Super Manholas. É isso
Não. Desta vez não vou por as questões explicitamente de um ponto de vista de classes. Porque, para mim, por vezes parece ser demais desculpar sempre todos os outros - isto é, os do povo e os trabalhadores -, e mesmo todos nós. Realmente não podemos atribuir o mal só e sempre aos que nos controlam com as rédeas de todos os poderes. Mesmo sabendo e não esquecendo que os dominados são levados a certas coisas pela situação em que se encontram… Mas, caramba, não sobra nada do livre arbítrio de cada um?
A gota de água? Pois volvia mais uma vez (para variar) de missões ocorrendo bem longe do «meu» jardim à beira-mar plantado e lia, enquanto a comida não chegava, um jornal da nossa terra. Que é quando aproveito para me chegar aos jornais. Era 19 de Setembro deste ano de 2003. O jornal dizia-me ser o nosso País um recordista, ou seja que se encontrava no «topo da lista das mortes infantis por maus tratos». Isto, o título no interior do jornal Público, na página 28, que a chamada na primeira página - ilustrada com fotografia - dizia-me agora, em subtítulo, «estatísticas prejudicam (sic) Portugal no relatório da UNICEF sobres maus tratos a crianças». Pois é, prejudicam…
Não sei se é por, depois de todas décadas, ainda estar marcado pelas fortes reguadas que a minha professora de instrução primária aplicava com afinco na minha mão esquerda. Nasci canhoto - das esquerdas? - e era preciso ensinar-me que, escrever, era com a mão direita (mão direita, quer dizer a mão do Direito?)… Cumprida a sua tarefa com distinção, a minha professora foi destacada para a África, para um posto numa das colónias (ou seria Província Ultramarina?) portuguesa para aí continuar a sua gloriosa missão («fabricando» assimilados?). Enfim, tiques de uma sociedade de tão brandos costumes!
Claro, os bem pensantes de entre os intelectuais e os mais subtis cientistas sociais e políticos poderão discutir à vontade se tivemos um antigo regime, um Estado Novíssimo, ou um fascismo. O certo é que nem têm podido sequer dispor dos dados estatísticos adequados. Nem hoje poderão ter esperanças de os vir a possuir, não é?! Como podem eles - e nós - então confiar, para os seus científicos estudos, nas informações referentes aos vitimados pela actual vaga de calor (um número irrisório em comparação com os ocorridos em França) ou aos hectares de floresta consumidos pelo fogo ou, ainda, quanto à percentagem relativa aos fogos postos?
Com efeito, deveremos ter sido dos mais eficazes manholas do Mundo quando tocava a esconder ou deformar a informação… o Salazar foi, de facto, um lídimo representante desta Nação! E quanto ao presente?
Hoje por hoje, parece que - é uma opinião corrente - a possibilidade de continuar a esconder informação e de enganar, será cada mais difícil. Com efeito, atentando nos resultados do relatório da UNICEF acima referido - sempre através do Público de 19 de Setembro de 2003 -, podemos chegar a bem graves realidades:
- Portugal apresenta, em média, anual, 3,7 crianças mortas por 100.000 habitantes contra 0,1 em Espanha, 0,2 na Grécia e na Itália, 0,6 - 0,8 nos países nórdicos, 1,4 em França, 2,4 nos EUA e 3,0 no México.
- Se compararmos o número de mortes de crianças por maus tratos com as mortes por causas «indeterminadas» verifica-se que Portugal é de longe o campeão - mais de 30 vezes que os mortos por causas conhecidas são os que morrem por causas indeterminadas, enquanto na França, que é o segundo em que as causas desconhecidas são mais elevadas, estas não chegarão ao triplo das mortes por causas determinadas.
Quer dizer, neste país de brandos costumes e de forjada ignorância não se sabe porque morrem tantas crianças nem, sobretudo, como é que elas morrem!
Comparando com países do Sul da Europa - supostos como mais atrasados pelos civilizadíssimos ocidentais de outras regiões europeias -, ou os «orientais» gregos, ou os italianos tão sujeitos pela Máfia, ou os «violentos» espanhóis onde os atentados bombistas campeiam, verifica-se que as mortes infantis por maus tratos são 15 a 30 vezes mais elevadas em Portugal do que naqueles países mediterrânicos!
E se compararmos os valores portugueses com os de uma sociedade tão violenta como são os EUA ficamos a «ganhar» por mais de 50%. O humor negro seria considerar as mortes infantis por maus tratos como uma consequência do desenvolvimento… Adiante.
Uma postura científica, crítica, é fundamental. E sem avançar com o conhecimento nas áreas sociais como é possível ser um cidadão digno desse nome?
A gota de água? Pois volvia mais uma vez (para variar) de missões ocorrendo bem longe do «meu» jardim à beira-mar plantado e lia, enquanto a comida não chegava, um jornal da nossa terra. Que é quando aproveito para me chegar aos jornais. Era 19 de Setembro deste ano de 2003. O jornal dizia-me ser o nosso País um recordista, ou seja que se encontrava no «topo da lista das mortes infantis por maus tratos». Isto, o título no interior do jornal Público, na página 28, que a chamada na primeira página - ilustrada com fotografia - dizia-me agora, em subtítulo, «estatísticas prejudicam (sic) Portugal no relatório da UNICEF sobres maus tratos a crianças». Pois é, prejudicam…
Não sei se é por, depois de todas décadas, ainda estar marcado pelas fortes reguadas que a minha professora de instrução primária aplicava com afinco na minha mão esquerda. Nasci canhoto - das esquerdas? - e era preciso ensinar-me que, escrever, era com a mão direita (mão direita, quer dizer a mão do Direito?)… Cumprida a sua tarefa com distinção, a minha professora foi destacada para a África, para um posto numa das colónias (ou seria Província Ultramarina?) portuguesa para aí continuar a sua gloriosa missão («fabricando» assimilados?). Enfim, tiques de uma sociedade de tão brandos costumes!
Claro, os bem pensantes de entre os intelectuais e os mais subtis cientistas sociais e políticos poderão discutir à vontade se tivemos um antigo regime, um Estado Novíssimo, ou um fascismo. O certo é que nem têm podido sequer dispor dos dados estatísticos adequados. Nem hoje poderão ter esperanças de os vir a possuir, não é?! Como podem eles - e nós - então confiar, para os seus científicos estudos, nas informações referentes aos vitimados pela actual vaga de calor (um número irrisório em comparação com os ocorridos em França) ou aos hectares de floresta consumidos pelo fogo ou, ainda, quanto à percentagem relativa aos fogos postos?
Com efeito, deveremos ter sido dos mais eficazes manholas do Mundo quando tocava a esconder ou deformar a informação… o Salazar foi, de facto, um lídimo representante desta Nação! E quanto ao presente?
Hoje por hoje, parece que - é uma opinião corrente - a possibilidade de continuar a esconder informação e de enganar, será cada mais difícil. Com efeito, atentando nos resultados do relatório da UNICEF acima referido - sempre através do Público de 19 de Setembro de 2003 -, podemos chegar a bem graves realidades:
- Portugal apresenta, em média, anual, 3,7 crianças mortas por 100.000 habitantes contra 0,1 em Espanha, 0,2 na Grécia e na Itália, 0,6 - 0,8 nos países nórdicos, 1,4 em França, 2,4 nos EUA e 3,0 no México.
- Se compararmos o número de mortes de crianças por maus tratos com as mortes por causas «indeterminadas» verifica-se que Portugal é de longe o campeão - mais de 30 vezes que os mortos por causas conhecidas são os que morrem por causas indeterminadas, enquanto na França, que é o segundo em que as causas desconhecidas são mais elevadas, estas não chegarão ao triplo das mortes por causas determinadas.
Quer dizer, neste país de brandos costumes e de forjada ignorância não se sabe porque morrem tantas crianças nem, sobretudo, como é que elas morrem!
Comparando com países do Sul da Europa - supostos como mais atrasados pelos civilizadíssimos ocidentais de outras regiões europeias -, ou os «orientais» gregos, ou os italianos tão sujeitos pela Máfia, ou os «violentos» espanhóis onde os atentados bombistas campeiam, verifica-se que as mortes infantis por maus tratos são 15 a 30 vezes mais elevadas em Portugal do que naqueles países mediterrânicos!
E se compararmos os valores portugueses com os de uma sociedade tão violenta como são os EUA ficamos a «ganhar» por mais de 50%. O humor negro seria considerar as mortes infantis por maus tratos como uma consequência do desenvolvimento… Adiante.
Uma postura científica, crítica, é fundamental. E sem avançar com o conhecimento nas áreas sociais como é possível ser um cidadão digno desse nome?