Mais de 100 mil assinaturas que são outras tantas vontades de exigir uma vida melhor
«É por estar ligada à realidade da vida que esta acção tem uma enorme adesão e conta já com mais de 100 mil assinaturas, mais de 100 mil pessoas que subscreveram o nosso abaixo-assinado», valorizou Paulo Raimundo no final de um desfile realizado anteontem, em Lisboa, no âmbito da acção nacional Aumentar salários e pensões, para uma vida melhor, no qual participaram mais de mil pessoas.
Quem assinou assumiu um compromisso com as reivindicações
Intervindo no Largo de São Domingos, no final do combativo desfile iniciado no Chiado, o Secretário-Geral do Partido começou por destacar aquela «grande jornada, grande desfile, grande acção pela vida melhor a que os trabalhadores, o povo e a juventude têm direito». A todos esses se dirigiria mais adiante Paulo Raimundo, afirmando: «saibam que contam com a coragem e a determinação de um PCP que aqui está para denunciar e propor, resistir e dar esperança».
Alertando para as promessas, a demagogia e a manipulação que se intensificarão à medida que se aproximam as eleições, o dirigente comunista garantiu que, da parte da CDU, não há dúvidas: entre o aumento dos salários de cerca de três milhões de trabalhadores que recebem menos de 1000 euros por mês e a apropriação da riqueza por estes criada por um punhado de grupos económicos, escolhemos o aumento dos salários; entre o aumento das pensões, como aquelas inferiores a 510 euros que um milhão de reformados recebem, e o «regabofe dos benefícios fiscais», escolhemos os reformados e pensionistas; entre a diminuição do IVA na energia, na electricidade, nas telecomunicações, e a diminuição do IRC, que favorece sobretudo as grandes empresas, escolhemos as famílias e as MPME; entre o Serviço Nacional de Saúde e os grupos económicos que fazem da doença um negócio, escolhemos o SNS; entre a habitação e a banca, escolhemos casas que as pessoas consigam pagar; entre a paz e mais recursos para a guerra, escolhemos a paz e os serviços públicos; entre os interesses da maioria e os privilégios dos que se acham donos disto tudo, escolhemos a soberania do País e a defesa dos trabalhadores e do povo.
Exigências dependem da luta e das eleições
As reivindicações que sustentam a acção (ver textos nestas páginas) estão dependentes, para serem concretizadas, do alargamento da luta e das próximas eleições legislativas. Para o Secretário-Geral do Partido, «passada a propaganda e as ilusões, o que determinará como hoje determina é qual o reforço da CDU e quantos deputados ao
serviço do povo, dos trabalhadores e da juventude é que se confrontarão com os deputados ao serviço dos interesses dos grupos económicos». E é também, acrescentou, saber com quem se conta na hora de decidir. Ora, garantiu, «os trabalhadores, a juventude, os que trabalharam uma vida inteira, as mulheres, os que cá vivem e trabalham, sabem, até mesmo os que discordam desta ou daquela matéria, que contam, e só contam, com o PCP e a CDU. A força que não vacila, a força que não hesita». O dirigente comunista não terminou sem apelar ao prosseguimento dessa exigência de melhores salários e pensões, de serviços públicos, de habitação, de creches e jardins de infância.
O desfile de terça-feira deu expressão à acção nacional do PCP e aos seus resultados. Contudo, as assinaturas não foram entregues pois – como afirmou, na apresentação da iniciativa, Patrícia Gonçalves – «com a contribuição decisiva do nosso Partido, este primeiro-ministro felizmente já está demitido». Este trabalho de contacto, salientaria depois Paulo Raimundo, continua «até às eleições e depois das eleições» e as assinaturas, que serão oportunamente entregues, «servem e servirão como exigência de resposta à vida melhor» a que todos têm direito.
Salários e pensões
O aumento de salários e pensões é justo, necessário e possível: é nesta convicação, fundada na realidade, que assenta a acção nacional do PCP.
É justo porque são os trabalhadores quem produz toda a riqueza e era só o que faltava ela depois não ser distribuída com justiça. Mas também porque o risco de pobreza em Portugal atinge 10% dos trabalhadores e mais de 70% dos pensionistas recebe menos de 500 euros mensais. Mas é também necessário, pois o baixo valor dos salários e das pensões são a regra e os preços não param de aumentar. Aumentar salários e pensões é, assim, fundamental para fazer face ao aumento do custo de vida e para fazer crescer a economia e o emprego. Quanto à possibilidade comprova-a o facto de a maior parte do que os trabalhadores produzem ficar nos bolsos do grande capital, que acumula e concentra cada vez maiores riquezas.
Desmontando as teses daqueles que ganham com a exploração e querem manter os salários baixos, o PCP desmente qualquer relação negativa entre o aumento dos salários e o incremento da inflação ou do desemprego. Os últimos anos, aliás, provaram que quando os salários aumentaram – nomeadamente entre 2016 e 2019 – a inflação não cresceu e que, ao contrário, quando os salários estagnaram a inflação foi a maior dos últimos anos. Além disso, o aumento dos salários induz o aumento do consumo interno, particularmente dirigido às pequenas e médias empresas, que constituem 90% do tecido empresarial, e isso obriga a um aumento da produção, e consequentemente o aumento do emprego.
Sobre se «as empresas» aguentam, lembre-se que o peso dos salários nos custos totais das empresas é, em média, de 15% no caso das grandes e de 18% nas pequenas e médias empresas. Há despesas bem mais elevadas – transportes, comunicações, energia – das quais ninguém fala para não prejudicar os interesses do grande capital.
São os trabalhadores quem cria toda a riqueza e ela deve ser distribuída com justiça
Saúde
«Só o Serviço Nacional de Saúde é o garante do direito à Saúde para todos, em todas as especialidades, por todo o País», lê-se num documento específico editado no âmbito da acção nacional do PCP. Já a saúde privada, salienta, «só trata quem quer, enquanto quer e pelo preço que decide», apresentando exemplos que o comprovam.
O privado, garante, «quer fazer muitos partos, mas só os que não têm complicações»; «quer tratar o cancro, mas só enquanto dá lucro, depois são enviados para o SNS»; «quer fazer cirurgias pagas pelo Estado, mas em caso de complicações, reenvia-os [os doentes] para os hospitais públicos»; «atrasa os exames comparticipados pelo SNS, dando prioridade aos que são pagos directamente pelos utentes»; «anuncia urgências abertas, mas não tem os médicos e enfermeiros a que o SNS está obrigado»; «cobra sempre mais aos seus “clientes” do que o anunciado no início e factura desde a seringa à compressa que usam».
Rejeitando que a Saúde possa ser um negócio – é um direito constitucional, lembra –, o PCP defende o reforço do SNS, valorizando salários e carreiras dos profissionais, de modo a fixá-los, investindo em equipamentos e melhorando a sua capacidade.
Só o SNS garante o direito de todos à Saúde, sem olhar à carteira e à doença
Habitação
Nesta acção nacional, o PCP denuncia a especulação que domina o mercado imobiliário, responsável pela dramática situação que faz de Portugal o país da OCDE onde o acesso à habitação mais se degradou: os preços da habitação em Portugal mais que duplicaram entre 2013 e 2024; as taxas de juro elevadas permitiram lucros de 6,6 milhões de euros à banca em 2024, pagos por todos os que têm crédito para pagar a sua casa; o mercado de arrendamento é dominado pela desregulação, com o valor mediano dos novos contratos a subir 64% entre 2017 e 2023.
Em consequência disto, milhares de famílias continuam a ser despejadas das suas casas, e há cada vez mais dificuldades em aceder à habitação. Isto num país em que existem mais de 700 mil habitações devolutas. Uma em cada quatro casas construídas desde 2006 está vazia e à disposição da especulação imobiliária.
O PCP propõe, entre outras medidas, a construção de habitação pública pelo Estado, a regulação dos valores das rendas, a revogação da lei dos despejos, a promoção de um parque habitacional de custos controlados e com um regime de renda condicionada e a regulamentação e fiscalização do arrendamento.
Uma em cada quatro casas construídas desde 2006 está vazia e à disposição da especulação imobiliária
Creches e pré-escolar
«Uma vaga para dois»: é esta a realidade que se vive em Portugal no que diz respeito ao acesso das crianças à creche. A gratuitidade foi um passo muito importante (até 2020, todas as creches eram pagas – e caras) e só foi possível pela insistência do PCP. Porém, continua a não haver vagas para todos os bebés: daí o PCP defender há muito a criação de uma rede pública de creches, com 100 mil novas vagas até 2028. Há escolas públicas e gratuitas dos três anos até à Universidade – a única faixa etária excluída é a dos zero aos três.
A creche tem um importante papel no desenvolvimento integral quando é pensada para responder às necessidades afectivas, de brincadeira, socialização, alimentação e sono das crianças – não pode ser um depósito onde se deixa os bebés. Creches com qualidade precisam de profissionais bem preparados e com carreiras estáveis, destaca o PCP num folheto produzido para esta acção nacional.
No pré-escolar apenas metade das crianças frequenta uma escola pública, ficando as restantes sujeitas às altas mensalidades do privado ou das IPSS. O PCP defende a criação de mais salas do pré-escolar público, de modo a que nenhuma criança se veja privada deste direito. Também aqui importa reforçar e valorizar os profissionais.
Em Portugal há duas crianças para cada vaga existente em creche
Trabalho por turnos, nocturno e em laboração contínua
Há profissões que, pela sua especificidade, exigem trabalho contínuo ou fora de horas. Porém, o trabalho por turnos, nocturno e em laboração contínua vai muito para lá destas profissões, sendo muitos os abusos verificados. Para o PCP, não é aceitável este tipo de trabalho em sectores não essenciais, defendendo a sua limitação a situações excepcionais, garantindo condições de segurança, protecção da saúde, da maternidade e da paternidade e apoios sociais.
Para quem tenha efectivamente de trabalhar nestas condições, o Partido defende o respeito pelo tempo de descanso, a garantia da articulação da vida profissional com a vida pessoal e familiar, compensações pelo trabalho prestado e direito à antecipação da reforma. Está mais que provado que o trabalho nocturno exige um esforço suplementar, provoca perturbações de sono e prejudica a saúde.
O trabalho diurno é o trabalho adequado ao ser humano