Confirmação do crime e das cumplicidades
Aqui se escreveu em 04.08.2008: «Mais cedo que tarde vão ser conhecidos novos dados da cumplicidade dos governos nacionais com este crime do imperialismo.» Passaram pouco mais de dois anos e uns poucos telegramas da embaixada USA em Lisboa, de 2006, 2007 e 2008, revelados a partir da Wikileaks, confirmam parte significativa dos crimes e a cumplicidade do Governo PS.
A verdade confirmará a cumplicidade do Governo nos crimes do imperialismo
São uma pequena parte dos 700 telegramas enviados de Lisboa em posse dum conjunto de media internacionais dominantes(!) – New York Times, Guardian, Der Spigel, Le Monde e El Pais. Uma gota de água entre os 251 mil documentos deste «pacote», que se seguem a centenas de milhares sobre as operações USA no Iraque e Afeganistão.
O que é a Wikileaks?
O que se pode dizer da Wikileaks é que nasceu próxima de círculos do imperialismo, como a Freedom House, que M. Chossudovsky define como uma «organização cão de guarda» baseada em Washington, que se diz de «apoio à expansão da liberdade no mundo», que define como «alvos prioritários os regimes muito opressivos na China, Rússia e Ásia central», e visa ainda apoiar «os que no ocidente queiram revelar comportamentos ilegais ou imorais dos seus governos e corporações».
Os factos revelados pela Wikileaks não são propriamente os mais actuais e sensíveis sobre a actividade criminosa do imperialismo, nem são tocadas, por exemplo, as acções de Israel ou de Obama. Há círculos e interesses de poder muito atingidos pelas revelações, mas há outros que parecem «protegidos pela sorte».
Neste momento, em torno da revelação de documentos, travam-se chantagens e batalhas diversas entre as agências de (contra) espionagem, cujo resultado se terá de apurar mais tarde. Mas a CIA e a administração USA parecem fortemente empenhadas em calar o presumível líder da Wikileaks e, à pala destes acontecimentos, tentam concretizar novos passos no rumo do controlo securitário global.
Por isso, não haja pressas em julgar a Wikileaks – que terá de clarificar o seu percurso. Mas haja determinação na denúncia dos crimes do imperialismo e no combate ao seu objectivo de «governo mundial».
O que provam os telegramas?
Os telegramas da embaixada de Lisboa comprovam que houve negociação e concordância «genérica» do Governo PS na passagem de voos da CIA e das Forças Armadas USA e afins, através do espaço aéreo e território nacional, no trânsito criminoso de prisioneiros ilegais de Guantánamo para «prisões secretas» nos países de origem - Afeganistão, Arábia Saudita, Iraque -, onde muitos foram sujeitos a tortura e alguns vieram a «desaparecer».
Sabe-se há muito que, dos 779 presos de Guantánamo, 94 por cento passaram pelo espaço aéreo e/ou território nacional, sabe-se há pouco que pelo menos 118 terão sido «repatriados» pela mesma rota.
Amado disse em Outubro 2006: «se me provar alguma conivência com uma ilegalidade em território português demito-me»; Sócrates disse em Janeiro 2008: «O Governo nunca foi consultado nem autorizou» a transferência de prisioneiros – mentiram!
O telegrama do Embaixador USA em Lisboa de 20.10.2006 confirma as diligências e a «autorização» do Governo PS para os voos do «repatriamento» para tortura (e gaba-se que foi uma «decisão difícil» por causa da «pressão»).
O resto é treta - Amado mistifica: não houve «acordo formal», mas apenas «diligências confidenciais»; Sócrates «falava apenas» dos voos para Guantánamo (coisa que o próprio nunca disse); nunca existiu um pedido «factual» de voo de «repatriamento»; se houver provas dos voos «terá de existir um pedido de desculpas dos USA».
A única verdade possível é que o PS concordou com os voos de «repatriamento», tal como antes os governos PSD/CDS e PS terão concordado com os voos para Guantánamo. Mais ainda, concordaram em nada perguntar, para assim fazer de conta que nada sabiam. É esta a verdade incontornável, a única explicação possível, que todos os dirigentes e comentadores da «santa aliança» PS/PSD/CDS dão por indiscutível, auto-impondo-se (mas nem sempre) o conveniente «faz de conta».
Todos eles, PS, PSD e CDS, face às provas agora reveladas, fazem o possível para impedir que se conheçam todas as cumplicidades e a real dimensão do crime – como já antes fizeram ao inviabilizar as propostas do PCP duma Comissão de Inquérito na AR, ou de proibição de voos com origem/destino em Guantánamo, ou de medidas de efectivo controlo desses voos.
O Governo PS insiste na mentira e na «fuga para a frente», à espera de que nunca se conheçam novas provas. Esperança vã! Amado confessa que esta mentira dura «até surgirem novas informações». Por isso se vai preparando para sair do Governo e acarretar com as responsabilidades de Sócrates. Por isso insistimos que a verdade é inevitável e confirmará, mais cedo que tarde, toda a cumplicidade do Governo PS nos crimes ignóbeis do imperialismo.