Dia Nacional da Juventude e a luta de quem não desiste

Gonçalo Francisco

A juventude nunca desistiu de exigir a dignidade a que tem direito


O 28 de Março, Dia Nacional da Juventude, está ligado à luta da juventude portuguesa por uma vida melhor.

Mesmo nas condições mais difíceis a juventude nunca desistiu de exigir a dignidade a que tem direito. Foi isso que fizeram, a 28 de Março de 1947, os milhares de jovens presentes no acampamento organizado pelo MUD Juvenil em São Pedro de Moel. Num ambiente de convívio e de amizade, exigiram a liberdade e a democracia e sofreram por isso a repressão da PIDE a mando do fascismo.

Uma luta que continuou e, associada à luta mais geral da classe operária e de todos os trabalhadores, foi essencial para a Revolução libertadora e emancipadora de Abril.

Hoje continuamos a lutar pelo mesmo – o pão, a paz e a habitação –, mas lutamos em condições diferentes e conquistámos muito. Lutar valeu e vale a pena.

A política de direita não só não tem soluções para os problemas com que os jovens trabalhadores se confrontam como é responsável pela sua causa e agravamento. Esta empurra toda uma geração para um ciclo vicioso no qual os baixos salários, a precariedade e os horários desregulados se alimentam mutuamente, levando a que muitos tenham de escolher entre o trabalho precário e mal pago ou a emigração.

Política de direita que, por impedir o acesso à habitação digna, a serviços de saúde atempados e de qualidade, a creches gratuitas e jardim de infância para todas as crianças, a escola pública de qualidade, limita o direito de cada um a autonomizar-se e, querendo, a constituir família, com graves consequências na natalidade.

Política que, para se procurar impor, promove a divisão entre os trabalhadores procurando colocar uns contra os outros, visando quebrar a sua unidade e luta.

Foi tudo isso que disseram centenas de jovens reunidos no Encontro Nacional da Juventude, no último fim-de-semana em Vila Franca de Xira, que discutiram e concluíram que é necessário o aumento geral dos salários para todos os trabalhadores em 15% nunca inferior a 150 euros e do Salário Mínimo Nacional para os 1000 euros; a proibição e limitação de mecanismos de desregulação dos horários de trabalho como o banco de horas e defendendo 35 horas de jornada semanal para todos; o fim da precariedade e a revogação das normas gravosas do código de trabalho, nomeadamente a caducidade da contratação colectiva.

Exigências que todos os dias estão no centro da organização e da luta dos trabalhadores e dos jovens trabalhadores, luta reivindicativa por objectivos concretos e imediatos, a partir dos locais de trabalho.

Das lojas da Zara aos centros de contacto da Intelcia, dos Mcdonald’s à Exide, passando pelos jovens ferroviários, enfermeiros e muitos outros sectores, todos continuamos a lutar por uma vida melhor.

E porque unidos somos mais fortes, convergiremos todos pelos objetivos que temos em comum na Manifestação Nacional de Jovens Trabalhadores, convocada pela Interjovem/CGTP-IN, para 28 de Março, acumulando força para elevar consciências e avançar na transformação necessária.

Passados 78 anos do acampamento em São Pedro de Moel é claro que é a luta o motor para o progresso social. Foi assim com a conquista das 8 horas nos campos do sul ou a criação do salário mínimo nacional, é assim sempre que nas empresas os trabalhadores conseguem melhores salários, efectivar trabalhadores com vínculos precários, derrotar a imposição de bancos de horas ou fazer cumprir direitos.

Há muitas e boas razões para lutar. O direito a viver no nosso País com condições de vida e dignidade não é a menor delas.

E é por isso que no próximo dia 28 lá estaremos todos às 15 horas em Lisboa na Praça da Figueira: porque não desistimos, lutar vale a pena.



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