- Nº 2669 (2025/01/23)

Resistência e solidariedade forçam cessar-fogo na Faixa de Gaza

Internacional

Entrou em vigor um cessar-fogo temporário na Faixa de Gaza, que inclui, além do calar das armas, a entrada de ajuda humanitária no território e a troca de prisioneiros entre Israel e a resistência palestiniana. Esta primeira fase do acordo estende-se por 42 dias.

Lusa

Após 15 meses de permanentes ataques e bombardeamentos israelitas contra a população palestiniana da Faixa de Gaza, entrou em vigor, no dia 19, um acordo que prevê um cessar-fogo, embora com carácter temporário. Durante a primeira fase deste acordo, que se estenderá por 42 dias, para além do cessar-fogo, está prevista a entrada de ajuda humanitária, a troca de prisioneiros entre Israel e a resistência palestiniana, para além da retirada das forças israelitas do território da Faixa de Gaza.

O acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, assinado no dia 15, em Doha, capital do Catar, poderia há muito estar implementado não fosse a atitude dos EUA em o impedir, como ficou demonstrado nos múltiplos vetos que utilizou no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Segundo os mediadores cataris, o acordo a ser implementado visa pôr «um fim definitivo à guerra» que devastou o território palestiniano.

No quadro do acordo, a resistência palestiniana entregou no domingo as primeiras três prisioneiras israelitas, que foram transferidas para Israel, que, em contrapartida, libertou 90 prisioneiros palestinianos, na sua maioria mulheres e menores de idade. Entre os prisioneiros libertados figura Khalida Jarrar, dirigente da Frente Popular de Libertação da Palestina, que nesta sua última permanência na prisão passou cinco meses e uma semana em isolamento total, para além de outras violências cometidas que agravaram a sua saúde. Entre as mulheres palestinianas libertadas contam-se activistas, jornalistas, estudantes e trabalhadoras de organizações humanitárias.

Milhares de pessoas concentraram-se, empunhando bandeiras palestinianas e entoando palavras de ordem de luta, para saudarem a chegada dos prisioneiros palestinianos agora libertados, símbolos da heróica resistência palestiniana face à agressão e ocupação israelita.

Nestes 42 dias, durante a primeira etapa do acordo, Israel deve libertar cerca de 2000 prisioneiros palestinianos, dos quais metade são habitantes da Faixa de Gaza presos nos últimos 15 meses. Em troca, 33 israelitas serão libertados.

É urgente a ajuda humanitária
O pleno respeito pelo cumprimento do cessar-fogo na Faixa de Gaza e a entrada no território de centenas de camiões com ajuda humanitária (as Nações Unidas estão a organizar a distribuição em toda a faixa, dando especial atenção às pessoas mais vulneráveis) são apenas alguns passos na difícil situação enfrentada pelos palestinianos após 15 meses de brutais bombardeamentos e massacres por parte de Israel, que provocaram dezenas de milhares de mortos, feridos e desaparecidos.

Os habitantes começaram a regressar às suas casas, destruídas ou grandemente danificadas, depois de terem passado meses deslocados à força, sofrendo de malnutrição, sem acesso a água potável e a fontes de higienização, expostos aos constantes ataques israelitas, vendo os hospitais, escolas e outras infra-estruturas serem transformadas em escombros.

A ajuda humanitária que está a entrar na Faixa de Gaza inclui alimentos e produtos básicos, água potável, material sanitário e higiénico, combustível, além de 200 mil tendas de campanha e 60 mil casas rolantes para abrigo de emergência.

Quinze meses de agressão genocida israelita contra a população palestiniana provocaram pelo menos 46.913 mortos, 110.750 feridos e 11 mil desaparecidos. Além disso, segundo dados da ONU, 92 por cento das habitações no território foram destruídas e 90 por cento dos seus habitantes foram forçados a deslocar-se dos seus lares.

Um representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Palestina resumiu a situação afirmando que «o anúncio do cessar-fogo é uma fonte de esperança, mas o desafio que temos pela frente é esmagador».

 

Prosseguir a solidariedade

O anunciado acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, cujo cumprimento e concretização carecerá de verificação, deve assegurar o efectivo fim dos ataques e dos massacres levados a cabo por Israel, o incondicional acesso da urgente ajuda humanitária à população palestiniana da Faixa de Gaza (que tem vindo a ser impedido por Israel) e a total retirada das forças militares israelitas deste território palestiniano, defende o PCP.

Numa nota de imprensa, difundida no dia 18, o Partido considera que «o acordo alcançado é inseparável da persistente e corajosa resistência do povo palestiniano em defesa dos seus direitos, do amplo movimento mundial de contestação à política de ocupação e aos crimes de Israel e de solidariedade com a Palestina, bem como do crescente isolamento de Israel e dos EUA».

O PCP considera ainda que o «acordo deve constituir um primeiro passo para um consecutivo cessar-fogo permanente que ponha fim ao sofrimento do povo palestiniano, abra caminho ao cumprimento dos seus direitos nacionais com a criação do Estado da Palestina, conforme as resoluções das Nações Unidas, e a uma paz justa e duradoura no Médio Oriente, o que tem vindo a ser sucessivamente obstaculizado e boicotado pelos EUA e Israel».

Para o PCP, «impõe-se o prosseguimento da solidariedade com o povo palestiniano, exigindo o fim do genocídio e da política criminosa de Israel, o cessar-fogo permanente na Faixa de Gaza, o acesso da ajuda humanitária à população palestiniana – designadamente pelas agências da ONU, incluindo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) –, o fim da agressão por parte das forças e colonos israelitas na Cisjordânia e em Jerusalém Leste, o fim da ocupação e a criação do Estado da Palestina com as fronteiras de 1967 e capital em Jerusalém Leste, o cumprimento do direito de retorno dos refugiados palestinianos».