Revolução tunisina alastra no Norte de África

Povos exigem democracia

Milhares de pessoas continuam a exigir na Tunísia a democratização do país e a punição dos responsáveis pela repressão das últimas semanas e durante a ditadura. As movimentações de massas alastram no Norte de África, com manifestações na Argélia e Egipto.

«”Fora os ministros podres” e “viva a revolução”, dizem os tunisinos»

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Foto LUSA

«Abaixo a ditadura», «fora os ministros podres» e «viva a revolução» são algumas das palavras de ordem que se ouvem na capital, Tunes, e aparecem escritas nas paredes da praça onde se situa o Palácio do Governo. Ali concentram-se, desde domingo, milhares de tunisinos que exigem a demissão do autoproclamado governo de transição.

No executivo liderado por Mohamed Ghanuchi permanece uma maioria de ministros (12 em 19) vinculados ao regime do ex-presidente Ben Ali. Depois de semanas de sangrenta repressão, o povo insurrecto não está disposto a ceder à rearrumação do poder de acordo com os moldes e interesses vigentes durante 23 anos. Os postos chave da governação continuam a ser ocupados por homens fieis à ditadura, denunciam.

Vindos de todas as regiões do país, particularmente do Centro, Oeste e Sul do território, trabalhadores, estudantes e camponeses pobres montaram um acampamento frente à sede do executivo.

A mobilização, apoiada pela maior estrutura sindical tunisina, a União Geral de Trabalhadores, avolumou-se, e na noite de 23 era já um gigantesco acampamento de protesto popular pela democratização da vida política e a punição dos responsáveis pela repressão. Muitos trouxeram nas intituladas caravanas da libertação as fotos das atrocidades cometidas pelas autoridades nas últimas semanas. Todos reclamam justiça.

Na madrugada de segunda-feira, as autoridades ainda ordenaram às forças antimotim que fizessem cumprir o recolher obrigatório. Granadas de gás lacrimogéneo e vagas repressivas chegaram a desimpedir a praça, mas a multidão, que respondeu com garrafas e pedras à violência oficial, regressou pouco depois e ali permanece, avolumando-se a cada hora que passa, teimando em exigir liberdade e democracia.

 

Sectores juntam-se à luta

 

Entretanto, secundando as movimentações populares, milhares de professores iniciaram uma greve por tempo indeterminado, justamente no dia em que o governo previa a reabertura dos estabelecimentos escolares. A paralisação, de acordo com o sindicato do ensino primário, regista uma adesão recorde.

No mesmo sentido, milhares de polícias em todo o país dão sinais de adesão à luta. Em Tunes, centenas de uniformizados juntaram-se frente ao Ministério do Interior reivindicando a saída de Ahmed Fria, dirigente do antigo regime.

Os polícias dizem-se «oprimidos» e «sacrificados» por não terem direito a organização sindical, e isso mesmo disseram igualmente em Sidi Bouzid, cidade onde começou a revolta.

Alguns juntam-se às concentrações populares e pedem perdão ao povo por terem sido o braço armado da ditadura. Muitos usam braçadeiras vermelhas em sinal de apoio à insurreição na Tunísia.

 

Imperialismo manobra

 

Face à determinação dos tunisinos, o governo interino e os partidos situacionistas anunciam remodelações na cúpula e formação de «comités de sábios» que «protejam a revolução», e até o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas pediu aos manifestantes que desmobilizassem, assegurando que o exército é o garante da revolução de jasmim.

Agora, disse enfático o alto responsável militar, é preciso deixar trabalhar os dirigentes políticos, como quem diz – o povo têm de confiar nos que se movem nas costuras do poder para que não se crie «um vazio». As palavras não colheram e o povo continua insubmisso.

No meio das manobras com objectivo de aplacar as movimentações de massas na Tunísia sobressai ainda o apoio dos EUA e da França ao executivo em funções. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, e o primeiro-ministro francês, François Fillon, manifestaram apoio a Ghanuchi e ao seu governo, e em Tunes encontra-se já o mais alto responsável da diplomacia norte-americana para o Médio Oriente, Jeff Feltman.

De acordo com o Departamento de Estado dos EUA, Feltman encontra-se na Tunísia para consultas sobre «as reformas democráticas e as eleições», prova de que o imperialismo está atento e não parece disposto a permitir que o processo enverede por caminhos que lhe sejam desfavoráveis.

 

Argélia e Egipto
Revolta alastra

Paralelamente, os povos argelino e egípcio saem à rua seguindo o exemplo dos irmãos tunisinos. Em Argel, sábado, a manifestação em direcção à sede da Assembleia Nacional só foi travada pela carga policial.

De acordo com a AFP, pelo menos 42 duas pessoas resultaram feridas e muitas outras foram detidas durante os protestos, proibidos no país desde 1992, ano em que foi imposto o estado de emergência.

Já no Egipto, a exigência de reformas políticas no país e a consequente demissão de Hosni Mubarack e seus correligionários iniciou-se anteontem com milhares de pessoas a invadir as ruas da capital, Cairo.

Ao «Dia da Fúria» contra a pobreza e a repressão, e pela democracia, respondeu a ditadura com canhões de água, granadas de gás lacrimogéneo.

Há hora do fecho da nossa redacção, agências internacionais relatavam que protestos de tal magnitude não eram observados no país desde o final dos anos 70.



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