O Partido de Abril
No ano em que se assinalam 40 anos da Revolução de Abril, é impossível abordar o percurso, a luta e o projecto do Partido Comunista Português sem evocar de maneira especial a sua contribuição decisiva para aquele que é o mais luminoso período da História nacional: para que ele fosse possível; para que assumisse as características que assumiu; para que permanecesse, ainda hoje, vivo na consciência dos trabalhadores e do povo.
Uma contribuição que, longe de se iniciar com a madrugada libertadora de 25 de Abril, teve a sua origem muito antes: mais precisamente no momento em que, ao contrário do que sucedeu com todos os outros partidos e agrupamentos políticos existentes à data do golpe militar de 28 de Maio de 1926, o PCP optou por resistir e prosseguir na clandestinidade a luta contra o fascismo. Por esta opção, muitos dirigentes e militantes comunistas passaram longos anos na prisão e sofreram violentas torturas; vários perderam a vida.
De facto, foi o PCP que, durante mais de quatro décadas, organizou e mobilizou a classe operária, os trabalhadores, a juventude e amplas camadas do povo contra a política fascista de exploração, empobrecimento e guerra. Esta luta, orientada numa perspectiva revolucionária teve no VI Congresso do PCP (realizado em 1965), com a aprovação do Programa para a Revolução Democrática e Nacional, um instrumento que abriu profundas e irreparáveis brechas na muralha da ditadura, sendo determinante para o seu derrube em 1974.
Transformação e progresso
Nos meses da Revolução, o PCP foi igualmente a força mais consequente e combativa, impulsionando a luta popular pelo fim de todos os resquícios de fascismo, pela democracia e as amplas liberdades, pela melhoria das condições de vida do povo e os direitos políticos, económicos e sociais, pelas nacionalizações, o controlo operário e a reforma agrária – enfim, por um Portugal democrático a caminho do socialismo. O Portugal que Abril não só mostrou ser possível, como começou a concretizar, e que foi consagrado, nos seus aspectos centrais, na Constituição da República, a que justamente chamamos, ainda hoje, «Constituição de Abril».
Durante o processo revolucionário (como antes e depois, aliás), o PCP nunca ocultou os seus objectivos e agiu sempre em coerência com eles. Outros houve, porém, que dizendo-se pela democracia, a golpearam; que dizendo-se pelas liberdades, as atacaram; que dizendo-se pelo socialismo, o sabotaram. A Revolução de Abril ficou inacabada.
Tempos de resistência
Iniciada a contra-revolução com o I Governo Constitucional (do PS/Mário Soares, apoiado por PSD e CDS), o PCP esteve uma vez mais na primeira linha da luta – que é, uma vez mais, de resistência – em defesa das conquistas da Revolução. Desde esse já longínquo ano de 1976, e até hoje, por acção de sucessivos governos do PS, PSD e CDS, as realizações de Abril foram destruídas ou, pelo menos, fortemente golpeadas: quer ao nível das conquistas económicas, como das nacionalizações, do controlo operário e da reforma agrária (já revertidas), quer dos direitos sociais, culturais e mesmo políticos.
Este violento ataque contra tudo o que em Abril foi conquistado, acelerado com a adesão do País à então CEE, contou sempre com a tenaz resistência dos trabalhadores e de amplas camadas populares, decididas a manter o mais possível os seus direitos, as suas garantias e os seus postos de trabalho e a salvaguardar a soberania do seu País. Resistência essa que teve e tem no PCP, no seu Programa e no seu generoso colectivo, o mais sólido dinamizador.
Na luta que hoje trava por uma política patriótica e de esquerda, parte integrante da luta pela Democracia Avançada que propõe ao povo português, o Partido Comunista Português inspira-se nos valores de Abril e assume a importância decisiva da sua projecção e consolidação no presente e no futuro do País. Por todas estas razões, é inquestionavelmente o Partido de Abril.