Graves motivos para protestar

A crise de quem trabalha

Trabalhadores de empresas falidas, com salários em atraso ou à beira do despedimento, expressaram em Lisboa, no dia 11, a indignação contra a política causadora da sua desgraça.

Falências, desemprego e perda de direitos são a receita do Governo

À manifestação inserida na jornada da CGTP-IN, foram muitos dos 800 ex-trabalhadores da Amadeu Gaudêncio, à espera dos créditos desde 1995. Os terrenos da empresa renderam quase dois milhões de contos mas o tribunal não graduou os créditos nem decretou qualquer verba para os funcionários que têm a haver 500 mil contos. Alguns já morreram, mas a determinação na razão dos seus motivos não demoveu José Monteiro com 48 anos ao serviço da casa, nem dezenas de camaradas seus, de exigir o que lhes devem.
No sector têxtil, 500 trabalhadores da GEFA Confecções, de Alhos Vedros, esperam pelas indemnizações há 17 anos. Numa faixa lia-se: «os caloteiros não querem pagar à gente».
Na MB Pereira da Costa, aguarda-se para 13 de Abril a decisão da assembleia de credores, pelo que os manifestantes exigiram a viabilidade da empresa.
Os trabalhadores da Cometna de Odivelas, manifestaram-se contra a destruição da principal fundição, à semelhança da forte presença dos operários da Bombardier/Sorefame da Amadora, só com trabalho garantido até ao fim deste mês, sem que o Governo tenha avançado com qualquer garantia de continuidade.
Da Euronadel, em Cascais, apareceram pendões onde se lia «tempo de acção e de luta». A multinacional alemã produtora de agulhas reduziu o pessoal e deslocalizou a actividade para a República Checa após ter tido apoios de 586 mil contos do PEDIP.
Na empresa de calçado, Hélio, nenhum dos 32 trabalhadores recebe salários desde Setembro, altura em que a fábrica parou. No entanto, as sapatarias da empresa na Rua Augusta continuam abertas e a vender.
Em risco de despedimento, centenas de funcionários da EDP alertaram para a privatização e a redução de pessoal com a frase «postos de trabalho reduzidos, consumidores pagam factura».
Há três anos sem aumentos e com o 13.º mês em atraso estão os 25 trabalhadores da Carpintec que deve à Segurança Social e aos fornecedores, correndo o risco de falir. Os trabalhadores exigem a viabilização e as indemnizações.
São apenas alguns de muitos exemplos da crise que alastra pelo País e cujos custos recaem sobre os trabalhadores.

Defender a contratação colectiva

Foi forte a participação de trabalhadores dos sectores das madeiras e da construção civil em defesa da contratação colectiva. O patronato pôs termo às negociações, alegando não ter condições para apresentar qualquer proposta este ano.
No sector da Hotelaria, Restaurantes, Alimentação, Bebidas e Similares, noventa trabalhadores da Unitratos exigiram a contratação colectiva e efectuaram uma greve quase total para participar na jornada.
Segundo o dirigente sindical, Rodolfo Caseiro, o pessoal do sector hoteleiro registou uma «magnifica afluência», destacando-se os trabalhadores do hotel Tivoli que efectuaram um plenário à tarde, tendo-se depois deslocado à jornada.
O sector dos transportes fez ouvir a exigência do direito à negociação colectiva, «por um sector ao serviço dos utentes e do País».
Trabalhadores da PT, das grandes superfícies comerciais – com destaque para as centenas de trabalhadoras da cadeia Pingo Doce –, das indústrias eléctricas (onde as doenças profissionais vão causando cada vez mais vítimas entre os trabalhadores por negligência das administrações de que é exemplo a Indelma/Alcoa), da Tabaqueira, dos bancários, da indústria de bebidas, da cadeia de padarias Socopal, da Lisnave/Gestenave, do sector metalúrgico, professores do SPGL, enfermeiros e trabalhadores do sector têxtil exigiram respeito pela contratação colectiva.

Privatizações

A passagem da tutela da Carris para a Câmara de Lisboa, situação assumida como o primeiro passo para a privatização, trouxe centenas de funcionários à jornada, dispostos a adoptar novas formas de luta adequadas à prepotência da administração que apenas andou a «queimar tempo» desde a suspensão das greves.
Ameaçados com a privatização da Petrogal e da Portucel, centenas de trabalhadores manifestaram-se para exigir «uma política diferente». Na unidade de Cacia, Setúbal, da Portucel, está marcada greve para dia 19, enquanto na Petrogal vão realizar-se dois dias de paragem ainda este mês, em data a anunciar.
Das indústrias de defesa veio o ministro Portas, em forma de boneco-caricatura, a bordo de uma maquete de um avião militar, concebido pelos trabalhadores do Arsenal do Alfeite, das OGFE, OGME, OGMA e da MM. Junto ao boneco lia-se que «o amigo americano mandou acabar» com estas oficinas.
Também os trabalhadores dos Correios excederam as expectativas,
ameaçados de despedimento com as transferências de serviços para as autarquias e o encerramento de estações.

Cada vez mais jovens

Jovens, idosos e desempregados são especialmente atingidos este Governo.
A forte presença de juventude trabalhadora sentiu-se ao longo de toda a jornada. A Interjovem/CGTP-IN apresentou um livro gigante a simular o Código do Trabalho, transportado por jovens disfarçados de caveiras.
A defesa da igualdade no trabalho, o direito à saúde, higiene e segurança, à contratação colectiva, a exigência de salários dignos, de 25 dias úteis de férias e o horário de 35 horas semanais foram as suas principais reivindicações.
Centenas de idosos da Inter-Reformados, do MURPI, exigiram poder «envelhecer com dignidade, por reformas dignas e justas».
O recentemente criado MTD, Movimento de Trabalhadores Desempregados alertou para as nefastas consequências do aumento do desemprego.


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Protesto nacional

De Viana do Castelo à Horta, a jornada de luta da CGTP-IN mobilizou, dia 11, muitos milhares de trabalhadores, unidos num protesto que teve dimensão nacional, a exigir mudança de política e de Governo.

Uma grande jornada

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<font color=0093DD>Almada real e imaginada</font>

«Almada Imaginada» é o título da exposição de fotografia de Júlio Dinis que está patente no Museu da Cidade. A mostra acompanha Almada desde a década de 40 até ao período pós-25 de Abril. O autor – fotógrafo de diversos jornais, entre os quais A Bola, O Século, Diário de Lisboa, Diário Popular, O Diário e Avante! – explica a forte ligação à cidade onde nasceu.