Eleições na Rússia

Vitória anunciada

Vladimir Putin foi reeleito, domingo, com 71,2 por cento dos votos, num acto eleitoral não democrático, segundo a delegação de observadores internacionais.
Apesar da abstenção ter caído para 38 por cento, face aos 44 por cento registados nas eleições legislativas do passado mês de Dezembro, Putin não conseguiu ser eleito com uma margem de participação tão elevada como em 2000, ano em que pela primeira vez foi sufragado como candidato à presidência da Rússia.
A uma larga distancia ficou o candidato comunista, Nikolai Kharitonov, que granjeou cerca de 14 por cento dos votos, seguindo-se-lhe os restantes cinco candidatos.

Votos «comprados» e campanha única

Sob o pretexto de combater o abstencionismo eleitoral, o presidente criou alguns «incentivos» para quem fosse depositar o boletim na urna, entre os quais se contavam bilhetes de cinema para os mais jovens, vales gratuitos para cortes de cabelo, fruta e legumes vendidos a metade do preço no interior das assembleias de voto, e música à porta das urnas para embalar os russos na continuidade.
A expressiva vitória de Vladimir Putin baseou-se, no entanto, numa campanha de orientação do sentido de voto sem precedentes, à qual nem a OSCE nem o Conselho da Europa, com observadores no terreno, puderam associar-se.
Em balanço à campanha eleitoral, a OSCE publicou um relatório onde critica severamente Vladimir Putin e o governo russo pela forma como se comportaram no período pré-eleitoral, afirmando que se tratou de «uma cobertura mediática dominada pelo presidente no poder».
Tal fica expresso nas alianças de Vladimir Putin com os principais meios de comunicação de massas, chegando mesmo a comprar, através duma empresa estatal, o único canal de televisão que criticava a acção do executivo.
Não é por isso de estranhar que, por exemplo, enquanto Putin falava 30 minutos sem interrupção num espaço informativo, ao candidato comunista e à candidata liberal tenham sido dados, no mesmo noticiário, apenas cinco minutos, dos quais não constaram as críticas à política antipopular do governo por alegadas falhas técnicas na captação das declarações.
Como aponta o relatório da OSCE, o sufrágio, apesar de ter decorrido sem incidentes, não caracteriza uma «democracia saudável».


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