Eleições inúteis
Três meses após as eleições antecipadas, os cristãos-conservadores do Partido do Povo austríaco (ÖVP) uniram-se de novo com o partido de extrema-direita de Jörg Haider.
O chanceler Wolfgang Schüssel, líder do partido mais votado nas recentes eleições legislativas voltou a apostar no FPÖ de Jörg Haider, seu antigo parceiro de coligação, para formar governo, apesar de este ter estado na origem da queda do anterior executivo e de ter sido fortemente penalizado no escrutínio de 24 de Novembro, donde saiu com apenas 10 por cento dos votos, ou seja pouco mais de um terço do que obteve em 1999.
A mensagem dos austríacos parecia óbvia: «Estamos fartos das tropelias de Haider». Todavia, assim não entenderam os cristãos-conservadores que, com uma confortável maioria (42,3 por cento), podendo escolher qualquer outro partido, preferiram reincidir num aliado instável e imprevisível, com posições racistas, xenófobas e nostálgico dos tempos da «Grande Alemanha».
A chegada ao poder, há três anos, desta formação, que alberga antigos militantes nazis, escandalizou as capitais europeias levando os outros 14 estados da União Europeia a imporem sanções diplomáticas contra a Áustria durante sete meses.
Hoje, porém, as reacções à tomada de posse deste governo, sexta-feira, 28 de Fevereiro, quase não se ouviram. O chanceler Schüssel e vice do FPÖ, Herbert Haupt, apresentaram calmamente em conferência de imprensa as grandes orientações do seu programa de governo mostrando-se unidos quanto aos grandes temas: apoio incondicional ao alargamento da União; reforma fiscal com redução de impostos de três mil milhões de euros até 2005; supressão progressiva das reformas antecipadas; aceleração das privatizações.
Na rua, atrás das barreiras da polícia uma centena de manifestantes protestava contra o novo governo, expressando a interrogação que a maioria dos austríacos se colocará neste momento: «afinal de que serviu votar se tudo ficou na mesma?».
É verdade que o FPÖ apenas ficou com três ministérios e três secretarias de Estado e que Haider não participa pessoalmente no executivo. Contudo, conseguiu manter na pasta da Justiça o seu amigo Dieter Böhmdorfer e impor a sua própria irmã, Ursula Haubner, como secretária de Estado da Defesa dos Consumidores.