exemplifica com a admissão de Freitas do Amaral nos quadros da Galp Energia, com contrato de trabalho sem termo, justificada com a necessidade de se criar mais uma assessoria ao presidente da administração.
A mesma estrutura considera que há quem esteja a apostar no descrédito do bom nome da Petrogal e da sua marca Galp, e denuncia as possíveis promiscuidades familiares e de amizade com membros do actual Governo.
Segundo o mesmo comunicado, estão também a passar para os quadros «amigos com contratos de trabalho no âmbito do gás natural, de forma a evitar a sua passagem para a EDP/REN».
Para a CCT, «urge pôr cobro a esta política e a esta gestão».
Menos segurança e manutenção
A manutenção e a inspecção de todas as actividades das refinarias estão ligadas aos problemas de segurança nas refinarias e terminais.
Segundo a CCT, a manutenção tem reduzido drasticamente o número de trabalhadores nas áreas de segurança e, de igual forma, o quadro de inspectores.
Hugo Basto recordou que as diminuições se devem a gestões que consideram que este tipo de serviços podem ser entregues a terceiros.
«Quando se opta por entregar estes serviços a terceiros, deve-se sempre – segundo o responsável sindical -, obter garantias de que as tarefas são executadas enquadrando especialistas e técnicos de refinação.» É aí que as coisas falham na Petrogal: «Não há especialistas suficientes para acompanhar e enquadrar os empreiteiros, tanto na refinaria de Sines como na do Porto», afirmou.
Embora sem fazer juízos de intenções, a CCT considera que a «redução brutal dos quadros de manutenção, da inspecção e da segurança», são factores a considerar na análise ao acidente de Leça.
O «incendiário»
Um dia após o acidente, o novo ministro do Ambiente, Luís Nobre Guedes afirmou ir-se criar uma comissão de inquérito para apurar as causas.
Entretanto, Narciso Miranda, presidente da Câmara de Matosinhos, prestou declarações classificadas pela CCT como «incendiárias», ao defender no dia do acidente, a desactivação da refinaria do Porto para, logo no dia seguinte, ter passado a considerar que qualquer equipamento importante do ponto de vista nacional deve continuar a funcionar em Matosinhos.
A mudança deu-se após a reunião de emergência do Governo realizada domingo, dia 1, para análise da situação em Leça.
A CCT há muito que está acostumada a estas mudanças repentinas de Narciso Miranda. Segundo Hugo Basto, «a situação é tão aberrante que, por certo, algo aconteceu para que ele se tenha retraído e mudado de posição». «Uma administração como a que até agora foi liderada por António Mexia não pode dar qualquer garantia de que não se repitam mais acidentes», acrescentou.
A CCT assume, desde já, a determinação em defender os direitos dos trabalhadores e a defesa da Petrogal como Empresa Pública gerida pelo Estado que dos seus lucros deve poder usufruir.
Um negócio pouco claro
Ao adquirir 40,79 por cento da empresa pública por 856,42 milhões de euros, a Petrocer presidida pelo ex-ministro do PSD, Ferreira do Amaral, diz pretender manter uma quota de 40 por cento no mercado português do retalho de combustíveis e aumentar a sua influência em Espanha.
Com resultados anuais na ordem dos 400 milhões de euros, bastam pouco mais de dois anos de actividade para a Petrocer recuperar o que agora pretende investir.
A aquisição à Parpública – a holding estatal detentora das acções do Estado – foi efectuada sob uma condição: a Petrocer pode, num prazo de vinte dias, desistir da compra caso entenda que a aquisição da rede Shell, em Espanha, poderá prejudicar a transacção.
A Petrocer pertence aos accionistas portugueses da Unicer, através da holding Viacer que reúne o BPI, a Arsopi e o grupo Violas.
Mas o capital estrangeiro reinstala-se no seio da petrolífera portuguesa: o BPI pertence, em parte, ao grupo espanhol, La Caxa que, com o grupo Totta, detém 24 por cento deste Banco, além das participações dos grupos françês, Alliance e do grupo brasileiro, Itaú.
No entanto, a Viacer afirmou garantir a presença de mais de 50 por cento de capitais nacionais na proposta de compra.
O consórcio La Caxa tem um papel determinante no capital social das refinarias espanholas, motivo que faz recear que o grupo possa pretender comprometer o futuro das unidades portuguesas.