Software Livre versus Software Proprietário

Uma questão de liberdade

Ricardo Duarte
Desde o software que recebe o pedido da mesa no restaurante, à transacção bancária na nossa conta, passando pela conversa amena no sistema de chat ou pelo curriculum que se escreve num processador de texto, os programas informáticos tocam os destinos de todos nós.
Esta é a simples realidade que está ai para durar. No entanto não somos nós que nos devemos adaptar ao programa informático, mas sim, ele às nossas necessidades. E este é já um ponto político em que não devemos ceder. Isto porque todo o marketing envolvido na comercialização destes produtos quer que compremos compulsivamente e, ainda por cima, algo que por vezes não preenche todos os nossos requisitos.
Podemos começar por falar de um simples processador de texto, propriedade de uma qualquer empresa monopolista, como por exemplo a Microsoft, gigante tubarão esperando ansiosamente o total controle sobre todos os tipos de comunicação e dados. Este simples programa. intitulado de «Word», esconde a cada tecla que batemos um sem-número de operações, as quais deveriam estar documentadas para que todos nós tivéssemos a certeza de que aquilo que o software está realmente a fazer é aquilo que lhe pedimos e não outra coisa, como seja o envio de informações e dados pessoais para processamento por uma qualquer empresa de pesquisa de mercado ou a pura e simples espionagem sobre os nossos documentos privados. Não há documentação suficiente, nem sequer é possível «ver» essas operações pois o código do software está já compilado e não é possível «abri-lo» a não ser que cometamos um acto que viola o acordo de utilização imposto pelo fabricante. Ou seja, o utilizar concorda logo à partida que não tem direito de obter mais informações sobre o produto que está a instalar, o que é mais ou menos equivalente a comprar um carro e aceitar logo à partida que não podemos abrir o capot para lhe ver o motor.
Outra questão agregada ao software ser «fechado» é o facto de obrigar a utilizar sempre o mesmo programa para abrir o tipo/formato de documento que foi guardado em disco. Ou seja, ficamos sem acesso aos nossos próprios dados caso desejemos mudar de processador de texto...
Por contraponto podemos falar de outro processador de texto, que faz exactamente a mesma coisa e mais um «par de botas», abre e guarda todos os formatos de texto, não custa nada a não ser o tempo de o instalar, podemos verificar o que o programa faz exactamente olhando para o seu código, podemos partilhá-lo com amigos, empresa, família e acima de tudo não nos obriga a registar o nosso nome nem os nossos dados para que fiquem registados sabe-se lá para que utilização.
«Óptimo, fantástico! Mas porque que eu nunca ouvi falar nisso?», pergunta o leitor.
Fácil de responder. Imaginemos um grupo gigantesco de especialistas informáticos que, num laivo de iluminação humanista, decide construir algo para o bem comunitário, sem o lucro como objectivo, nem sequer deixando em aberto a possibilidade de um dia mais tarde aquele bem ser passível de comercialização selvática. No entanto, como não têm lucro, também não podem usufruir de um marketing poderoso que faça chegar a informação das suas magníficas peças de engenharia informática ao grande mercado de consumidores. Consumidores estes que continuam a dar dinheiro por software que basicamente é aquilo a que chamamos vulgarmente de «fachada», pois cerca de 80% do investimento nele é em marketing e não em desenvolvimento. O XP, por exemplo, não é tão bom como se poderia imaginar e nem sequer chega a metade da produtividade que se pode obter com um Office – Software Livre. (ver exemplos: http://pt.openoffice.org, http://www.koffice.org).
Esta lufada de ar fresco, numa época em que a hegemonia da Microsoft parece estar montada para durar, demonstra que, já que a concorrência não existe, são os próprios cidadãos que a combatem por sentirem os seus direitos democráticos ameaçados. A Liberdade de Opção é que faz de nós aquilo que somos e não pode ser um qualquer Bill Gates a impor ao mundo aquilo que se deve ou não usar.
Para quem desejar mais informação e tiver acesso à Internet pode consultar um site onde encontrará exemplos de Software Livre para descarregar e utilizar: http://www.gnuwin.org


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