Liberdade
Nada do que é humano é estranho aos artistas e a quem visita as suas obras
No bairro do Rego, Avenidas foi o primeiro espaço a abrir em Lisboa nas antigas instalações do Museu República e Resistência, do programa Um Teatro em Cada Bairro. Desde a sua inauguração, a 17 de Dezembro de 2022, tem tido um vasto programa de diversificadas actividades culturais de proximidade e encontro com as comunidades e os agentes culturais locais.
Agora, convidou o Partido Comunista Português, cuja sede está fisicamente na sua proximidade, para realizar uma exposição de artes visuais, com base na sua colecção. Tema Liberdade, a liberdade conquistada com a Revolução do 25 de Abril. Optou-se por centrar o tema na liberdade de criação artística que estava reprimida com a censura, na proibição e apreensão de livros, discos, espectáculos, de obras de arte. A esse objectivo associou-se a gravura, porque a possibilidade de reprodução técnica de uma obra de arte em série, só limitadas por decisão do artista ou pelas exigências da técnica utilizada, a torna acessível a um universo muito maior de pessoas, o que é um dos passos de democratização das artes.
As mais amplas liberdades políticas, sociais e pessoais que foram alcançadas com a Revolução do 25 de Abril tiveram grande impacto nas artes visuais, bem patente nos murais pintados que por todo o Portugal por artistas que sinalizaram os mais diversos eventos e políticas em curso. Murais que se perderam por natural erosão temporal. A recuperação da imagem dos murais, do seu processo de feitura por artistas comunistas e seus companheiros de lutas, foi realizada recorrendo aos materiais duráveis da cerâmica na parede de entrada da sede do PCP, sendo de destacar o trabalho de Rogério Ribeiro e Querubim Lapa na sua realização.
Muitos artistas, como se pode constatar nesta exposição, fizeram obras que tiveram por referente o 25 de Abril, as liberdades conquistadas. Mas também, como se pode verificar nesta exposição, as temáticas são as mais diversas sublinhando uma verdade eterna que nada do que é humano é estranho aos artistas e a quem visita as suas obras. Mensagem forte que se quis transmitir, expressa no texto de entrada: As obras de arte devem fazer interrogar e pensar sobre as questões sociais, políticas e humanas, tanto aos seus criadores como a quem com elas se confronta.
Na segunda metade dos anos cinquenta dois factos alteraram o universo das artes plásticas. Um foi a implantação da Fundação Gulbenkian que, com um regime de bolsas artísticas, possibilitou e institucionalizou contactos com as realidades internacionais, sobretudo Paris e Londres, os grandes centros artísticos na época. O outro foi a criação da Gravura, Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, que promovia a gravura enquanto forma de arte, num tempo em que nem sequer as Escolas de Belas Artes de Lisboa e Porto incluíam esse género artístico no seu currículo escolar. Visava ainda a Cooperativa Gravura democratizar as artes promovendo exposições por todo o País, possibilitando a aquisição de obras de arte a uma população que de outro modo a elas não teriam acesso. Quase todos os artistas portugueses aí se iniciaram nas técnicas da gravura, há mesmo artistas em que a gravura é o núcleo central da sua obra, refiram-se Bartolomeu Cid dos Santos, Gil Teixeira Lopes, Matilde Marçal.
Esta exposição inscreve-se no projecto de liberdade cultural mas igualmente de liberdade individual de criação e fruição da Cultura, um passo na construção de um efectivo Serviço Público de Cultura, elemento central de responsabilização pública pelo desenvolvimento, democratização e liberdade cultural como o Partido Comunista Português defende.
(Exposição Liberdade, Colecção de Gravuras do Partido Comunista Português /Avenidas, Um Teatro em Cada Bairro, Rua Alberto Sousa 10A, até dia 30 de Abril)