Combater a direita, defender Abril
Tentam reescrever a História, branquear a natureza terrorista da ditadura fascista
O município de Santa Comba Dão, de maioria PS, volta à carga com a intenção de criar o Museu Salazar. O projecto remonta ao tempo em que Manuel Maria Carrilho era ministro da Cultura do governo PS, partido maioritário na autarquia.
Há décadas que os saudosistas da ditadura fascista ambicionavam a criação de um espaço onde, para além da campa do ditador, se criasse um local de culto. Mas é a partir de 2006 que tal objectivo se tornou projecto, pela mão do município com apoios diversos de organizações fascistas. Um projecto com objectivos bem claros: criar condições para que os devotos do ditador, além de visitarem a campa – que recebe todos os dias muitas visitas e, em certas datas, até se fazem rezas e procissões, segundo um ex-presidente de junta – possam ter um espaço que glorifique Salazar.
Sobre isso não restam quaisquer dúvidas, mesmo que tentem das mais variadas formas tapar o sol com a peneira!
À medida que este projecto era contestado, os seus promotores, primeiro do PS, mais tarde do PSD e agora de novo da maioria PS no município, foram disfarçando o seu verdadeiro objecto. Primeiro chamava-se Museu Salazar, depois Casa-Museu Salazar, mais tarde Parque Temático Salazar, de seguida Centro de Estudos do Estado Novo e, finalmente, Centro de Interpretação do Estado Novo.
Goradas as tentativas de embrulhar o projecto envolvendo outros municípios, o Museu Aristides de Sousa Mendes e a Academia de Coimbra, eis que outras entidades e insuspeitas figuras se prestam a dar cobertura sob o manto do interesse histórico à criação de um santuário dos saudosistas e promotores do fascismo.
Leonel Gouveia e Pacheco Pereira, da Associação Cultural Ephemera, assinaram a 28 de Fevereiro, um dito «acordo histórico» que estabelece as bases de cooperação para a concretização do chamado Centro Interpretativo do Estado Novo 1926-1974 – Regime e Resistência.
O Centro «terá dois objetivos: primeiro, ajudar a salvar tudo o que sirva a memória» da época e «depois permitir, a partir dessa recolha, criar um local de investigação sobre este período», sublinhou Pacheco Pereira. A história surge, neste contexto, diz ele, como um «poderoso instrumento de desminagem» de um projecto «armadilhado» e que «tem sobre si uma maldição». «Um projecto que tantas vezes falhou.»
Acrescentou ainda, que «o conhecimento histórico é, em particular nos nossos dias, um serviço prestado à democracia», defendendo que «não podemos permitir tornar a história do Estado Novo um fantasma». Se a «maldição se mantiver sobre o conhecimento histórico, fazemos mais mal à democracia do que o fantasma de Salazar», sustenta.
Ora quem quiser estudar o espólio de Salazar pode fazê-lo na Torre do Tombo, ou na Universidade Católica a quem foram entregues os poucos documentos existentes na casa do Vimieiro.
Como afirma a URAP, custa a compreender que um presidente de Câmara de maioria PS e conhecidos investigadores de história contemporânea, conhecedores do que foi o fascismo e os seus crimes, retomem projecto tão contestado, tão repudiado por democratas e antifascistas e, uma vez mais desrespeitem, com retocados argumentos, sentimentos de todo um povo que tanto sofreu e lutou para se libertar da opressão e do terror.
Protagonistas e promotores podem de novo exibir percursos académicos, propósitos «científicos», motivos diversos para justificar o injustificável: aproveitar a antiga escola na terra do ditador fascista, e quererem impor a construção de um pseudo Centro de Investigação do Estado Novo, que contribuiria para branquear um regime criminoso e a figura sinistra do ditador nascido no Vimieiro.
Tais propósitos inserem-se nas operações de branqueamento da história e natureza do fascismo e são o pasto que alimenta forças e projectos fascistas, racistas e xenófobos que, com protagonistas políticos, sejam eles populistas, caceteiros ou engravatados, a que se associam comentadores e ideólogos das classes dominantes, tentam negar, descaracterizar e pôr em causa o verdadeiro significado do que foi Abril e do que representa para o povo português. Tentam reescrever a História, branquear a natureza terrorista da ditadura fascista, silenciar a luta heróica dos trabalhadores e do povo português e, em particular, esconder e falsificar o papel ímpar e determinante do PCP na resistência à ditadura fascista, na criação das condições para a Revolução de Abril, no seu desenvolvimento e na defesa das suas conquistas.
A todas estas operações daremos resposta combatendo o Museu Salazar, travestido de centro interpretativo, e afirmando os valores de Abril, com a coragem de quem enfrentou e enfrenta a direita.