Professores de Chicago em luta
Quase 30 mil professores de Chicago, no Illinois, recorreram à greve, sexta-feira passada, para exigir justiça fiscal, serviços públicos de qualidade e o descongelamento das carreiras docentes. Sendo a segunda greve convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores de Chicago (CTU, na sigla inglesa) nos últimos quatro anos, trata-se, contudo, de um protesto que marca uma ruptura com uma estratégia laboral que, há décadas, amarra a luta dos trabalhadores.
«Vamos fazer greve por motivos que os juízes podem considerar ilegais», explicou o vice-presidente do CTU, Jesse Sharkey, numa conferência em Nova Iorque, «mas nós consideramos esta greve moral e justa. Talvez os juízes discordem de nós. Se assim for, nós também discordaremos deles».
Com variações de escala, todos os 50 estados restringem legalmente o direito à greve. Não é permitido, por exemplo, recorrer à greve sem antes terem sido esgotados todos os recursos judiciais para pôr termo ao diferendo laboral. Taxativamente proibidas estão todas as «greves políticas», ou seja, as greves motivadas por assuntos que ultrapassem de alguma forma as questões estritamente circunscritas ao local de trabalho.
Na memória dos grevistas de Chicago está ainda a greve, em 2005, dos trabalhadores dos transportes públicos de Nova Iorque, declarada ilegal por um tribunal que sentenciou a prisão do presidente do sindicato e a aplicação de multas milionárias à organização, destruindo-a. Mas, mesmo cientes dos perigos, os professores aprovaram a greve, em Dezembro passado, com 86 por cento de votos a favor.
A justeza e oportunidade da greve confirmou-se, esta sexta-feira, numa adesão de 100 por cento mas, apesar disso, os trabalhadores estão preparados para enfrentar uma declaração de ilegalidade. É que se por um lado os professores decidiram não esperar pela conclusão dos múltiplos, morosos e truncados processos judiciais que opõem o CTU à administração da Cidade de Chicago, esta greve afirmou-se também pela amplitude solidária dos seus fins. Pode, portanto, ser duplamente ilegal.
Um ano sem orçamento
do erário público
Os professores públicos, que em dia de greve inundaram as principais avenidas da metrópole envergando t-shirts vermelhas, exigem mais e melhores serviços públicos, rejeitando, simultaneamente, os cortes orçamentais que a administração da cidade de Chicago quer impor. Para a presidente do CTU, trata-se de uma opção de classe: «O Illinois é o único estado da América em que os impostos estaduais não são progressivos. (…) Para os banqueiros não pagarem impostos, as crianças de Chicago, especialmente os negros de Chicago Sul e Chicago Ocidental, estão a pagar a conta. Mais e mais serviços públicos estão a fechar portas. Não podemos continuar assim», disse a dirigente sindical em conferência de imprensa.
Na raiz do desmoronamento dos serviços públicos está um braço-de-ferro entre o governador do Illinois, Bruce Rauner, do Partido Republicano, e as duas câmaras legislativas estaduais que mantêm o Estado refém há um ano. Em 2015, Rauner ameaçou que não promulgaria o orçamento de 2016 se não fossem aprovadas leis que demolissem os direitos dos funcionários públicos, proibindo os sindicatos do sector público e despedindo dezenas de milhares de trabalhadores. O Partido Democrata procurou obedecer, dentro das suas possibilidades, aos desígnios republicanos. Em Chicago, por exemplo, o presidente democrata mandou encerrar 50 escolas nos bairros pobres. Mas não foi suficiente para Rauner e, em Junho passado, o governador cumpriu a sua promessa, mantendo desde então o Illinois sob estranho epíteto de «único Estado dos EUA sem orçamento».
Enquanto democratas e republicanos se têm servido da crise política para destruir as funções sociais do Estado e atacar os trabalhadores, uma nova mentalidade emerge em Chicago. Segundo um estudo levado a cabo na última semana pelo Chicago Tribune, os grevistas recolhem três vezes mais apoio popular do que o governador, uma conclusão de resto demonstrada nas ruas, na sexta-feira, pelas mais de 40 organizações e sindicatos que se juntaram à manifestação dos professores.
Rectificação: No artigo «O homem na jaula», publicado na edição de 24 de Março, o nome de Phillips Verner saiu erradamente como Paul Verner. Pedimos desculpa pelo lapso.