Carlos Paredes homenageado com música, luta e resistência
Momento alto das comemorações do Centenário do nascimento de Carlos Paredes, o concerto «O povo e uma guitarra» – que se realizou no dia 21, no Fórum Lisboa – contou com uma plateia cheia que recordou e celebrou o legado do «músico genial, homem generoso e militante comunista» que serve de exemplo para o presente e futuro.
«Homenagear o músico genial, o homem generoso, o militante comunista»
O concerto de sexta-feira foi uma das muitas iniciativas do vasto programa que o PCP decidiu levar por cabo em torno das comemorações do Centenário de Carlos Paredes. Foi a música do «homem dos mil dedos» que ali se recordou, mas também a sua versatilidade e elasticidade que empresta inspiração não apenas a quem toca e ouve guitarra portuguesa. Do jazz ao piano e à voz, o concerto no Fórum Lisboa evidenciou isso mesmo, mas também o transpor de fronteiras da música de Paredes, para o plano da realidade, da vida e da sua transformação, mas também da luta e da construção de uma sociedade melhor e mais justa.
Entre amigos
A música de Paredes transcende o tempo e os géneros. E foi assim o concerto, de uma variedade enorme, em que o artista voltou a emprestar inspiração a mais de uma dezena de músicos. Para o palco, chamados por Raquel Bulha que apresentou o concerto, subiram primeiro Luísa Amaro e Mafalda Lemos na guitarra portuguesa, acompanhadas pelo clarinete de Gonçalo Lopes e a flauta de Alexandre Branco. «Aqui estamos entre amigos e são todos muito amigos do Carlos Paredes. Ele ficaria feliz de ver uma sala cheia de gente amiga», afirmou Luísa Amaro, juntando ao sereno momento que protagonizou estas tocantes palavras.
Momento interessante foi o protagonizado por João Paulo Esteves da Silva, ao piano, que se complementaria, mais tarde, com Joana Bagulho, ao cravo.
Da voz de Luanda Cozetti, acompanhada por Norton Diaello e Edu Miranda, surgiu o projecto Paredes Cantado. Os últimos a subir ao palco – comprovando novamente a diversidade do que pode ser a música Carlos Paredes, desta vez com jazz – foram os membros do Sexteto Bernardo Moreira (com o próprio, João Moreira, Tomás Marques, Estela Alexandre, Mário Delgado e Joel Silva).
O concerto foi ainda antecedido e concluído por vídeos sobre o artista.
Artista comprometido com o seu povo
«Homem de fortíssima personalidade, cidadão fraterno do dia-a-dia, Carlos Paredes foi igualmente um artista generoso e modesto, com uma inteligência e uma sensibilidade aberta a todos, dialogante com todas as idades e com os mais diversos estilos e expressões», afirmou Paulo Raimundo na abertura do concerto. O guitarrista, salientou, assumiu o «potencial transformador da arte, da música profundamente ligada à vida e à realidade nacional, e a cultura popular e a criação artística como formas de resistência e de transformação».
Prova maior dessa sua ligação à vida foi o seu compromisso, de sempre, «com o seu o povo», com quem «nunca deixou de estar, antes e depois do 25 de Abril de 1974, e que foi fonte de inspiração para a sua obra». «Um revolucionário», como afirmou a certa altura Ruben de Carvalho e justamente recordou Paulo Raimundo, «não apenas na música».
Resistente antifascista
Carlos Paredes começou a participar, desde muito novo, na luta antifascista, percurso que o trouxe ao PCP em 1958. Uma opção política que manteve até ao final da sua vida, em 2004. Integrou a resistência e a luta contra o fascismo, o que lhe valeu passagem pelas prisões do Aljube e de Caxias e sofrimento às mãos da tortura fascista.
«Na guitarra e nas suas composições teve o instrumento de intervenção na luta que travou pela liberdade e pela libertação da cultura das garras do fascismo», acrescentou Paulo Raimundo. «Uma luta que», continuou, «intensificou durante o processo revolucionário na defesa e na consolidação das conquistas de Abril, e que prosseguiu até aos limites que a sua saúde permitiu, na defesa do regime democrático e pela democratização da cultura».
A sua genialidade e mestria, «sendo resultado da sua própria inspiração, não podem ser separadas da sua opção militante, de compromisso e de ligação à vida e à realidade do povo». «Carlos Paredes descobriu a sua própria linguagem, transmitindo àqueles que o ouviam algo mais do que fortes emoções estéticas. Inspirou profunda determinação e confiança, sabendo ser possível a transformação da realidade através da luta pela democracia e, claro, pela cultura», afirmou ainda o dirigente.