Debates, «notas» e contacto directo
Iniciou-se esta semana a época de debates televisivos rumo às eleições legislativas de Maio. Trata-se de um importante momento de confronto entre as várias candidaturas e uma oportunidade para o esclarecimento de grande alcance: nas últimas eleições as audiências dos debates em canal generalista rondaram o milhão de telespectadores.
No entanto, estes (e, particularmente, os comentários em torno dos mesmos) precisam de ser vistos e lidos com a prudência que o seu lastro recomenda. Em primeiro lugar, um pouco de história. O PCP e a CDU foram, desde há mais de uma década, a única força a contestar um modelo de debates discriminatório que, tendo evoluído ao longo do tempo, mantém um tratamento de primeira para PS e PSD (a partir da falsa ideia de que a eleição é para primeiro-ministro).
Recorde-se o episódio de 2015, quando a coligação PSD/CDS impôs e as televisões aceitaram mudar as regras e incluir o CDS, apesar da reiterada exclusão do PEV. Face à decisão de indicar Heloísa Apolónia para o debate com Paulo Portas, o então primeiro-ministro Passos Coelho recusou debater com Jerónimo de Sousa. Não houve, então, ondas de solidariedade – tal como, há um ano, a intenção de Luís Montenegro repetir o número e faltar ao debate com Paulo Raimundo foi travada pela intensa pressão pública protagonizada pela CDU.
Depois há as horas de comentário que se seguem a cada debate e que excedem largamente a duração destes. De há uns anos foi-se estabelecendo uma nova moda nestes autênticos exercícios de desinformação e manipulação: a atribuição de notas aos candidatos, como se os debates fossem um duelo em que se mata ou morre e tomando quem os vê por mentecaptos incapazes de avaliar por si o que acabaram de assistir. Olhe-se, por exemplo, para a nota do assumido anticomunista Henrique Raposo ao Secretário-Geral do PCP no primeiro debate deste ano, com Luís Montenegro: um, numa escala até dez. A razão? «O PCP merece desaparecer», confessa o comentador.
Regra geral, as análises aos debates servem mais os objectivos políticos (tantas vezes inconfessáveis) de quem as faz e não se constituem como um instrumento adicional para contextualizar temas abordados, para escrutinar propostas avançadas ou enquadrar afirmações feitas. Os debates eleitorais vão prosseguir nas próximas semanas, tal como as infindáveis análises, com ou sem atribuição de notas, e vão culminar na escandalosa operação mediática montada em torno do debate entre o PS e o PSD/CDS, em directo e simultâneo em seis canais – três generalistas e três informativos –, algo único na televisão portuguesa.
Face a esta verdadeira avalanche comunicacional (só comparável com a escandalosa propaganda governamental de PSD/CDS), ganha redobrada importância o trabalho de contacto directo – para afirmar a intervenção do PCP e da CDU, nos debates e fora deles, e denunciar operações que se venham a pôr no terreno, como recentemente na entrevista do Telejornal da RTP ao Secretário-Geral do PCP.