- Nº 2676 (2025/03/13)
Manifestação Nacional de Mulheres promovida pelo MDM

Mulheres de todo o País lutam por justiça e contra retrocessos

Em Destaque

Milhares saíram às ruas, aderindo à Manifestação Nacional de Mulheres convocada pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM), e que contou com acções descentralizadas por todo o País, em comemoração do 8 de Março, Dia Internacional da Mulher.

Lisboa, Porto, Angra do Heroísmo, Aveiro, Beja, Braga, Coimbra, Covilhã, Évora, Faro, Guarda, Leiria, Mirandela, Portalegre, Santiago do Cacém, Setúbal, Torres Novas, Viana do Castelo, Vila Real, Viseu – foram estas as cidades que, no dia 8, acolheram iniciativas da Manifestação Nacional de Mulheres.

Em todas elas – incluindo nas de Lisboa e Porto, onde o Avante! esteve presente – as mulheres (e todos os demais que a elas se juntaram) puderam gritar em plenos pulmões que eram «muitas, muitas mil, para defender Abril», reivindicando, ainda: o direito ao trabalho com direitos, contra a precariedade, os baixos salários e a desregulação dos horários; a garantia de uma casa para viver e de serviços públicos de qualidade; o combate ao aumento do custo de vida; o combate à normalização da prostituição, da pornografia e de qualquer forma de violência e exploração sexual; e a luta pela paz.

Ideia central, expressa num dos panfletos distribuídos por todo o País, foi «não aceitamos retrocessos, não calamos injustiças e não suspendemos a luta»!

Ao todo, mais de 2000 mulheres, designadamente jovens, aderiram ao Apelo para esta manifestação.

Na capital, mulheres lutam por direitos
No desfile de Lisboa, que correu as ruas da Baixa Pombalina entre os Restauradores e a Praça do Município, a imensidão de faixas – do MDM, Projecto Ruído, CPPC, CIMH/CGTP-IN, sindicatos, federações, APD, CNOD, Porta a Porta, AAPC, Vida Justa,entre outras – só foi suplantada pela quantidade de pessoas, que ascenderam às milhares. Animadas pelas palavras-de-ordem, as participantes marcharam por um percurso onde exigiram paz, pão, habitação e direitos, gritando que «prostituição é exploração» – ao contrário de outras iniciativas, com valores distintos, que, naquele dia, estiveram abertas a quem lucra com o corpo das mulheres.

No final do percurso, Joana Carneiro, dirigente do MDM, sublinhou que aquela multidão fez «frente a todas as adversidades, incluindo o mau tempo».

«Somos mulheres de Abril, combativas, está-nos no sangue, é a nossa matriz e dela não prescindimos», frisou, acrescentando que estiveram «na rua mostrando o valor da solidariedade entre mulheres, numa luta que une, numa força que transforma, porque são justas» as suas razões.

A dirigente elencou um conjunto de problemas que ainda marcam a vida das mulheres: das jovens, à procura de condições para viver, e trabalhar com estabilidade; das trabalhadoras, sujeitas à desvalorização do seu trabalho e dos seus salários; das utentes, particularmente do SNS, alvo de constantes ataques que põem em causa o acompanhamento da gravidez, o parto hospitalar e o direito à IVG; ou das imigrantes, que encontram acrescidas barreiras a uma vida com dignidade.

Joana Carneiro denunciou, igualmente, outros entraves enfrentados pelas mulheres, mormente pelas que vivem em contextos de violência doméstica e «não têm condições económicas e sociais que lhes assegurem alternativas de saída com autonomia», e as que «são exploradas no tráfico de seres humanos, na prostituição e na pornografia».

No final da acção, actuaram os grupos musicais Maria Silva e Coro dos Anjos.

Mulheres do Porto saíram à rua
No Porto, a chuva também não intimidou as muitas que decidiram assinalar, em luta, o Dia Internacional da Mulher. Da Batalha, desceram a Rua de Santa Catarina até dobrarem o quarteirão do Mercado do Bolhão para alcançar a Praça de D. João I. Já nos Aliados, destino final da manifestação, Catarina Alves recordou que naquele dia, há precisamente 50 anos atrás, se tinha realizado o primeiro 8 de Março em liberdade, em 1975.

Lado a lado com as faixas do MDM, os outros panos esclareciam sobre quem ali decidiu marcar presença: as mulheres trabalhadoras da hotelaria organizadas no seu sindicato, mas também outras estruturas representativas como o STARQ, o STAL, o CESP, a FIEQUIMETAL, a FNAM, a ASPP-PSP, a USP/CGTP-IN e a própria Inter (com o seu secretário-geral, Tiago Oliveira, a marcar presença). Com as mulheres do Porto, marcharam ainda o CPPC, o MURPI e o movimento Porta a Porta.

«Não há igualdade quando as discriminações, a exploração e as violências marcam a vida», recordou Madalena Castro, do conselho nacional do MDM, na intervenção que encerrou o momento. A dirigente referia-se às jovens que procuram condições e estabilidade para viver, estudar e trabalhar; às que trabalham sujeitas à desvalorização do seu salário, à discriminação salarial e aos horários desregulados; às que se vêem a braços com o aumento do custo de vida ou com dificuldades no acesso aos serviços de saúde; ou às imigrantes, que encontram barreiras acrescidas a uma vida digna.

As jovens na luta
As acções de Lisboa e do Porto contaram, ainda, com intervenções por parte da juventude. Na capital, Inês Reis, presidente do Projecto Ruído, sublinhou a importância das muitas centenas de raparigas que apoiaram a manifestação.

«Não aceitamos que o desinvestimento na Escola Pública leve à falta de educação sexual nas escolas, deixando margem para que uma jovem aceite o ciúme em vez de afecto, e controlo em vez do carinho, deixando espaço para a violência, a objectificação do seu corpo, e a deturpação de relações, do respeito e do amor na vida dos jovens», referiu.

Por seu lado, no Porto, Joana Machado, dirigente do Ruído, apontou como prioritária a luta pelo trabalho com direitos, «já que milhares de jovens mulheres são confrontadas diariamente com baixos salários, precariedade e horários desregulados».

«A esta realidade, soma-se a desigualdade salarial, que aumentou 70 por cento na última década», asseverou.

Longo trabalho de preparação
O trabalho de preparação da Manifestação Nacional – este ano descentralizada por regiões – foi levado a cabo, em todo o País, pelos núcleos do MDM, que se alargaram, em muitos distritos, a outras mulheres, formando comissões 8 de Março, com um papel decisivo no pensar, conceber e realizar tudo o que foi necessário para a concretização deste dia.

As activistas do MDM e demais envolvidas colaram cartazes, distribuíram folhetos, realizaram sessões e recolheram milhares de apoios à Manifestação.

Em todo o País, foram abordadas pelas dirigentes do MDM as razões de luta presentes na Manifestação Nacional de Mulheres.

 

8 de Março de 2026

Joana Carneiro em Lisboa, como em todo o País o MDM, anunciou a realização da Manifestação Nacional de Mulheres no dia 8 de Março do próximo ano, assinalando os 50 anos da Constituição, importante instrumento para a emancipação das mulheres.

A Constituição foi aprovada pouco mais de um ano depois de, a 8 de Março de 1975 (Ano Internacional da Mulher, da ONU), milhares de mulheres saírem à rua em liberdade para comemorar o seu dia, mobilizadas pelo MDM, num desfile dos Restauradores à Praça do Comércio, reivindicando (à semelhança de hoje) igualdade de direitos, melhores condições de trabalho, direito à habitação digna e a defesa do direito universal e gratuito à saúde.

 

Solidariedade com a luta das mulheres do mundo inteiro

«A Manifestação Nacional de Mulheres promovida pelo MDM em todo o País […] saúda as mulheres do mundo lutadoras por um mundo de paz […].

Por isso: exigimos que o Governo português cumpra a Constituição de Abril, o princípio da soberania dos povos e da solução pacífica dos conflitos internacionais; rejeitamos a participação das forças portuguesas nas guerras da NATO e o aumento das despesas militares […]; apelamos à solidariedade com o povo palestiniano, com o povo saraui, com os povos em luta pela autodeterminação e soberania […]; apelamos a um combate sem tréguas face ao recrudescimento do fascismo e neofascismo, da xenofobia, de discursos de ódio e de práticas anti-democráticas e contra imigrantes; apelamos às mulheres que se envolvam e contribuam para o desenvolvimento da luta pela paz, contra os conflitos militares».

Excertos do Apelo à Paz, lido na Praça do Município, Lisboa, por Luiza Tonon, do MDM.

 

PCP saúda a luta das mulheres

«O Dia Internacional da Mulher é dia de grande alegria mas, também, de muita luta e reivindicação», sublinhou Paulo Raimundo, em declarações à imprensa em Lisboa, lembrando que «não podemos esquecer que as mulheres, em particular as trabalhadores, são as mais discriminadas, sobre as quais recai mais precariedade, desregulação de horários» e baixos salários.

«Por isso, é preciso resolver isto», dando resposta à «realidade da grande maioria das mulheres do nosso País», destacou.

Paulo Raimundo criticou, ainda, a inércia de outras forças políticas em responder aos problemas das mulheres, afirmando que «se todos os partidos se empenhassem 50 por cento daquilo que o PCP se empenha na resolução» destas questões, «e dedicassem menos tempo a novelas, a vida das mulheres e do nosso povo estaria muito melhor».

Além do Secretário-Geral, a delegação do PCP contou com Manuela Pinto Ângelo, Fernanda Mateus, Paula Santos, Carina Castro, Ricardo Costa e João Frazão (dos organismos executivos do CC).

 

«Elas
recusam, derrubam
dominam as próprias vidas
com a sua inteligência,
Tornam-se donas do tempo,
a semearem agruras
pelos meandros do vento».

Versos finais de «Elas», de Maria Teresa Horta, lido na Praça do Município, Lisboa.

 

Semana da Igualdade da CGTP-IN celebra o Dia da Mulher

A Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens (CIMH) da CGTP-IN organizou, entre 5 e 12 de Março, a Semana da Igualdade de 2025, sob o lema «Igualdade no trabalho. Liberdade na vida – Tempo de luta. Futuro de paz», que contou com diversas iniciativas por todo o País, e deu particular destaque aos problemas associados ao trabalho por turnos, nocturno ou ao fim-de-semana, que abrange um número crescente de mulheres em Portugal.

A organização promoveu, logo no dia 5, uma sessão em Lisboa com mais de uma centena de participantes, incluindo o secretário-geral da CGTP-IN, Tiago Oliveira. A esta iniciativa seguiram-se plenários, debates, tribunas, concentrações, greves e manifestações, a par da divulgação de estudos e da apresentação de reivindicações ao patronato e ao Governo.

A Semana da Igualdade, à qual voltaremos na próxima edição, deu sequência a um conjunto de 20 encontros temáticos, realizados em Janeiro e Fevereiro, e antecede a realização da 9.ª Conferência Nacional da CIMH/CGTP-IN, a 5 de Junho.