«Aqui estamos, determinados e confiantes»
«Festejamos os 104 anos do Partido Comunista Português orgulhosos da sua história ímpar, firmes e confiantes na sua intervenção presente e de olhos postos no futuro», afirmou o Secretário-Geral nos dois grandes comíciosrealizados, quinta-feira e domingo, em Lisboa e Gondomar. Em ambos, Paulo Raimundo manifestou «confiança na força dos trabalhadores e das massas populares».
O primeiro dos comícios teve lugar no próprio dia 6 de Março e reuniu mais de dois mil militantes e simpatizantes do Partido do distrito de Lisboa e da Península de Setúbal, que encheram por completo o pavilhão do Casal Vistoso, na capital, decorado a preceito em tons de vermelho. No palco, a inscrição «Os valores de Abril no futuro de Portugal» apontava o sentido da luta imediata. De imponentes faixas rubras sobressaíam a branco as palavras «Projecto», «Luta» e «Confiança», que juntas formam o lema destas comemorações. Destas três componentes se falou nas intervenções da noite – de Paulo Raimundo; de Nuno Santos, da célula do PCP na Autoeuropa; e de Guilherme Almeida, da JCP.
O Secretário-Geral salientou o compromisso de sempre do PCP com os trabalhadores e o povo, que o levou a resistir nas mais duras condições da clandestinidade, a assumir o mais destacado papel nas conquistas da Revolução de Abril, a constituir-se como o primeiro e mais empenhado defensor dos direitos e condições de vida das camadas populares: «Desde 1921 que muitos agiram para o golpear e destruir, são cíclicas as operações de silenciamento e manipulação, foram e são muitos os ataques, que criaram dificuldades, é certo, mas não impediram a nossa intervenção – e aqui estamos, determinados e confiantes.»
Nuno Santos destacou a luta que se trava na Autoeuropa e nas restantes empresas do parque industrial de Palmela, desde logo os «quatro grandiosos plenários de trabalhadores, envolvendo 32 empresas, incluindo de trabalho temporário» realizados a 28 e 29 de Janeiro, pelo reconhecimento das profissões de desgaste rápido, por melhores condições de trabalho, por aumentos salariais e contra a precariedade. Lutas que também se travaram na Randstad, na TK elevadores, na Silopor, na Petrogal, na DanCake, na Santa Casa da Misericórdia, na Medway, no Auchan, na Navigator, na Viroc, na Rauschert, na Administração Pública central e local e na Isidoro. Outras, garantiu, estavam então em preparação.
Dos 120 novos militantes e dos 23 colectivos da JCP criados desde o início do ano falou Guilherme Almeida, destacando a importância do 13.º Congresso da organização, agendado para Maio. Referiu-se também à luta dos jovens – trabalhadores e estudantes – que não cessa de se alargar: já este mês haverá manifestações e outras acções de luta dos estudantes dos ensinos básico, secundário e superior e dos jovens trabalhadores.
Apresentado por Filipa Brás, do Executivo da Organização Regional de Lisboa do PCP, pelo palco passaram a radialista Raquel Bulha e o músico Sebastião Antunes, que juntou os seus acordes e os seus versos à festa: «não há dinheiro, é sempre a mesma conversa o ano inteiro»; «o mar não é de ninguém, ninguém é dono do mar, nem aqueles que lá sabem navegar»; e, claro, a Cantiga da Burra, que pôs toda a gente a saltar e a dançar.
Futuro garantido na região do Porto
Dias depois, no domingo, os comunistas voltaram a afirmar, em grande demonstração de força, o aniversário do seu Partido – desta feita, no concelho de Gondomar, num comício que encheu completamente o pavilhão da Escola Básica Júlio Dinis.
Particular destaque mereceu o momento musical que antecedeu as intervenções da tarde. Chamados por Afonso Sabença, da Direcção da Organização Regional do Porto (DORP), José Pedro Coelho, Eurico, Zé Stark e Joyce tomaram o palco com arranjos de temas bem conhecidos do público: Verdes Anos, de Carlos Paredes, Canção sem final, da Garota Não, Vampiros, de José Afonso, e a Cantiga sem Maneiras, do GAC. A Internacional soaria ainda pelo pavilhão uma primeira vez. Entre os temas que foram sendo apresentados ao público, houve ainda espaço para dois poemas declamados por Tó Vieira, ambos de Bertolt Brecht: Elogio da Dialéctica e Dificuldade de Governar.
Para o palco, com Paulo Raimundo, subiram dirigentes da JCP, dos organismos executivos do Comité Central, do Executivo e do Secretariado da DORP, da Comissão Concelhia de Gondomar e o deputado na Assembleia da República Alfredo Maia.
«Aqui está o PCP, o Partido dos trabalhadores e do povo, da democracia e do socialismo. Com a força, com a capacidade, a resistência, a coragem, a iniciativa, e a vontade de lutar e vencer», foi assim, entre outras palavras de ânimo e de incentivo para os diferentes embates que esperam o Partido, que o Secretário-Geral decidiu terminar a sua intervenção.
Já José Pinho, da JCP, à semelhança do que aconteceu em Lisboa, comprovou que a luta dos jovens trabalhadores e dos estudantes não pára de avançar, também naquela região: «Da Secundária Augusto Gomes, em Matosinhos, à Escola Secundária do Marco de Canaveses, são muitos os que por todo o País lutarão pela Escola de Abril.» O mesmo «com os estudantes do Ensino Superior», «com os jovens trabalhadores» e com a juventude que de uma forma geral «sai à rua e luta pelos direitos das mulheres, pela igualdade na vida e no trabalho», como aconteceu, no dia anterior, no Porto e por todo o País.
Mas houve ainda merecido espaço e tempo para abordar importantes questões ligadas à realidade local. Na voz de Maria Olinda Moura, candidata da CDU à presidência da Câmara Municipal de Gondomar, falou-se do desrespeito pela vontade da população quando esta quis desagregar freguesias, da luta por melhores serviços de saúde, contra a concessão dos serviços de limpeza urbana ou das cantinas escolares, da necessidade de reabilitar a habitação social ou de melhorar os transportes. Naquele concelho, são o PCP e a CDU que «têm travado estas e outras batalhas nos órgãos autárquicos» – as únicas forças políticas que estão verdadeiramente ligadas à «defesa dos interesses da população e dos seus direitos ao trabalho, à habitação, saúde, mobilidade, educação, cultura e lazer».
Paulo Raimundo em Lisboa e Gondomar
Nas suas intervenções, o Secretário-Geral do PCP referiu-se a diversos assuntos da actualidade política nacional e internacional:
A luta pela Paz
“A paz e a segurança não estão no aumento das despesas militares; não estão na militarização da União Europeia e na sua transformação num bloco belicista.
A paz e a segurança alcançam-se com mais diplomacia, mais diálogo e solução política dos conflitos e com mais respeito pelos princípios do direito internacional.
Portugal não é um instrumento dos EUA, da NATO e da União Europeia, Portugal é um País soberano que, de acordo com o que a Constituição da República consagra, deve promover a paz e a cooperação, não o militarismo, a corrida aos armamentos e a guerra.
Convicto da sua razão, não recuando perante falsidades e deturpações, o PCP continua firme e corajosamente na defesa da paz.
Por isso o PCP continua empenhado na defesa do desarmamento geral, simultâneo e controlado, da dissolução dos blocos político-militares e no estabelecimento de um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos.
O PCP reafirma a sua determinação e posições de sempre de defesa da paz e dos direitos dos povos.”
Governo do capital
“A situação em Portugal é marcada pelo domínio do grande capital sobre a vida do País, concretizado à margem e contra a Constituição da República Portuguesa. O Governo do PSD/CDS serve esses interesses, conta com o apoio de Chega e IL em tudo o que serve o grande capital. Um caminho que se expressa no agravamento da exploração, condicionamento dos salários e das pensões, ataque aos direitos dos trabalhadores, ataque e desmantelamento dos serviços públicos, negação do direito à saúde e à habitação, privatizações, favorecimento da especulação imobiliária, comprometimento da soberania nacional.
Atolado em crescentes contradições e problemas, o Governo PSD/CDS procurava trilhar um percurso planeado, profundamente lesivo dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País e ao serviço dos grupos económicos e das multinacionais.
O desenvolvimento da acção do Governo e a sucessão de factos que se acumulam envolvendo os seus membros e o próprio primeiro-ministro não são obra do acaso. Traduzem e dão expressão a uma mistura entre exercício de funções públicas e interesses particulares e à promiscuidade entre poder político e económico.
Para lá da gravidade de factos e acontecimentos deploráveis, a questão essencial, por muito que alguns queiram esconder, é a da política do Governo, de agravamento da exploração, das injustiças e da crescente situação de vulnerabilidade dos trabalhadores, da juventude e dos reformados e pensionistas.”
Partido com futuro
“Desenvolvemos o contacto massivo realizando milhares e milhares de conversas na acção nacional Aumentar salários e pensões. Para uma vida melhor, traduzido no esclarecimento e subscrição do abaixo-assinado com esse objectivo.
Agimos nas mais diversas áreas e é preciso alargar a iniciativa, contra o aumento do custo de vida, pela defesa e reforço do Serviço Nacional de Saúde, da Segurança Social, pela habitação, os direitos das crianças e dos pais, entre tantas outras.
Tudo isto só é possível com a notável militância dos membros do Partido e da JCP, deste grande e abnegado colectivo partidário. Deste nosso Partido com a sua identidade comunista, o seu compromisso inabalável com os trabalhadores e o povo, e que queremos mais forte e mais influente.
Um Partido que queremos mais forte e mais influente, e que para isso precisa de concretizar o movimento geral de reforço do trabalho de direcção e estruturação, que decidimos no XXII Congresso, articulado com a responsabilização de quadros, o recrutamento de novos militantes, a preparação política e ideológica, a militância, os meios de propaganda, a imprensa e a independência financeira.
Temos presentes as preocupações, os perigos, mas acima de tudo temos a confiança e a determinação de construção de uma sociedade nova, de um mundo de progresso, cooperação e paz. Desenvolvemos com alegria a nossa luta por esses objectivos.»