Utentes da saúde exigem

Um hospital para o concelho do Seixal

Sessenta mil assinaturas, luta e dedicação, é que prometem os utentes da saúde do Seixal, em reivindicação de um hospital público para o concelho.

O momento que estamos a viver é particularmente difícil

Sob o tema «Um hospital para o concelho do Seixal», realizou-se, na passada quinta-feira, dia 27 de Maio, no Cinema S. Vicente, na Aldeia de Paio Pires, um fórum, de esclarecimento e mobilização, para reivindicar, ao Governo, uma unidade hospitalar pública para a região. Esta iniciativa serviu ainda de arranque para um abaixo-assinado, com a meta de 60 mil subscrições, a apresentar ao ministro da tutela até Outubro de 2004.
O pontapé de saída foi dado por Pedro Mogário, um dos organizadores do encontro, que, na sua intervenção, informou, os presentes, para os malefícios das políticas de direita, também na área da saúde, com a entrega de património público ao sector privado.
«É necessária a luta esclarecida e consequente dos cidadãos, das autarquias, dos seus titulares, das associações cívicas, das organizações políticas contra a política neo-liberal do Governo na área da saúde, e pela construção, daquilo que nos traz aqui, de um hospital público para o concelho do Seixal», afirmou Pedro Mogário, dando, de seguida, a palavra a Manuel Soares, também da organização.
«Esta é a primeira vez que juntamos tantas organizações e tanta gente com o objectivo de reivindicar um hospital público para esta zona do País. Mas também, apontarmos as nossas intenções para que ao nível dos cuidados primários, ao nível da saúde pública, dos cuidados continuados, todas estas entidades, todos os cidadãos, possam ter uma opinião, possam exprimir qual é a sua vontade em termos de futuro, porque o Serviço Nacional de Saúde foi uma conquista do povo, uma conquista do 25 de Abril», destacou Manuel Soares.
Rui Ramos, em nome do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos (MUSP), valorizando o trabalho desenvolvido por aqueles cidadãos, acusou o Executivo PSD/CDS-PP de atacar os direitos dos utentes.
«O momento que estamos a viver é particularmente difícil, caracterizado por ataques do actual Governo aos direitos dos utentes de serviços públicos de transporte, água, correios, telecomunicações, saúde, etc., em que a liberalização versus privatização, ao contrário do propagandeado por diversos ministros, é bastante lesiva aos direitos dos utentes, constitucionalmente estabelecidos na lei fundamental do País», afirmou, denunciando «que as privatizações têm servido essencialmente para beneficiar grupos económicos, verificando-se paralelamente o aumento do preço e a redução da qualidade do serviço público.

Destruição do SNS

A esta intervenção, amplamente aplaudida, seguiu-se a de Manuel de Almeida, presidente da Assembleia de Freguesia de Arrentela, que falou em nome pessoal. Recordando o artigo 64 da Constituição da República: «Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover», o autarca, cidadão, destacou que em termos de equipamentos de protecção da saúde, o concelho do Seixal sofre do resultado das políticas de discriminação dos sucessivos governos.
«As prioridades mais particulares do Governo apontam para a destruição total do Serviço Nacional de Saúde. Por outro lado, enganaram-nos com a ideia de uma gestão mais racional dos recursos, com o aumento das taxas moderadoras, que não moderam nada, preparam a concretização a médio prazo da criação do serviço privado de saúde para todos os portugueses», sublinha Manuel de Almeida.
Complementando a intervenção anterior, José Manuel Maia, presidente da Assembleia Municipal de Almada, fez a comparação, com percentagens, dentro da Área Metropolitana de Lisboa (AML), entre a margem Sul e a margem Norte.
De facto a grande maioria das infra-estruturas de saúde localizam-se na zona Norte, sendo de apontar que, concentrando 74 por cento da população residente, dispõem mais de 85 por cento dos hospitais oficiais, dos hospitais particulares e das camas de hospital na AML.
«Na AML Sul verifica-se com grande facilidade a grande carência em equipamentos de saúde, dada a exiguidade do número de infra-estruturas de saúde e os valores elevados da população residente», disse José Manuel Maia, dando o exemplo do Garcia de Orta que serve uma população de, segundo dados do INE, 316 260 habitantes, «o que tem naturais reflexos ao nível da qualidade do serviço».

Falta de médicos

No final das inúmeras intervenções, Alfredo Monteiro, presidente da Câmara Municipal do Seixal, salientou que o que está em causa é a qualidade do serviço público no Serviço Nacional de Saúde. Disse ainda, de conhecimento geral, que a autarquia tem substituído, mais do que devia, o Poder Central, nesta área.
«O Seixal têm estado esquecido pelos investimentos na área da saúde», ressalvou o autarca do PCP, denunciando, ainda, a falta de médicos de família no concelho.
Alfredo Monteiro revelou também que o Estado português é proprietário de um terreno com mais de 80 hectares, bem localizado, junto ao nó do Fogueteiro, que esteve destinado à instalação da Brigada de Trânsito, e que, neste momento, era o local ideal para a construção do novo hospital do Seixal.


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