Lisboa perdeu habitantes (mais de 50 mil em 20 anos) e polarizou-se socialmente. A especulação imobiliária intensificou-se. O Plano Director Municipal, de autoria PS, apoiado pelo PSD, é o paradigma da visão liberal de cidade. O mercado é quem manda, o promotor imobiliário quem desenha a cidade à medida dos seus interesses. Enquanto fundos imobiliários tomaram conta de ruas e quarteirões inteiros, milhares de famílias sobrevivem em fogos sobrelotados e insalubres, em bairros e edifícios com problemas estruturais. O parque habitacional público estagnou e deteriorou-se.
A reforma administrativa de 2012, negociada entre PS e PSD, desarticulou diversos serviços municipais. O caso mais flagrante, mas não único, é o da limpeza e higiene urbanas, com impactos visíveis na sujidade e no lixo que se acumula nas ruas.
A transferência de competências do Estado central, também negociada entre PS e PSD, conduziu à arrastada degradação de equipamentos como as escolas.
O turismo desregulado, o aumento da oferta hoteleira sem limites e o crescimento do Alojamento Local disputam espaço à função habitacional e aos equipamentos de uso colectivo.
Degradou-se a qualidade ambiental da cidade a um ponto que ameaça a saúde dos que nela vivem e trabalham. Prevaleceram opções erradas no domínio da mobilidade.
Desvalorizou-se a participação popular.
A governação da cidade esteve quase sempre ao serviço de uma minoria, contra os interesses da esmagadora maioria da população. Tal é visível, entre outros aspectos, na opção pela privatização de equipamentos e de espaço público; na desvalorização da cultura, em todas as suas dimensões, muito para lá do mero entretenimento; nas isenções e favores aos grandes eventos comerciais; na alocação dos recursos do significativo e generoso orçamento municipal.
Se é certo que no actual mandato nenhum problema da cidade se resolveu, pelo contrário, todos se agravaram, não é menos certo que na raiz e no avolumar de cada um deles encontramos a mão não só do PSD/CDS, mas também do PS, que nos últimos quatro anos viabilizou, sem condições, todos os orçamentos da gestão PSD/CDS-Moedas.
Romper com a alternância
Lisboa precisa de uma alternativa, que rompa com o ciclo de alternância que marcou os últimos 24 anos. Não se trata de abrir caminho a uma dança de cadeiras que garanta a mera mudança de protagonistas de uma mesma política. Trata-se de criar condições para pôr em prática uma visão e um projecto transformadores, construindo uma gestão alternativa, democrática e progressista, capaz de abrir caminho a uma cidade onde a habitação, o trabalho, o espaço público, os transportes, o ambiente, a saúde, a educação, a cultura e o lazer se conjuguem de forma harmoniosa para assegurar o bem-estar de todos.
Esta construção é um processo exigente e desafiante, que desaconselha o branqueamento de responsabilidades, actuais e passadas, pelo estado a que Lisboa chegou.
A CDU, pelo seu percurso, pela sua intervenção, pelo conhecimento e experiência acumulados, pelo seu projecto autárquico, pelos valores que a inspiram, corporiza a vontade de mudança que percorre amplos sectores da cidade. Impõe-se alargar na população a consciência desta realidade. O crescimento da CDU é condição imprescindível para a construção da alternativa.
A CDU foi e é um espaço de dinamização da luta pelo direito à cidade – nas ruas e nos bairros, nas escolas, nos mercados e feiras, nos transportes públicos, nos locais de trabalho, como nos órgãos do município. Terá de o ser cada vez mais. Importa tomar a iniciativa, para fazer confluir na opção de voto na CDU as lutas que percorrem a cidade – da habitação ao espaço público, do ambiente ao património, da cultura à participação popular. Fazer da CDU espaço de convergência de todos os que se revêem na urgência de uma mudança no governo da cidade. Força de oposição ao actual estado de coisas. Força de alternativa.