Brasil em luta contra a fome
A promessa do novo presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, de combater a fome no Brasil, começa a tomar forma. A 3 de Fevereiro, o ministro da Segurança Alimentar, José Graziano, lança o programa oficial «Projecto Fome Zero» na cidade de Guaribas, uma das mais pobres do país.
O Programa Fome Zero, cujo custo estimado é de 2,5 mil milhões de reais por ano, inclui, entre outros aspectos, o Cartão-alimentação no valor de 50 reais mensais, Sede Zero, Melhoria Habitacional, Analfabetismo Zero e Construção de Unidades Sanitárias Populares.
Segundo informações do governo, o Piauí receberá do programa 10 milhões de reais para a recuperação de casas, estando previsto o lançamento de um protótipo de habitação popular, diferenciada para cada família, que recupere as características arquitectónicas da região, semi-desértica.
Em Guaribas e Acauã, na região sul do Estado, serão ainda disponibilizados recursos financeiros e humanos para a alfabetização de 1005 adultos e será entregue a mil famílias o cartão magnético que dará direito a cada uma a um consumo de 50 reais por mês. Estão igualmente previstos grandes investimentos em transportes e no desenvolvimento da agriculturas.
Para além do Piauí, as primeiras regiões a ser contempladas serão Pernambuco e o norte de Minas, onde o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registou mais habitantes abaixo do limiar da pobreza.
Feijão com arroz
No seu discurso de tomada de posse, no início do ano, Lula anunciou que o seu objectivo seria dar condições aos brasileiros para poderem comer três vezes ao dia, ou seja, recorrendo a uma popular expressão brasileira, «recuperar o feijão com arroz». No dia 3, o ministro da Defesa, José Viegas, informava que a compra de 12 aviões para substituir os caça Mirage ficava adiada por um ano, e que esses recursos seriam utilizados no programa de combate à fome.
No próprio dia da tomada de posse do governo, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, após recordar os militantes políticos mortos durante o regime militar, sublinhou que o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) foi eleito para fazer uma «revolução social».
«Vamos fazer uma verdadeira revolução social», prometeu, sublinhando não ser «aceitável que novamente o país resolva os seus problemas financeiros, tenha crescimento e isso não se transforme em maior participação do trabalho no rendimento nacional».
Segundo Dirceu, «é preciso defender o interesse nacional, a produção e o desenvolvimento, mas a contrapartida é a distribuição de rendimento, a justiça social e a eliminação da pobreza e da fome».
Para o ministro, tido como o homem forte do governo, para que o Brasil ocupe o seu lugar no mundo é preciso que o «povo ocupe o seu lugar no Brasil», o que em seu entender só será possível com «uma grande transformação social, uma verdadeira revolução social».
Garantindo não ter medo «de dizer essa palavra: uma verdadeira revolução social», José Dirceu incentivou os seus pares a ir à luta, que «a causa é justa e o povo merece».