Agressão imperialista à Líbia

NATO bombardeia<br> canais de televisão

A Aliança Atlântica bombardeou quatro canais de televisão líbios. Os ataques mataram três trabalhadores e ocorreram no contexto de divisões interna no sei dos amotinados.

«Tudo vale para justificar os crimes levados a cabo contra Líbia»

Tal como já havia feito aquando da guerra à Jugoslávia, em 1999, a NATO voltou a alvejar a estação de televisão do país agredido. A «humanitária» operação, realizada sábado contra o canal satélite Al-Jamahiriya, e, antes, contra três outras emissoras estatais sem expressão internacional, vitimou três profissionais e feriu pelo menos 15.

O director da empresa, Jaled Bazilia, foi porta-voz da revolta dos trabalhadores da estação e do povo líbio, qualificando o bombardeamento como «um acto de terrorismo internacional» que viola as próprias resoluções do Conselho de Segurança da ONU, aprovadas em Março.

Bazilia lembrou ainda que «somos empregados da televisão estatal, não somos um objectivo militar nem comandantes do exército, e não constituímos uma ameaça para os civis», mas no campo imperialista tudo vale para justificar as acções criminosas levadas a cabo na Líbia.

Sem corar, o porta-voz da Aliança Atlântica, Roland Lavoie, defendeu o bombardeamento porque, disse, era preciso silenciar a propaganda do regime liderado por Muammar Kahdafi, que usa a televisão para difundir as suas mensagens e apreciação sobre a situação no país, fazendo, por isso, a Al-Jamahiriya parte do «aparelho que reprime os civis».

 

Divisões em Bengasi

 

O acto terrorista levado a cabo pelos imperialistas ocorreu quando no seio dos amotinados de Bengasi se travam lutas intestinas. Já esta semana, pelo menos 15 rebeldes morreram em combates entre facções, situação que levou o chamado Conselho Nacional de Transição (CNT) a decidir acabar com todas as milícias, colocando-as sob um comando único.

A tarefa parece difícil, senão impossível, tanto mais que, na passada quinta-feira, foi abatido o comandante Abdel Younis. As circunstâncias da morte do ex-ministro do Interior do governo Líbio - que desertou do regime para liderar ao levantamento armado na Cirenaica - não são ainda claras, mas sabe-se que Younis terá sido detido pelos seus próprios homens e, posteriormente, abatido junto com dois dos seus coronéis. Os corpos foram queimados.

As agência Lusa relata os últimos combates entre grupos em Bengasi como um confronto entre fiéis ao CNT e apoiantes de Muammar Kahdafi que se terão evadido da prisão. A versão não foi confirmada e o governo líbio rejeita qualquer responsabilidade nos acontecimentos, garantindo que se trata de divisões internas, com particular destaque para os grupos afectos ao extremismo islâmico que povoam os insurgentes.

Também neste caso, fica demonstrado que ao imperialismo pouco ou nada importa se parte considerável dos contingentes armados que se batem contra o governo legítimo da Líbia são o que, noutras latitudes, Washington e Bruxelas colocam sob o chapéu de abas largas que cobre os «terroristas com ligações à Al-Qaeda».

E se dúvidas permaneciam quanto à aliança estratégica do imperialismo com todo o tipo de mercenários e fanáticos terroristas dispostos a baterem-se, mesmo que conjunturalmente, pelos interesses geoestratégicos do grande capital, elas dissipam-se quando, no contexto de tais contradições, a França decide desbloquear 182 milhões de euros de fundos soberanos do povo líbio para uso do CNT, e a Grã-Bretanha convida Bengasi a ocupar a embaixada da Líbia em Londres.

Numa repetição trágica da história passada durante a Cimeira dos Açores, onde a agressão ao Iraque passa de um preúncio ameaçador a uma certeza, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, recoloca Portugal de novo abertamente ao lado do imperialismo criminoso, dizendo que a República reconhece o auto-proclamado CNT como a autoridade governativa legítima da Líbia, posição ilegal e inaceitável que o PCP prontamente criticou.

 

Nota do Secretariado CC do PCP

Sobre o reconhecimento do CNT
pelo Governo Português

«A anunciada decisão do Governo português de reconhecer o auto-proclamado “Conselho Nacional de Transição da Líbia” como a autoridade governativa legítima desse País é mais uma grave decisão que viola a Constituição da República Portuguesa, a Carta das Nações Unidas e a própria Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU aprovada pelo Governo português - que já de si constitui uma violação da sua Carta fundadora.

«Tal postura do Governo português, bem como o momento do seu anúncio, evidencia a total subordinação da política externa portuguesa aos interesses, estratégia e calendário das principais potências imperialistas, com destaque para os Estados Unidos da América, a Grã-Bretanha e a França.

«Ao invés de apoiar e promover, como é sua obrigação constitucional, iniciativas visando o fim imediato da criminosa agressão militar da NATO contra o povo líbio, o Governo português opta por aprofundar a linha de aberta ingerência nos assuntos internos daquele país.

«A decisão de promover e reconhecer grupos cuja sustentação resulta dos apoios externos que lhe são concedidos para alimentar a agressão militar contra o seu próprio país, é profundamente contrária aos interesses nacionais e representa um adicional e perigoso factor de ameaça à paz regional e mundial.

«O PCP reitera a sua condenação da agressão militar à Líbia e apela ao povo português para que exija o fim imediato dos bombardeamentos e da agressão externa, a solução pacífica do conflito, o respeito pelos direitos do povo líbio, da sua soberania e da independência e integridade territorial deste país».



Mais artigos de: Internacional

«Falar em apartheid não é exagero»

Recentemente regressado da Palestina e de Israel, o deputado comunista no Parlamento Europeu (PE), João Ferreira, relatou ao Avante! o ponto da situação nos territórios e sublinhou que a consolidação e avanço da ocupação israelita é acompanhada pela promoção de uma política racista de Estado, não sendo exagerado dizer que os sionistas estão a instituir um regime de apartheid.

PCP no aniversário<br> dos comunistas sul-africanos

A convite do Partido Comunista da África do Sul (PCAS), Jorge Cordeiro, membro da Comissão Política do PCP, participou nas iniciativas comemorativas do 90.º aniversário daquele partido, realizadas na cidade de Durban. Do programa comemorativo desta importante...

Protestos de massas em Israel

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, foi obrigado a nomear uma equipa para negociar com os indignados que, no sábado, juntaram cerca de 150 mil pessoas em dez cidades de Israel. Os israelitas manifestam-se há duas semanas em todo o país contra os elevados...