O Massacre de Cassinga

Carlos Lopes Pereira

A 4 de Maio de 1978, tropas especiais do regime racista sul-africano, helitransportadas e com o apoio da força aérea, atacaram o campo de refugiados namibianos em Cassinga, no Sul de Angola, a cerca de 250 quilómetros da fronteira com a Namíbia. Massacraram centenas de pessoas – houve pelo menos 600 mortos e 350 feridos graves –, mulheres, crianças e velhos indefesos, antes de se retirarem, forçadas pela chegada de forças internacionalistas cubanas, que lutavam ao lado do exército angolano.

Estacionados a cerca de 15 quilómetros de Cassinga, os cubanos acudiram em defesa do acampamento, tendo sido flagelados pelos aviões inimigos e sofrido 16 mortos e 76 feridos. A intervenção «impediu o extermínio total dos refugiados, já que os sul-africanos se retiraram sem combater», descrevem, hoje, intervenientes. Na operação «participaram 12 aviões Mirage, quatro C-130 e oito helicópteros da força aérea sul-africana, que bombardearam e metralharam quem estava no acampamento». As forças cubanas resgataram os sobreviventes, cerca de três mil refugiados.

Os sul-africanos atacaram, na mesma altura, em Chetequera, no Cunene angolano, uma base da SWAPO (Organização do Povo do Sudoeste Africano), o movimento de libertação nacional namibiano dirigido por Sam Nujoma, que haveria de ser, a partir de 1990, o primeiro presidente do país libertado.

O 40.º aniversário do Massacre de Cassinga foi agora comemorado em Angola, na Namíbia e em Cuba, tendo merecido destaque na imprensa dos três países.

O presidente angolano, João Lourenço, deslocou-se a Windhoek para assinalar a efeméride e homenagear as vítimas. Foi distinguido pelo seu homólogo namibiano, Hage Geingob, com a mais alta condecoração do país.

«Os namibianos mantiveram o ímpeto da sua luta de libertação, apesar do massacre no campo de refugiados de Cassinga pelos racistas sul-africanos», lembrou João Lourenço durante a cerimónia. «Foi um facto trágico na sua história, insuficiente para impedir a vitória namibiana contra a ocupação colonial do regime do apartheid», considerou.

Já o presidente Hage Geingob reafirmou que Angola e a Namíbia são vizinhos fraternos e unidos por laços históricos, de cultura e de sangue.

O 4 de Maio é feriado nacional na Namíbia, que partilha com o seu vizinho do Norte mais de 1300 quilómetros de fronteira. Como escreveu o Jornal de Angola, em Luanda, «a data reveste-se de um grande simbolismo, não apenas para Angola e para a Namíbia, mas para o continente». O diário sublinha que além de «um hino à resistência contra o regime segregacionista do apartheid», o 4 de Maio «entrou para a história da África Austral» como símbolo da solidariedade entre os povos.

Luanda e Windhoek anunciaram que vão construir memoriais para homenagear as vítimas do massacre sul-africano, um em Cassinga e outro em Chetequera.

Os 40 anos do massacre foram, nestes dias, também assinalados em Havana. Foram enaltecidos os laços de amizade que unem os povos de Cuba e da Namíbia, bem como as actuais relações de cooperação entre os dois estados. E recordado que crianças e jovens sobreviventes de Cassinga foram para Cuba receber formação gratuita, na primeira escola criada na Ilha da Juventude para apoiar a SWAPO.

 



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