Carlos Carvalhas nas Jornadas Parlamentares do PCP

Movimento popular é decisivo em favor da Paz

«A in­vasão, bom­bar­de­a­mento e ocu­pação do Iraque que a ad­mi­nis­tração Bush quer ma­te­ri­a­lizar de qual­quer ma­neira e a que o Pri­meiro-Mi­nistro por­tu­guês já deu o seu apoio im­plí­cito é uma guerra ile­gí­tima e in­justa», afirmou o Se­cre­tário Geral do PCP, Carlos Car­va­lhas, na vés­pera da gran­diosa ma­ni­fes­tação em Lisboa que mo­bi­lizou num imenso caudal de pro­testo muitas de­zenas de mi­lhares de por­tu­gueses.

Ergue-se um vasto mo­vi­mento de opo­sição à guerra

Para o líder co­mu­nista, que fa­lava na aber­tura das Jor­nadas Par­la­men­tares do PCP, re­a­li­zadas nos dias 14 e 15, no Porto, os EUA querem ocupar o Iraque mo­ti­vados apenas pelo ob­jec­tivo de «deitar mão ao pe­tróleo com ou sem aval do Con­selho de Se­gu­rança, com ou sem pre­texto, com ou sem apoio da NATO».

Con­de­nando vi­go­ro­sa­mente tais pro­pó­sitos, Car­va­lhas rei­terou a sua con­vicção de que a guerra não é uma ine­vi­ta­bi­li­dade e de que existem «al­ter­na­tivas», para o que é de­ci­sivo, su­bli­nhou, o «vasto mo­vi­mento de opo­sição e pro­testo po­pular» que se ergue por todo o mundo.

No seu im­por­tante dis­curso (que trans­cre­vemos na ín­tegra), no qual passou em re­vista os prin­ci­pais as­suntos que marcam a agenda po­lí­tica, o di­ri­gente co­mu­nista pôs em re­levo a fa­lência da po­lí­tica de «sub­missão cega ao Pacto de Es­ta­bi­li­dade», mos­trou como as po­lí­ticas ne­o­li­be­rais apenas servem os grandes in­te­resses, de­nun­ciou a brutal ofen­siva contra di­reitos e as contra-re­formas nos planos da saúde, do en­sino, da se­gu­rança so­cial e da le­gis­lação la­boral, de­fendeu a ne­ces­si­dade de um novo rumo para a eco­nomia por­tu­guesa e in­surgiu-se contra as me­xidas à cha­mada lei dos par­tidos, por trás da qual - com a co­ni­vência do PS, acusou - está uma «grave e in­to­le­rável ameaça à li­ber­dade de as­so­ci­ação» e um ataque à «in­de­pen­dência e a au­to­nomia dos par­tidos po­lí­ticos».

 

Ao ser­viços dos grandes in­te­resses


Estas nossas Jor­nadas Par­la­men­tares de­correm numa al­tura em que se adensam nu­vens ne­gras quer no plano na­ci­onal quer no plano in­ter­na­ci­onal.

Quando este Go­verno apre­sentou o seu Pro­grama na As­sem­bleia da Re­pú­blica ti­vemos a opor­tu­ni­dade de lhe dizer que o pros­se­gui­mento dos traços da po­lí­tica ne­o­li­beral do an­te­rior Go­verno e a sua de­sen­freada acen­tu­ação le­varia o país à es­tag­nação e à re­cessão.

Dis­semos sem qual­quer ar­gu­mento vá­lido em con­trário que a sub­missão cega ao «Pacto de Es­ta­bi­li­dade» que al­gumas se­manas de­pois o Pre­si­dente da Co­missão Eu­ro­peia Ro­mano Prodi, de­sig­nava de es­tú­pido, seria fatal para o apa­relho pro­du­tivo na­ci­onal.

In­sis­timos em que umas contas pú­blicas mais equi­li­bradas não de­viam passar pelo corte no in­ves­ti­mento de­sig­na­da­mente, no in­ves­ti­mento pro­du­tivo e que o Or­ça­mento devia pre­ci­sa­mente ter o papel de con­tra­ba­lançar os efeitos con­trac­ci­o­nistas que já se ve­ri­fi­cavam na eco­nomia por­tu­guesa e eu­ro­peia.

Hoje é uma evi­dência que in­fe­liz­mente tí­nhamos razão.

A queda do Pro­duto In­terno Bruto (PIB) de 0,5% em termos reais, no 3.º de 2002 o que não acon­tecia desde 1993; a di­mi­nuição de 2,2 pontos per­cen­tuais no in­ves­ti­mento; a alar­mante su­bida da taxa de de­sem­prego, que cons­titui a pior evo­lução da União Eu­ro­peia e em que avulta o ele­vado de­sem­prego fe­mi­nino e ju­venil de­sig­na­da­mente de jo­vens li­cen­ci­ados evi­den­ciam o ca­minho da re­cessão em que o país en­trou.

O de­sem­prego que tende a au­mentar é par­ti­cu­lar­mente grave para todos aqueles e aquelas que já com al­guma idade, fa­mília a cargo e com­pro­missos fir­mados, mais di­fi­cul­dades en­con­tram para ar­ran­jarem em­prego.

É também al­ta­mente des­mo­ti­vador e re­vol­tante o de­sem­prego ju­venil e de­sig­na­da­mente o dos jo­vens li­cen­ci­ados e qua­dros quando tanto se fala e in­siste na ne­ces­si­dade da for­mação e qua­li­fi­cação da mão de obra por­tu­guesa. Também por isso, é ina­cei­tável a po­sição do Go­verno face à questão das des­lo­ca­li­za­ções de em­presas. O pre­tender re­solver a questão com es­tí­mulos e sub­sí­dios, como diz o Mi­nistro da Eco­nomia, que é o que tem sido feito com os re­sul­tados co­nhe­cidos, não é mais do que sa­cudir a água do ca­pote, para não as­sumir uma ati­tude de fir­meza face a claros des­mandos, opa­ci­dades e vi­o­la­ções da lei, assim como à so­ne­gação da in­for­mação aos tra­ba­lha­dores e a sua uti­li­zação como meras peças des­car­tá­veis. O Go­verno não pode ter uma ati­tude de de­missão e com­pla­cência face às des­lo­ca­li­za­ções como as da Clarks, Ecco, Eres, Alcoa, Delphy, Ya­saki, Al­catel, Si­e­mens e ou­tras, com o seu cor­tejo de de­sem­prego, pro­blemas so­ciais e eco­nó­micos que ficam para as au­tar­quias e o Es­tado por­tu­guês, através dos fundos pú­blicos e da Se­gu­rança So­cial, su­portar e re­solver.

A aposta no mo­delo de baixos sa­lá­rios e do tra­balho sem di­reitos, das pri­va­ti­za­ções de ala­vancas fun­da­men­tais da eco­nomia fi­cando o país cada vez mais pri­si­o­neiro do ca­pital es­tran­geiro e dos cen­tros de de­cisão ex­ternos, bem como, a aposta na sub­con­tra­tação des­va­lo­ri­zando e não de­fen­dendo o apa­relho pro­du­tivo na­ci­onal teria for­ço­sa­mente de dar nisto.

A aposta nas po­lí­ticas ne­o­li­be­rais ao ser­viço dos grandes in­te­resses e de­sig­na­da­mente, do ca­pital fi­nan­ceiro, mostra as suas con­sequên­cias por toda a parte.

Face à crise, ao de­sem­prego, ao au­mento da pre­ca­ri­e­dade o Go­verno aponta a “fuga para a frente” e pro­mete que lá para o fim do ano as coisas me­lhoram. São as eternas pro­messas para que o “pa­gode” se re­signe e aguente!

O ine­fável Mi­nistro do Tra­balho, lá con­tinua na sua prá­tica e na sua crença de que uma men­tira muitas vezes re­pe­tida acaba por ser ver­dade. Mas a men­tira e o mar­ke­ting po­lí­tico não al­teram a re­a­li­dade.


 

A crise não é para todos

 

Também o Sr. Pri­meiro-mi­nistro con­tinua a in­sistir que todos temos que nos sa­cri­ficar, que a crise atinge todos. É mais uma hi­po­crisia que não re­siste à prova dos factos.

Bas­taria re­cor­darmos-lhe os be­ne­fí­cios dados à banca e o que esta paga de taxa efec­tiva de IRC; o offshore da Ma­deira; o caso dos as­ses­sores de um co­nhe­cido mi­nistro e os seus cho­rudos or­de­nados; os novos ges­tores hos­pi­ta­lares e o que eles vão custar ao erário pú­blico! Bas­taria re­cordar-lhe o exemplo desse mag­ní­fico com­bate às mor­do­mias que re­pre­senta (a no­tícia é cer­ta­mente uma ca­bala mi­se­ra­bi­lista) a compra de um carro por 30 mil contos para a pre­si­dência do Con­selho de Mi­nis­tros!!! Em tempo de con­tensão é obra!

A prova da fan­tás­tica con­cen­tração da ri­queza no nosso país e de que há quem não só não sinta a crise como até ganhe com ela, está também nos factos evi­dentes em re­lação ao con­sumo da cha­mada so­ci­e­dade civil: não se vendem os carros de baixa ci­lin­drada, mas con­ti­nuam em cres­ci­mento as vendas dos carros de alta gama (antes do lan­ça­mento do novo Porche já havia 50 carros en­co­men­dados, com um preço que ronda os 138 mil euros!); não se vendem as con­fec­ções de série, mas con­ti­nuam a vender-se as marcas de pres­tígio e a alta cos­tura; não se vendem casas e an­dares mais mo­destos, mas es­gotam-se os an­dares e as casas dos con­do­mí­nios fe­chados e de luxo. É o re­trato da crise à por­tu­guesa...

É ur­gente e ne­ces­sário um outro ca­minho para a eco­nomia por­tu­guesa, in­clu­sive para fazer face ao clima re­ces­sivo.

A de­fesa e va­lo­ri­zação da pro­dução na­ci­onal, o es­tí­mulo ao in­ves­ti­mento e o in­ves­ti­mento pú­blico, a de­fesa do mer­cado na­ci­onal e da pro­dução por­tu­guesa numa apli­cação in­te­li­gente das re­gras co­mu­ni­tá­rias, tal como ou­tros países o fazem; o com­bate à evasão fiscal, o corte dos be­ne­fí­cios fis­cais às ac­ti­vi­dades fi­nan­ceiras e es­pe­cu­la­tivas; uma me­lhor e mais justa dis­tri­buição do Ren­di­mento Na­ci­onal com a va­lo­ri­zação e dig­ni­fi­cação do tra­balho são di­rec­ções que urge serem ma­te­ri­a­li­zadas. Per­mitam-me que daqui saúde os agri­cul­tores e os pro­du­tores de leite e os seus justos pro­testo. É ina­cei­tável que de­pois dos apelos ao au­mento da pro­dução e da pro­du­ti­vi­dade feitos por go­vernos e di­versas iden­ti­dades fossem agora os pro­du­tores a pagar a fac­tura aos bu­ro­cratas de Bru­xelas.

O país não pode con­ti­nuar a atrasar-se e a com­pro­meter o seu fu­turo.

Numa al­tura em que o Go­verno con­cre­tiza uma brutal ofen­siva contra di­reitos du­ra­mente con­quis­tados e avança com as suas contra re­formas em re­lação à saúde, ao en­sino, à se­gu­rança so­cial e à le­gis­lação la­boral, o Par­tido so­ci­a­lista não só deu o seu apoio ao «Pro­grama de Es­ta­bi­li­dade e Cres­ci­mento» do Go­verno, como pro­cura fixar na agenda po­lí­tica até Abril uma ale­gada “re­forma do sis­tema po­lí­tico” que se fosse con­cre­ti­zada sig­ni­fi­caria uma gra­vís­sima des­fi­gu­ração do re­gime de­mo­crá­tico cons­ti­tu­ci­onal.

E tais com­por­ta­mentos, acordos e co­ni­vên­cias do PS, não são mi­ti­gá­veis nem se­cun­da­ri­zados com o agendar de uma in­ter­pe­lação sobre as ques­tões so­ciais. Além de que não se pode ficar pelas crí­ticas justas sobre as con­sequên­cias de uma po­lí­tica quando há com­pro­me­ti­mentos efec­tivos com as suas causas.

Quanto à dita re­forma do sis­tema po­lí­tico e no que res­peita ao fi­nan­ci­a­mento dos par­tidos o que se pre­tende é en­cher os co­fres do PSD e do PS à custa do Or­ça­mento de Es­tado, em­bora tudo en­fei­tado numa in­tensa re­tó­rica em torno de con­ceitos como «rigor e trans­pa­rência».

E neste ca­pí­tulo a mai­oria de di­reita já não vê di­fi­cul­dades or­ça­men­tais nem crises, nem exem­plos a dar...

Quanto à lei dos par­tidos, PS, PSD, querem impor por via legal aos ou­tros par­tidos e de­sig­na­da­mente ao PCP, um mo­delo único de fun­ci­o­na­mento e or­ga­ni­zação in­ternos. Um mo­delo à imagem e se­me­lhança dos par­tidos da di­reita. Quer-se a in­ge­rência es­tatal na vida in­terna dos par­tidos li­qui­dando a li­ber­dade e a so­be­rania de de­cisão dos seus mem­bros.

É ne­ces­sário com­bater e des­mas­carar tais pro­pó­sitos que con­fi­guram uma grave e in­to­le­rável ameaça à li­ber­dade de as­so­ci­ação contra a in­de­pen­dência e a au­to­nomia dos par­tidos po­lí­ticos.

 

Não à guerra

 

Per­mitam-me também uma re­fe­rência às ques­tões da guerra e da paz para lem­brar e de­sig­na­da­mente ao Go­verno que o ar­tigo 7º da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa é muito claro ao de­ter­minar que Por­tugal se rege nas re­la­ções in­ter­na­ci­o­nais pelos prin­cí­pios «da igual­dade entre Es­tados, da so­lução pa­cí­fica dos con­flitos in­ter­na­ci­o­nais, da não in­ge­rência nos as­suntos in­ternos dos ou­tros Es­tados e da co­o­pe­ração com todos os ou­tros povos para a eman­ci­pação e o pro­gresso da hu­ma­ni­dade».

É ne­ces­sário por isso, que o Pri­meiro-Mi­nistro diga aos por­tu­gueses com que ar­gu­mentos e ra­zões de ordem ju­rí­dica, de­mo­crá­tica e ética o Go­verno quer atrelar Por­tugal a uma guerra “pre­ven­tiva”. Ou, dito de outra ma­neira: em que prin­cí­pios e ar­tigos é que a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa ou a Carta das Na­ções Unidas per­mitem uma guerra “pre­ven­tiva”? Onde é que o con­ceito de “guerra pre­ven­tiva” está le­gi­ti­mado ou va­li­dado? Ou qual é a dis­po­sição da Carta das Na­ções Unidas que per­mite mudar o re­gime de tal ou tal país por mais ne­ga­tivo que ele seja?

A in­vasão, bom­bar­de­a­mento e ocu­pação do Iraque que a Ad­mi­nis­tração Bush quer ma­te­ri­a­lizar de qual­quer ma­neira e a que o Pri­meiro Mi­nistro por­tu­guês já deu o seu apoio im­plí­cito é uma guerra ile­gí­tima e in­justa, que con­traria o es­pí­rito e a letra quer da Cons­ti­tuição Por­tu­guesa quer da Carta das Na­ções Unidas.

E é também ne­ces­sário que se saiba que a Re­so­lução 1 441do Con­selho de Se­gu­rança não au­to­riza a guerra.

O Pri­meiro-mi­nistro e o «Mo­derno» Mi­nistro da De­fesa podem gostar da vas­sa­lagem, podem adorar o Sr. Bush e con­sortes mas de­viam saber que Por­tugal não é um pro­tec­to­rado ame­ri­cano, nem uma “Re­pú­blica das ba­nanas” à beira mar plan­tada! Só um go­verno de có­coras po­deria ter es­crito um co­mu­ni­cado após a en­ce­nação de Collin Powell no Con­selho de Se­gu­rança, afir­mando que Por­tugal re­gistou es­pe­ci­al­mente, note-se bem, es­pe­ci­al­mente as «gra­va­ções e as fotos ti­radas por sa­té­lite que in­di­ciam a ma­nu­tenção pelo Iraque de armas de des­truição ma­ciça, no­me­a­da­mente quí­micas e bi­o­ló­gicas». O ri­dí­culo mata!

Também só com pro­funda hi­po­crisia e fal­si­dade o Go­verno pode ar­gu­mentar que o que está em causa é a de­mo­cracia e o cum­pri­mento das Re­so­lu­ções da ONU.

O cri­tério da de­mo­cracia é usado pelo Go­verno por­tu­guês e pelos EUA em re­lação ao Iraque mas, por exemplo, já não o aplicam à Arábia Sau­dita ou ao Pa­quistão com a agra­vante deste país pos­suir a bomba ató­mica!

Quanto às Re­so­lu­ções da ONU é ver o afã com que andam Bush, o Pri­meiro Mi­nistro e a di­plo­macia por­tu­guesa para que as mesmas sejam apli­cadas em re­lação a Is­rael e à si­tu­ação da Pa­les­tina... É a pos­tura dos dois pesos e duas me­didas. Saddam Hus­sein é um cri­mi­noso e sem dú­vida que o é. Como já era no tempo da guerra com o Irão e no tempo em que mas­sa­crou mi­lhares de co­mu­nistas, uma e outra coisa com o apoio dos EUA. Mas Sharon é um im­po­luto de­mo­crata res­pei­tador es­cru­pu­loso dos di­reitos hu­manos!

Também a nova pro­posta franco alemã, o veto na Nato de três países e a re­acção ar­ro­gante de Bush ti­veram o mé­rito de tornar ainda mais claro para a opi­nião pú­blica:

1.º que há al­ter­na­tivas à guerra;

2.º que o Im­pério quer ocupar o Iraque e deitar mão ao pe­tróleo com ou sem aval do Con­selho de Se­gu­rança, com ou sem pre­textos, com ou sem apoio da NATO!

À ad­mi­nis­tração Bush pouco lhe im­porta a cha­cina das po­pu­la­ções in­de­fesas, os tais «danos co­la­te­rais»; a de­sin­te­gração do Iraque; a sorte do povo pa­les­ti­niano; a in­dig­nação, ra­di­ca­li­zação e re­volta do mundo mu­çul­mano. E nem se­quer quer ad­mitir que uma tal guerra por tão in­justa contém em si todo o caldo de cul­tura para im­pul­si­onar uma nova vaga de aten­tados ter­ro­ristas. O cheiro do pe­tróleo é mais forte.

É triste ver o Por­tugal de Abril a apoiar sem «honra nem glória», um cow boy que em Washington fala em termos de «cru­zada» e que mede os di­reitos do homem em termos de barris de pe­tróleo!

É triste ver um Pri­meiro Mi­nistro de Por­tugal ir a correr a Es­panha para apertar a mão a Aznar e aí re­a­firmar a sua vas­sa­lagem a Bush, ao im­pério e o seu ali­nha­mento pela guerra.

Não há guerras ci­rúr­gicas nem eu­fe­mismos que es­condam a car­ni­fi­cina.

Na cha­mada guerra do Golfo também se falou em bombas in­te­li­gentes, em bom­bar­de­a­mentos ci­rúr­gicos e os re­sul­tados foram mais de 150 000 mortos, prin­ci­pal­mente civis, como re­velou in­dig­nado Ramsay Clark, an­tigo Pro­cu­rador Geral dos EUA.

A opi­nião pú­blica pode ter um papel de­ter­mi­nante. É ne­ces­sário con­denar esta guerra e pará-la antes que ela co­mece.

É ne­ces­sário re­jeitar a ar­ro­gância com que o im­pe­ri­a­lismo norte ame­ri­cano se apre­senta como dono, se­nhor e po­lícia do Pla­neta.

É ne­ces­sário, como está a acon­tecer por todo o mundo que se le­vante um vasto mo­vi­mento de opo­sição e pro­testo po­pular.

Por­tugal não é nem um quintal do Go­verno da di­reita, nem um pro­tec­to­rado ame­ri­cano! Nesta questão é também la­men­tável que uma força po­lí­tica de­mo­crá­tica en­contre «des­culpas de mau pa­gador» para ficar no limbo quando em Es­panha, em França, na Ale­manha, na Itália e na Grécia, os res­pec­tivos Par­tidos So­ci­a­listas apoiam as ma­ni­fes­ta­ções contra a guerra que se re­a­lizam este sá­bado, nos seus países.

O que dirá o PS ao facto de João Paulo II ter en­viado a Bagdad o Car­deal francês Ro­bert Et­che­garay! Foi também fazer pro­pa­ganda ao re­gime ira­quiano? Ou será que o Papa que até vai re­ceber Tareq Aziz, é um pe­ri­goso amigo do di­tador Saddam?

O PCP apela aos tra­ba­lha­dores, à ju­ven­tude, a todos os de­mo­cratas que se mo­bi­lizem contra a guerra e que se in­cor­porem nas ma­ni­fes­ta­ções que amanhã se re­a­lizam pro­mo­vidas por mais de 50 or­ga­ni­za­ções so­ciais e vá­rias forças po­lí­ticas.

 

Por uma in­ter­venção
exi­gente e qua­li­fi­cada

 

O nosso Grupo Par­la­mentar tem dado uma im­por­tante con­tri­buição para a re­so­lução dos pro­blemas do país. Com as suas pro­postas, os seus pro­jectos-lei, as suas re­so­lu­ções, o grupo par­la­mentar em nome do Par­tido tem mos­trado que há al­ter­na­tivas, que é pos­sível uma po­lí­tica di­fe­rente. Po­demos dizer que a pro­posta é o que de mais sig­ni­fi­ca­tivo ca­rac­te­riza a pos­tura do grupo par­la­mentar do PCP. É também, por isso, de grande im­por­tância uma es­treita li­gação e co­or­de­nação com as di­fe­rentes frentes de tra­balho e or­ga­ni­za­ções que, di­a­lec­ti­ca­mente com o grupo par­la­mentar, podem dar um novo e im­por­tante im­pulso no nosso tra­balho.

Por­tugal não está con­de­nado ao atraso, a dis­tan­ciar-se da média eu­ro­peia, a ocupar a cauda da Eu­ropa e a acen­tuar as de­si­gual­dades so­ci­o­e­co­nó­micas.

Pela ini­ci­a­tiva po­lí­tica, pela in­ter­venção, pela pro­posta, pela apre­sen­tação de me­didas e so­lu­ções e pela mo­bi­li­zação de von­tades tudo fa­remos para der­rotar esta po­lí­tica er­rada e in­justa e para cons­truir uma al­ter­na­tiva de­mo­crá­tica.



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