Argentina em luta
Ao som de tambores e sirenes de bombeiros, dezenas de milhares de argentinos de todas as idades marcharam ruidosamente a 24 de Maio pelas ruas de Buenos Aires até à Praça de Maio. Outros milhares desfilaram ou concentraram-se em dezenas de cidades do país. Os manifestantes assinalavam o 31.º aniversário do golpe militar de 1976, apoiado pelos EUA, e exigiam o julgamento e condenação dos que participaram no governo militar entre 1976 e 1983, responsável pela morte de 30 000 pessoas. Das reivindicações feitas consta igualmente a exigência do «aparecimento, vivo» de Julio López, raptado seis meses após ter testemunhado contra um dos chefes da Polícia do regime torcionário.
Doze dos 37 milhões de habitantes da Argentina vivem na região de Buenos Aires, dando à capital um enorme peso político. Mas em Córdoba, a 720 km de distância, o presidente Nestor Kirchner falou num desfile em La Perla, a prisão militar usada pela Junta governamental como campo de concentração onde «desapareceram» – isto é, onde foram presos e secretamente assassinados – 30 000 activistas políticos e dirigentes sindicais argentinos.
Alguns argentinos esquerdistas criticam Kirchner, em especial pela sua política económica e pela decisão de enviar tropas para ajudar à ocupação do Haiti. Contudo, tanto os partidos pró-governamentais como a oposição de esquerda e as organizações sociais estão em sintonia no aumento de tom das reivindicações. As Mães (e agora Avós) da Praça de Maio, que há três décadas se manifestam todas as quintas-feiras para manter viva a memória dos seus filhos, desempenharam um papel principal.
Em Córdoba, o próprio Kirchner acusou o sistema judicial pela morosidade com que está levar a tribunal os casos contra os 259 militares e polícias acusados de crimes cometidos nesse período (só meia dúzia foi julgada até agora). Alguns partidos pró-comunistas da Argentina fazem notar que juntamente com os 259 militares e políticos acusados deviam estar os maiores empresários e banqueiros do país, especialmente os ligados às empresas imperialistas, que foram igualmente responsáveis pela manutenção dos militares no poder até 1983.
EUA apoiam ditadura
A 25 de Maio, mais pessoas participaram na manifestação de Campo de Maio, na região de Buenos Aires. Este centro foi usado pela ditadura para entregar os filhos dos prisioneiros desaparecidos. Muitas dessas crianças foram adoptadas e recolhidas pelas famílias dos oficiais e polícias que à nascença lhes mataram as mães.
Durante o período de intensas lutas sociais em meados dos anos 70 – perto da altura em que, apoiado pelos EUA, ocorria o golpe militar fascista no vizinho Chile, em Setembro de 1973 – elementos governamentais da Argentina, em especial militares e polícias, criaram organizações para-legais que hoje seriam equivalentes aos «esquadrões da morte». Estes grupos levavam a cabo os raptos e assassínios de esquerdistas. Alguns grupos reagiram com actos de guerrilha urbana.
Com o total apoio do governo norte-americano e do seu secretário de Estado Henry Kissinger, um grupo de generais e polícias tomaram o poder na Argentina. Este grupo fez uma razia não apenas contra a guerrilha urbana esquerdista mas também contra activistas e dirigentes sindicais de todo o espectro político. Os presos eram levados secretamente, torturados e cerca de 30 000 foram mortos.
Nos anos de 1970, o imperialismo norte-americano justificou a sua intervenção no apoio aos generais no Chile e na Argentina como fazendo parte da sua cruzada anticomunista. Devido ao papel do imperialismo no apoio aos generais, as manifestações de 24 de Março tiveram um carácter anti-imperialista e ouviram-se muitas palavras de ordem contra o presidente George Bush pela sua guerra no Iraque e pela política face à América do Sul.
O desaparecimento de 30 000 argentinos, na sua maioria jovens, foi um acontecimento marcante na vida da Argentina. Ainda no ano passado, pelo menos três filmes abordaram este tema. Um deles, «Sisters», mostra a relação entre duas irmãs, em que ambas perderam os companheiros. Outro conta a história de uma criança levada pela família de um militar que voltou para a sua família parental. O terceiro, um documentário intitulado «M», foi feito por duas crianças que perderam a mãe, reconstruindo a sua vida e actividade através de entrevistas a pessoas que a conheceram.
Este ano a iniciativa foi ainda mais dramática devido ao desaparecimento de López, que também foi raptado nos anos de 1970. O argentino havia testemunhado em Novembro último no julgamento do antigo chefe da Polícia, Miguel Etchecolatz, que foi acusado e condenado por genocídio.
Doze dos 37 milhões de habitantes da Argentina vivem na região de Buenos Aires, dando à capital um enorme peso político. Mas em Córdoba, a 720 km de distância, o presidente Nestor Kirchner falou num desfile em La Perla, a prisão militar usada pela Junta governamental como campo de concentração onde «desapareceram» – isto é, onde foram presos e secretamente assassinados – 30 000 activistas políticos e dirigentes sindicais argentinos.
Alguns argentinos esquerdistas criticam Kirchner, em especial pela sua política económica e pela decisão de enviar tropas para ajudar à ocupação do Haiti. Contudo, tanto os partidos pró-governamentais como a oposição de esquerda e as organizações sociais estão em sintonia no aumento de tom das reivindicações. As Mães (e agora Avós) da Praça de Maio, que há três décadas se manifestam todas as quintas-feiras para manter viva a memória dos seus filhos, desempenharam um papel principal.
Em Córdoba, o próprio Kirchner acusou o sistema judicial pela morosidade com que está levar a tribunal os casos contra os 259 militares e polícias acusados de crimes cometidos nesse período (só meia dúzia foi julgada até agora). Alguns partidos pró-comunistas da Argentina fazem notar que juntamente com os 259 militares e políticos acusados deviam estar os maiores empresários e banqueiros do país, especialmente os ligados às empresas imperialistas, que foram igualmente responsáveis pela manutenção dos militares no poder até 1983.
EUA apoiam ditadura
A 25 de Maio, mais pessoas participaram na manifestação de Campo de Maio, na região de Buenos Aires. Este centro foi usado pela ditadura para entregar os filhos dos prisioneiros desaparecidos. Muitas dessas crianças foram adoptadas e recolhidas pelas famílias dos oficiais e polícias que à nascença lhes mataram as mães.
Durante o período de intensas lutas sociais em meados dos anos 70 – perto da altura em que, apoiado pelos EUA, ocorria o golpe militar fascista no vizinho Chile, em Setembro de 1973 – elementos governamentais da Argentina, em especial militares e polícias, criaram organizações para-legais que hoje seriam equivalentes aos «esquadrões da morte». Estes grupos levavam a cabo os raptos e assassínios de esquerdistas. Alguns grupos reagiram com actos de guerrilha urbana.
Com o total apoio do governo norte-americano e do seu secretário de Estado Henry Kissinger, um grupo de generais e polícias tomaram o poder na Argentina. Este grupo fez uma razia não apenas contra a guerrilha urbana esquerdista mas também contra activistas e dirigentes sindicais de todo o espectro político. Os presos eram levados secretamente, torturados e cerca de 30 000 foram mortos.
Nos anos de 1970, o imperialismo norte-americano justificou a sua intervenção no apoio aos generais no Chile e na Argentina como fazendo parte da sua cruzada anticomunista. Devido ao papel do imperialismo no apoio aos generais, as manifestações de 24 de Março tiveram um carácter anti-imperialista e ouviram-se muitas palavras de ordem contra o presidente George Bush pela sua guerra no Iraque e pela política face à América do Sul.
O desaparecimento de 30 000 argentinos, na sua maioria jovens, foi um acontecimento marcante na vida da Argentina. Ainda no ano passado, pelo menos três filmes abordaram este tema. Um deles, «Sisters», mostra a relação entre duas irmãs, em que ambas perderam os companheiros. Outro conta a história de uma criança levada pela família de um militar que voltou para a sua família parental. O terceiro, um documentário intitulado «M», foi feito por duas crianças que perderam a mãe, reconstruindo a sua vida e actividade através de entrevistas a pessoas que a conheceram.
Este ano a iniciativa foi ainda mais dramática devido ao desaparecimento de López, que também foi raptado nos anos de 1970. O argentino havia testemunhado em Novembro último no julgamento do antigo chefe da Polícia, Miguel Etchecolatz, que foi acusado e condenado por genocídio.