Vasco Cardoso, dirigente da JCP

Os estudantes têm muita força

A grande adesão à greve no superior mostrou a disponibilidade dos estudantes para a luta e faz prever uma participada manifestação na quarta-feira, defende Vasco Cardoso.

«O Governo tem de ouvir a opinião de milhares de estudantes»

A JCP tem «expectativas elevadas» em relação à manifestação da próxima quarta-feira, «dada a preparação que se está a fazer escola a escola», afirma Vasco Cardoso, membro do Secretariado da JCP. Contudo, o dirigente refere que «ainda há muito a fazer no esclarecimento e na consciencialização sobre a necessidade da existência de uma grande acção de massas no dia 5 de Novembro».
«Estamos no início do ano lectivo e, a manterem-se estas políticas, este ano será de árdua luta estudantil pela defesa do ensino público e um conjunto de direitos conquistados por gerações de estudantes», declara.
Vasco Cardoso considera que a manifestação não é, «nem de perto nem de longe, o fim desta luta, mas sim uma etapa que esperemos que seja de grande acção e envolvimento de milhares e milhares de estudantes». «É natural que se intensifiquem os processos, nomeadamente com as Reuniões Gerais de Alunos e as Assembleias Magnas. É nesse sentido que os militantes da JCP estão a procurar intervir junto dos colegas», informa.

Disponibilidade para a luta

O dirigente da JCP sublinha que a greve nacional dos estudantes do ensino superior que teve lugar no de dia 21 teve «um impacto de grande dimensão em todo o País». «Cerca de 80 por cento dos alunos aderiram à greve e um número muito significativo de escolas foram fechadas, havendo piquetes e concentrações de alunos. A greve fez-se sentir em todas as localidades em que existem instituições do ensino superior público», salienta Vasco Cardoso, para quem a participação de dezenas de milhar de estudantes na greve demonstra «o seu profundo descontentamento em relação ao Governo e ao brutal aumento das propinas, bem como a sua disponibilidade para a luta».
«Mesmo em situações em que as associações de estudantes são mais partidarizadas por força da influência da direita, a resposta dos estudantes foi significativa e de grande envolvimento e adesão. Isto dá confiança do ponto de vista da luta e faz sentir ao Governo a força que os estudantes têm neste momento. O Governo tem de pensar se se justifica manter a Lei de Financiamento do Ensino Superior ou se tem de partir imediatamente para a sua revogação, ouvindo a opinião de dezenas de milhares de estudantes», frisa Vasco Cardoso.
«O Governo e os interesses económicos que giram à sua volta tudo fizeram para tentar desvalorizar esta grande acção e, em alguns locais, procurar localizar a discussão apenas em torno das instituições e desresponsabilizando o executivo pelas medidas adoptadas. No entanto, a resposta dos estudantes foi esclarecedora em relação ao entendimento deste problema, à direcção que pretendem dar à luta e à sua disponibilidade para prosseguir», concluiu.

Contradições e aproveitamento político

Vasco Cardoso considera que existem associações de estudantes ligadas ao executivo de Durão Barroso que, não podendo ficar recuadas face à exigência de contestação por parte dos estudantes, procuram radicalizar as acções de luta e torná-las inconsequentes. É o caso das greves de vários dias ou por tempo indeterminado.
«Esta situação insere-se no plano das contradições do movimento estudantil. São formas inteligentes de servir os interesses do Governo nesta fase, porque não têm em conta as situações reais de cada escola nem a disponibilidade dos estudantes para estas acções», salienta.
Vasco Cardoso diz que estas acções «invariavelmente acabam por virar estudantes contra estudantes e desacreditar este modelo de luta». «É curioso que desde a direita aos esquerdistas, existe sintonia em relação a estas acções, que promovem o protagonismo deste ou daquele dirigente, mas, do ponto de vista de consequências e de envolvimento dos estudantes, são muito pouco frutíferas», comenta.
«Nós defendemos que as acções de luta sejam emanadas da discussão e da necessidade concreta dos estudantes e que sejam planeadas numa lógica de crescendo e de envolvimento estudantil, não procurando situações que à partida são muito radicalizadas e que depois são absolutamente inconsequentes», acrescenta.
Vasco Cardoso refere ainda a tentativa de aproveitamento político de algumas formações, nomeadamente na manifestação de Lisboa de dia 16, onde a presença da ATTAC foi «prontamente condenada pelos estudantes presentes e pelas AEs». Trata-se de «oportunismo de forças políticas que nada têm a ver com os estudantes nem com o ensino superior. Tentam cavalgar na luta dos estudantes para retirar protagonismo. Só alguém interessado em criar divisão junto dos estudantes é que pode enveredar por esse tipo de atitudes», frisa.

Governo quer criar ilusões

A JCP não espera uma alteração da política para o ensino superior com a nova ministra. «A experiência leva-nos a concluir que a mudança de pessoas não altera o substantivo das matérias e das políticas. A própria ministra já assumiu publicamente que não vai alterar uma vírgula às questões centrais definidas pelo Governo», diz Vasco Cardoso.
Por isso, «a alteração da ministra é indiferente para a mobilização estudantil. A greve de da 21 – já com a nova ministra – foi uma demonstração cabal desta ideia», considera o dirigente comunista.
«Era previsível que havendo uma nova ministra da Ciência e do Ensino Superior se procurasse iludir os estudantes em relação à perspectiva de mudanças de política», afirma Vasco Cardoso, aludindo a uma reunião entre Maria da Graça Carvalho e algumas associações académicas.
«Essa reunião não serviu para falar sobre as propinas, o aspecto central da luta dos estudantes, mas para discutir questões que, sendo importantes, são laterais. Desse encontro resultou o fracasso do Governo ao tentar condicionar a greve, não só porque houve um conjunto significativo de associações que não participaram na reunião, como também houve outras que a abandonaram por a ministra querer apenas discutir “trocos”», salienta.


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