Um silêncio de morte
A luta dos EUA contra o terrorismo, pela paz e pela democracia conheceu nos últimos dias mais um desenvolvimento a todos os títulos notável. No sábado, um ataque da aviação norte-americana na província de Ghazni, no Norte do Afeganistão, provocou a morte de dez pessoas, nove das quais crianças que jogavam à bola.
Segundo o comunicado divulgado a propósito pelo Comando Central norte-americano em Bagram, a operação teve como objectivo «atacar um terrorista suspeito da morte de dois trabalhadores», e foi levada a cabo «com base em informações e após um longo período de tempo para assegurar que o terroristas se encontrava numa zona rural isolada».
Mais informa o comunicado que «as tropas terrestres da coligação deslocaram-se ao local e encontraram o corpo do alvo, mas também nove crianças».
Vale a pena atentar no texto: não levanta qualquer dúvida de que o alvo era um «terrorista», embora fosse apenas «suspeito» da morte de duas pessoas; por outro lado, refere que a acção só foi levada a cabo quando o alvo se encontrava numa isolada, o que deixa implícita a preocupação em evitar «danos colaterais», mas nada diz quanto ao facto de mesmo assim terem sido massacradas nove crianças, como se isso fosse irrelevante.
Em declarações à imprensa, um militar norte-americano deu no entanto uma explicação que me deixou siderada: «a guerra não é uma arte exacta», afirmou.
Ouço a primeira vez e penso de imediato que se trata de um erro de tradução. Não pode ser, foi engano de certeza. Procuro outro noticiário, de ouvidos bem abertos, e dessa vez é o jornalista que, certamente incomodado, usa a expressão «ciência exacta», e não «arte exacta», mas o que eu quero mesmo é ouvir o americano, de viva voz. Acabo por o conseguir e as palavras não deixam margem para dúvidas: «a guerra não é uma arte exacta».
As imagens mostram os pequenos corpos, cobertos, espalhados pelo terreno; não se vêem imagens do suposto terrorista. Os americanos já tomaram conta da aldeia e passeiam de armas na mão entre gente cujo olhar mostra a maior desolação do mundo. Ninguém saúda os libertadores, mas todos parecem chorar as jovens vidas sacrificadas neste crime hediondo que os americanos promoveram à categoria de «arte».
Desta vez não houve lugar para encenações, como a que foi feita no Iraque, onde Bush pousou para as câmaras, no feriado do Dia de Acção de Graças, com um peru de plástico que pretensamente iria partilhar com os soldados. Desta vez - quantas vezes? - houve apenas um silêncio de morte.
Segundo o comunicado divulgado a propósito pelo Comando Central norte-americano em Bagram, a operação teve como objectivo «atacar um terrorista suspeito da morte de dois trabalhadores», e foi levada a cabo «com base em informações e após um longo período de tempo para assegurar que o terroristas se encontrava numa zona rural isolada».
Mais informa o comunicado que «as tropas terrestres da coligação deslocaram-se ao local e encontraram o corpo do alvo, mas também nove crianças».
Vale a pena atentar no texto: não levanta qualquer dúvida de que o alvo era um «terrorista», embora fosse apenas «suspeito» da morte de duas pessoas; por outro lado, refere que a acção só foi levada a cabo quando o alvo se encontrava numa isolada, o que deixa implícita a preocupação em evitar «danos colaterais», mas nada diz quanto ao facto de mesmo assim terem sido massacradas nove crianças, como se isso fosse irrelevante.
Em declarações à imprensa, um militar norte-americano deu no entanto uma explicação que me deixou siderada: «a guerra não é uma arte exacta», afirmou.
Ouço a primeira vez e penso de imediato que se trata de um erro de tradução. Não pode ser, foi engano de certeza. Procuro outro noticiário, de ouvidos bem abertos, e dessa vez é o jornalista que, certamente incomodado, usa a expressão «ciência exacta», e não «arte exacta», mas o que eu quero mesmo é ouvir o americano, de viva voz. Acabo por o conseguir e as palavras não deixam margem para dúvidas: «a guerra não é uma arte exacta».
As imagens mostram os pequenos corpos, cobertos, espalhados pelo terreno; não se vêem imagens do suposto terrorista. Os americanos já tomaram conta da aldeia e passeiam de armas na mão entre gente cujo olhar mostra a maior desolação do mundo. Ninguém saúda os libertadores, mas todos parecem chorar as jovens vidas sacrificadas neste crime hediondo que os americanos promoveram à categoria de «arte».
Desta vez não houve lugar para encenações, como a que foi feita no Iraque, onde Bush pousou para as câmaras, no feriado do Dia de Acção de Graças, com um peru de plástico que pretensamente iria partilhar com os soldados. Desta vez - quantas vezes? - houve apenas um silêncio de morte.