A Festa do Avante! acolhe este ano a24.ª Bienal de Artes Plásticas, cujo concurso está aberto até final de Maio. Mas não é tudo em termos de artes visuais: estará também patente uma exposição da jovem pintora Rita Andrade, que fomos conhecer melhor.
Marie Bacelar
Mas aquele concerto, que apanhou Rita em plena Licenciatura de Pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, não a apresentou apenas à causa palestiniana. Fê-la também questionar o percurso artístico que ambicionava percorrer ao descobrir o papel político que a arte pode ter:«e quem me fez ver isso foi o Roger Waters.» Anos mais tarde, rumaria à capital inglesa para frequentar o Mestrado em Art and Politics, na Goldsmiths: University of London, que, sublinha, contribuiu para aprofundar«a minha forma de expressar através da arte realidades que considero injustas».
Rita Andrade tinha já, nessa altura, realizado a sua primeira exposição individual sobre a Palestina, no Estoril: I Can’t Breathe Since 1948 (Não consigo respirar desde 1948). Algumas das obras que então vendeu ajudaram-na a pagar o curso.
Dar voz à Palestina
A ligação forte, emocional, da artista à Palestina deixou muito cedo de ser apenas indirecta. Em 2019, com a mãe e o irmão, foi conhecer Israel e a Palestina: «Fui sem ideias feitas, porque eu nunca tinha ouvido falar daquilo, só ouvi o lado do Roger Waters... Então pensei: vou ver com os meus próprios olhos.» De automóvel, foram sozinhos a Belém, a Jericó, a Jerusalém, a Telavive, a Nazaré e a muitos outros locais. Atravessaram check-points, conheceram pessoas, contactaram com o apartheid, a segregação, as violações quotidianas de elementares direitos humanos.
Rita regressou diferente da Palestina: «voltei e percebi que o meu tipo de arte era interventiva e que tinha de dar voz à Palestina. Vim de lá com muitos amigos, mas também muito chocada e magoada.» Veio, também, com uma ideia consolidada acerca da questão palestiniana e da posição inequívoca que passaria a assumir face a ela (para Rita Andrade, a Palestina é uma causa humana, mais até do que política no sentido estrito do termo). Empenhada em usar o seu talento e sensibilidade para levar a maisgente a denúncia do sofrimento e a coragem do povo palestiniano, prometeu a si própria que não contribuiria para aquilo que o Papa Francisco, que admira,denominava de «globalização da indiferença». Que tanto a incomoda nos dias que correm...
A sua primeira exposição reflecte as impressões desta viagem: «os primeiros quadros que fiz sobre a Palestina têm a ver com a minha viagem. As fotografias que tirei, as memórias que ficaram, a pesquisa que fiz para a preparar.» As duas posteriores que dedicou ao tema – em 2023, Identity and Land (Identidade e Terra); em 2024, NonViolent Resistance (Resistência Não Violenta) –, tendo sempre a viagem e a sua experiência no terreno como base de inspiração, reflectem já um olhar mais denso não só sobre a ocupação da Palestina, mas também sobre o mundo em que vivemos e a arrogância dos poderosos.
Ansiosa pela estreia
Rita Andrade nunca foi à Festa do Avante! e não sabe bem o que esperar. Já percebeu que se trata de uma grande iniciativa, com milhares de visitantes e bons programas musicais. Mas o que mais a entusiasma, confessa, é a possibilidade de mostrar o seu trabalho a um público tão vasto e conhecedor da questão palestiniana. E, também, de poder contactar com alguns dos artistas participantes na Bienal, com quem partilhará o Espaço das Artes.
À Festa do Avante!, Rita Andrade levará até 30 obras, algumas já vistas e outras inéditas. Confessa que não está a fazer nada especificamente para essa exposição, que chamará de «A insustentável leveza do poder», pois foi precisamente o trabalho que faz continuadamente sobre a Palestina que levou a que fosse contactada pela Festa do Avante!. E, realça, mesmo que até lá vendesse algumas das obras que pretende expor, não haveria problema, «pois normalmente vendo a pessoas de confiança, que me emprestariam as obras para as ter na exposição». Os primeiros quadros da série que ali estará patentesão da sua exposição de 2019, sobre a Palestina, e o mais recente tem poucas semanas. «E já estou a fazer outro», revelou.
Esta é, sem dúvida, uma exposição que merece uma visita atenta. De uma artista cujo trabalho vale a pena seguir com atenção.
Solidariza-te com a Festa! Compra já a tua EP!
Para visitar a exposição de Rita Andrade, a Bienal de Artes Plásticas e todo o vasto e diversificado programa da Festa do Avante! só é necessário adquirir a Entrada Permanente (EP), que dá acesso a todos os espaços e todas as iniciativas. Até à véspera da Festa, a EP custa apenas 34 euros, menos 13,5 euros do que nos dias da Festa. Mas a EP não é um «bilhete», é um título de solidariedade com a Festa e os seus construtores, pelo que a compra antecipada contribui para uma edição melhor.