Manifestação «É urgente pôr fim à guerra! Todos juntos pela Paz!» trouxe milhares a Lisboa

Menos armas para mais futuro

Muitos milhares de pessoas, vindas de norte a sul do País, protagonizaram no sábado, 18,uma das maiores jornadas em prol da paz alguma vez realizadas em Portugal: na manifestação «É urgente pôr fim à guerra! Todos juntos pela Paz!» exigiu-se o fim das guerras, bloqueios e sanções, o desarmamento, o respeito pelos direitos dos povos ao desenvolvimento e à soberania. E rejeitou-se sacrificar salários, pensões, serviços públicos – e vidas – para alimentar a máquina de guerra do imperialismo.

«Queremos paz e cooperação; não queremos ser carne para canhão; o fim da guerra é urgente; queremos paz para toda a gente» (cantada com a melodia do refrão de Bella Ciao)

«O povo quer a paz, não o que a guerra traz», «Baixem as armas, subam os salários», «Menos armas, mais futuro», «Queremos paz e cooperação, não queremos ser carne para canhão»: estas foram algumas das palavras de ordem entoadas ou inscritas na manifestação do passado sábado, em Lisboa, que uniu o Cais do Sodré à Praça do Rossio numa coluna compacta e combativa. No momento em que os primeiros manifestantes se começavam a concentrar em frente ao palco, em plena Praça do Rossio, havia ainda quem estivesse a iniciar a marcha, junto ao Tejo, no Cais do Sodré.

Dos que ali estiveram, foram muitos – para cima de 800 – os que viajaram no Comboio da Paz, que partiu de manhã de Braga e passou por diversos locais dos distritos do Porto, Aveiro e Coimbra, onde cedo se realizou uma concentração pela paz, mesmo antes do embarque. De várias regiões do Litoral e do Interior, do Norte, do Centro e do Sul, seguiram autocarros transportando centenas de participantes: a exigência de paz, solidariedade, direitos e condições de vida fez-se de vários sotaques.

A diversidade ali presente, porém, esteve longe de ser apenas regional. Muitas das mais de 90 organizações promotoras desfilaram com faixas próprias, apontando as razões que as levavam a estar ali, unindo a defesa da paz à luta contra a exploração, aos direitos dos trabalhadores, das mulheres, das crianças e dos jovens, à exigência de utilizar os recursos do País para aumentar salários e pensões, valorizar serviços públicos, promover a produção nacional e o desenvolvimento científico e técnico, e não para servir os lucros da indústria do armamento e os projectos de dominação do imperialismo.

Não queremos ser carne para canhão
Ali estiveram homens e mulheres, trabalhadores e reformados, portugueses de origem e imigrantes, unidos num mesmo anseio de viverem num mundo de paz. Particular expressão teve a presença da juventude, a revelar uma crescente consciência entre os jovens das ameaças que pairam sobre o seu presente e futuro. Quando há quem levante a hipótese de enviar jovens portugueses para as guerras da NATO, a resposta dada no sábado foi poderosa: «não seremos carne para canhão!»

Às centenas de jovens que se manifestavam integrados no Projecto Ruído ou na JCP somavam-se muitos outros, de associações de estudantes, grupos juvenis ou até, alguns, individualmente. Para além desta exigência elementar de não aceitarem ser atirados para uma guerra para servir interesses que não são os seus, os jovens inscreveram em faixas, cartazes e palavras de ordem a sua vontade de ter um presente e um futuro sem guerras, com trabalho digno, educação pública e de qualidade, cultura, desporto, saúde, habitação.

As crianças não foram esquecidas, com muitas referências à protecção especial que lhes é conferida por tratados e convenções internacionais: «Todas as crianças têm o direito à paz», lia-se numa faixa empunhada por crianças, numa clara referência às milhares que foram mortas ou ficaram feridas e mutiladas por Israel na Faixa de Gaza. A questão palestiniana foi, de resto, central na manifestação. Entre centenas de bandeiras e lenços, gritou-se pela paz, por um cessar-fogo permanente, pela criação do Estado da Palestina, que – reafirmou-se – vencerá!

A arte, aliada de sempre da luta pela paz, também esteve presente – com alguns dos autores dos vários cartazes elaborados para esta manifestação a empunharam pancartas com os seus trabalhos. O Coro Lopes-Graça desfilou a cantar excertos das Heróicas.

No final, numa Praça do Rossio completamente cheia, Leonor Teixeira, do MDM, apresentou o momento cultural e político. Depois da música dos Amigos de Abril, que evocaram temas do cancioneiro popular e revolucionário português, intervieram Inês Reis (Projecto Ruído), Ilda Figueiredo (CPPC), Carlos Almeida (MPPM) e Tiago Oliveira (CGTP-IN). A jornada terminou com Grândola, Vila Morena, cantada a plenos pulmões por todos quantos ali estavam e que, pela sua presença naquela manifestação como (muitos deles) na sua acção diária, se batem para construir, em todo o mundo, a «terra da fraternidade» de que fala a canção.

 

«Aí estão eles: de Almirante a ministro, todos, em uníssono, a pedirem mais guerra, mais balas e mísseis, a pedirem mais corpos, mais vidas adiadas e outras tantas terminadas. Sabendo do manifesto ou velado interesse da mobilização de jovens portugueses para as guerras da NATO, a juventude responde, como podemos ver hoje, saindo à rua e deixando claro que ‘a juventude quer a Paz, não o que a guerra traz’.»

Inês Reis, Projecto Ruído – Associação Juvenil

«Somos defensores da Paz. Somos os que se mobilizam por esta causa tão actual e determinante para salvaguardar o presente e o futuro da Humanidade. (...) Afirmamos que em vez da cultura da guerra que o Secretário-Geral da NATO anuncia, queremos a cultura da paz, pondo fim à deriva militarista, ao aumento das despesas militares, à corrida aos armamentos, e promovendo o desarmamento geral, simultâneo e controlado, defendendo, desde logo, a abolição das armas nucleares e outras armas de destruição massiva.»

Ilda Figueiredo, CPPC

«Não há paz sem liberdade, sem soberania, sem desenvolvimento, sem cultura, sem escolas e universidades, sem hospitais. Para muitos, o cessar-fogo em Gaza será o pretexto para que a guerra quotidiana que é a ocupação sionista da Palestina abandone os noticiários. No mesmo dia em que declarou aceitar o cessar-fogo, o governo de Israel prometeu intensificar a repressão na Margem Ocidental, acelerar a anexação e colonização dos territórios palestinos ocupados em 1967.»

Carlos Almeida, MPPM

«São os trabalhadores que sentem na pele os efeitos da guerra. O custo dos bens essenciais, que aumentam de maneira incomportável a pretexto da guerra e das sanções, tem sido aproveitado pelo grande capital para continuar a acumular lucros recorde. Veja-se, por exemplo, os 890 milhões de lucro da GALP ou os 149 milhões da Sonae, só nos primeiros nove meses de 2024, ou os 3,9 mil milhões dos cinco maiores bancos portugueses.»

Tiago Oliveira, CGTP-IN

 

  • fim do genocídio na Faixa de Gaza e da escalada de guerra no Médio Oriente

  • garantir a concretização dos direitos nacionais do povo palestiniano

  • fim aos conflitos e às trágicas consequências e sérios perigos que comportam

  • fim à escalada militarista e ao aumento das despesas militares

  • promover o desarmamento geral, simultâneo e controlado, e defender a abolição das armas nucleares

  • rejeitar o desvio para os armamentos e a guerra de verbas que devem ser utilizadas em salários, saúde, educação, segurança social, habitação

  • fim aos bloqueios e às sanções

  • aposta na diplomacia e na solução política dos conflitos

  • exigir que o Governo português cumpra os princípios da Constituição da República Portuguesa

  • promover a cooperação, solidariedade e a amizade entre os povos

Paulo Raimundo: «o caminho dos povos é o caminho da paz»

O PCP esteve representado na manifestação com uma delegação composta pelo Secretário-Geral, Paulo Raimundo, e os membros da Comissão Política do Comité Central Ângelo Alves, João Ferreira, Patrícia Machado e Paula Santos. Em declarações aos jornalistas, Paulo Raimundo valorizou a dimensão da manifestação pelo que ela representava de alargamento do campo da paz. O dirigente comunista sublinhou ainda a oportunidade desta grande iniciativa, num momento em que há quem procure desviar recursos do País para o armamento e a guerra, que tanta falta fazem em sectores fundamentais para a qualidade de vida dos trabalhadores e da população. O caminho dos povos, garantiu, «é o caminho da paz».