«Always on» Sempre ligado

Francisco Silva

Os termos provenientes da língua inglesa ou, talvez melhor seja dito, de uma língua franca resultante daquela, vão-nos entrando por aí. Agora, surgiu-nos a expressão always on, traduzível, por exemplo, por «sempre ligado». Mas, como é evidente, existem outras possibilidades de tradução para a nossa língua. Já ouvi dizer, a quem vinha dos computadores, a expressão «sempre em cima» - o «em cima» a traduzir, correctamente, a preposição «on». Interrogado sobre o porquê dessa tradução, esse meu amigo, respondeu que não sabia a razão, tinha-lhe saído assim mesmo, naturalmente… E eu a querer ficar-me pelo «sempre ligado»!

Outro amigo, a responder: always on? Hum! «Sempre em linha». Pensando melhor: Não. «Sempre em linha» cheira a muito à comutação de circuitos, ao tradicional serviço telefónico. «Sempre ligado» sempre se conota mais com a Internet, com a comutação de pacotes, com a Modernidade. E, que dizias ainda, o outro das tecnologias da informação traduzia «sempre em cima». Nãã, é demasiado à letra. Eu, seguindo o raciocínio: Contudo, talvez seja demasiado à letra, mas, na verdade é expressão muito própria dos elementos que compõem os computadores, como os interruptores lá de casa, off, em baixo ou desligados, ou on, em cima ou ligados.

Então, a expressão always on apareceu à luz do dia assim como que de repente. E não nos apareceu sozinha, na sua pureza. Apareceu-nos em consequência da [mais recente versão da] banda larga. A banda larga que significa, desde logo, maiores velocidades de transmissão para o acesso à Internet (cerca de 10 vezes a dos acessos via serviço telefónico). Uma banda larga - esta que agora nos surgiu - a ser-nos disponibilizada quer através dos acessos por cabo à televisão, quer, ainda mais recentemente, no nosso País, através de sistemas ADSL1 operando através do mesmo par de cobre que a linha telefónica, mas sendo dela independente.

Na verdade, apanhados, nós, na confluência de duas rotas. Uma a vir da tradição quantitativa da banda larga; e, com a Internet, já não apenas com o objectivo de serem conseguidas melhores e mais nítidas imagens, mas outrossim, e com alguma prioridade, com a vontade do utente numa maior rapidez de interactuação com os sítios procurados, e nomeadamente na apresentação das páginas web por si chamadas ao seu ecrã. A outra rota - e não se diz que esta seja completamente independente da primeira -, dirigida às ligações em permanência, ao always on, portanto, a contrapor-se aos acessos não permanentes através do serviço telefónico.

(É claro que a resolução cabal das questões do always on, da rapidez de apresentação e da qualidade da imagem, não depende apenas da capacidade da ligação do utente ao fornecedor de serviços Internet, de o acesso ser de banda larga (admitindo-se que o computador do utente possui as características adequadas). Tem também muito a ver com tudo o resto. Ou seja, com os recursos comuns - desde as características das infra-estruturas de longa distância das telecomunicações às próprias dos servidores a que se pode aceder. Mas o mudar do acesso telefónico comutado para esta banda larga é, fora de dúvida, um passo essencial.)

Mas já antes, num outro plano, o always on tinha feito, sob diferentes roupagens, a sua brilhante aparição: o plano dos serviços de telemóvel. Com efeito, querendo o seu utente, este pode estar acessível e pode dispor do seu acesso em permanência. Este facto novo, e de tão durável insistência, chegou mesmo a tornar-se num incómodo para muitos, tanto enquanto utentes directos, como enquanto terceiros próximos. E os próprios a não terem desculpas técnicas para não estarem acessíveis em qualquer lugar onde se encontrem (com poucas excepções, como nas estações do metropolitano em Lisboa) e em qualquer momento do dia e da noite.

Mais recentemente, o always on continuou a progredir na área da Internet, a entrar pelas nossas vidas dentro. É o alastrar do online permanente quer nos locais de trabalho, quer em locais públicos quer nas nossas residências (supondo que os correspondentes recursos possam ser dispendidos). Ou seja, com a instalação de pequenas e grandes W-LANs (Wireless Local Access Networks - redes rádio para acesso local), tornou-se possível ao utente, mais ao seu computador portátil, “estarem” sempre na Internet, online, sem mais imobilizações nem fios. E a preços da ordem dos habituais em electrodomésticos de gamas vulgares.

E tudo isto antes mesmo da (in-)famosa terceira geração telemóvel, o UMTS2, efectuar a sua entrada no terreno!

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1 ADSL – Assynchronous Digital Subscriber Line

2 UMTS – Universal Mobile Telecommunications Services



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