Sem respostas às reivindicações de valorização substancial dos salários e das profissões, entre outras, que motivaram mobilização e luta ao longo do ano, milhares de trabalhadores estão a passar em greve o período das festas de Natal e Ano Novo. Isso sucede na grande distribuição comercial, na higiene urbana de Lisboa e no sector dos resíduos sólidos noutros municípios, nos centros de contacto e lojas de empresas de telecomunicações, na Portway, na Atlânticoline, na Navigator, na Izidoro. Passa para 2025 a determinação de, em unidade, manter e prosseguir a luta, caso se mostre necessário.
Na Naveprinter acabou por ser pago o subsídio de Natal, e a greve que o SITE Norte convocara para dia 25 foi cancelada.
O SEP assinalou que foram conseguidas importantes vitórias dos enfermeiros da Unidade Local de Saúde de Viseu, fruto de sucessivas lutas por contabilização dos pontos, descongelamento das progressões e harmonização de direitos. Os compromissos cumpridos pela administração da ULS significaram «melhorias, substanciais nalguns casos, das condições de vida e das condições de trabalho» de muitos profissionais de enfermagem.
Trabalho suplementar com direitos
Depois de a administração da Atlânticoline ter rompido os acordos firmados em Abril, para tentar aumentar o número máximo de horas extraordinárias em condições inaceitáveis, o SIMAMEVIP convocou uma greve de um mês. A paralisação na transportadora fluvial açoriana tem início marcado para 7 de Janeiro.
Em Janeiro, o SITE Sul e a FIEQUIMETAL vão realizar plenários de trabalhadores em todas as empresas do parque da VW Autoeuropa. Em discussão vão ser colocadas reivindicações de melhores salários e condições de trabalho, garantia do emprego (com centenas de postos de trabalho em risco na Vanpro), contra os intensos ritmos e cargas de trabalho, pelo reconhecimento do desgaste rápido na indústria.
Para todos os sectores abrangidos pelos sindicatos da FIEQUIMETAL, foi renovado para 2025 o pré-aviso de greve ao trabalho extra, caso os patrões não respeitem a contratação colectiva e os direitos em vigor. Está em causa a laboração fora do horário normal ou em dia feriado que, por escala, seja dia normal de trabalho.
Um pré-aviso semelhante foi entregue pelo SINTTAV, para as empresas de telecomunicações, cujos trabalhadores, durante o ano de 2025, podem continuar a recusar fazer horas extraordinárias, nomeadamente em dia feriado nacional e municipal, enquanto essas horas forem pagas a 50 por cento e sem o respectivo descanso compensatório.
Na PREH Portugal (Trofa), o SITE Norte mantém a luta pelo fim do trabalho aos sábados, com pré-aviso de greve, para todo o ano de 2025.
Para 24 e 31 de Dezembro, o STIAC convocou greves de 24 horas na Izidoro (Montijo), contra a intenção patronal de trocar estes dias úteis de trabalho por trabalho ao sábado (dias 21 e 28), sem o pagar como trabalho suplementar. O sindicato indicou, entre os motivos das greves, aumentos salariais dignos (mínimo de mil euros em Janeiro), negociação da contratação colectiva e do caderno reivindicativo, fim do bloqueio à eleição da comissão de Segurança e Saúde no Trabalho, fim dos processos disciplinares como forma de conseguir despedimentos sem custos.
Contra salários mínimos
Desde a passada segunda-feira, dia 23, até ao dia 5 de Janeiro, está convocada greve dos trabalhadores dos centros de contacto e lojas de empresas de telecomunicações (MEO, Vodafone e NOS), contratados em regime de trabalho temporário ou outsourcing (externalização) por mais de quatro dezenas de prestadoras de serviços. O SINTTAV reitera que trabalho altamente qualificado não pode ser pago com salário mínimo nacional, nem podem continuar a proliferar os contratos a prazo.
No dia 16, uma delegação da CDU esteve com os trabalhadores da Randstad do call center da Vodafone, em Braga, manifestando solidariedade numa jornada de luta.
«As empresas de distribuição estão unidas contra os nossos direitos», pelo que «os trabalhadores estarão unidos em greve», apelou o CESP, confirmando a luta convocada para 24 de Dezembro, em super e hipermercados e outras redes comerciais.
O sindicato marcou greve por 24 horas, com âmbito nacional, pela revisão do contrato colectivo de trabalho, por aumento dos salários, valorização das carreiras profissionais e regulação dos horários. O dia da greve foi antecedido de acções de denúncia dirigidas aos clientes, no centro comercial Colombo, em Lisboa, no Fórum Coimbra e no Glicínias, em Aveiro.
Nos armazéns da Auchan (Valongo, Torres Novas e Alverca), a greve incluiu também o dia 23.
Foram ainda marcadas greves para a CEX (Aveiro, hoje, dia 26) e para a loja da Zara, no Rossio (Lisboa, dia 27). O sindicato acusou o Grupo Inditex (ITX) de, enquanto abre esta que é a sua segunda maior loja, a nível mundial, preparar o fecho de 14 estabelecimentos no País, para se livrar dos trabalhadores mais antigos, que estão a tempo inteiro e têm salários mais altos.
Amanhã, 27, bem como sábado e domingo, estarão em greve os trabalhadores da Accenture, com piquetes, às 14 horas, à porta das instalações em Santos (Edifício 37), no primeiro dia, e no Arquiparque 5, em Miraflores, nos dois dias seguintes. «O auto-proclamado “bom ambiente de trabalho” não substitui a necessidade, muito real, de concretizar aumentos salariais», salientou o CESP.
Hoje e amanhã fazem greve os trabalhadores da Silopor – Empresa de Silos Portuários, exigindo que esta seja retirada da situação «em liquidação», permanecendo no sector empresarial do Estado, com gestão pública. Reivindicam ainda, como informou o CESP, que seja assegurada a recuperação do tempo de serviço congelado e que haja aumentos salariais para todos, em 15 por cento, com o mínimo de 150 euros.
Estas reivindicações foram levadas, no dia 19, à sede do Governo. Nesse protesto esteve presente, em apoio e solidariedade, Paula Santos, da Comissão Política do Comité Central do PCP e presidente do Grupo Parlamentar comunista.
Por aumentos salariais justos em 2025, pelo fim das imposições patronais e pela reposição dos direitos retirados, os trabalhadores da Navigator Pulp Aveiro e The Navigator Company, no Complexo Industrial de Cacia, decidiram fazer greve hoje, amanhã e domingo. Como referiu o SITE Centro-Norte, ao longo dos últimos meses, a administração fugiu aos compromissos de negociar uma melhoria dos aumentos salariais para 2025.
Pelo aumento salarial acordado, para vigorar com efeitos a 1 de Janeiro de 2024, o SITAVA, o SINDAV, o SIMAMEVIP e o STHAA convocaram greve na Portway, nos dias 24, 25 e 31 de Dezembro e 1 de Janeiro. A actualização dos salários, que a administração da empresa de assistência em escala da ANA (Vinci) recusa cumprir, tem efeitos no salário-base, nas componentes que lhe estão associadas, mas também na base de negociação de 2025, alertaram os sindicatos.
Higiene Urbana e resíduos
Hoje e amanhã estão em greve os trabalhadores da Higiene Urbana do Município de Lisboa, «cansados de serem maltratados, acusados cínica e injustamente de todos os problemas» da falta de limpeza na cidade. Num comunicado à população, o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa e o STAL explicam que estão inoperacionais 45,2 por cento das viaturas essenciais à remoção de resíduos, uma grande parte (22,6 por cento) do pessoal no sector está diminuída fisicamente ou de baixa, por acidentes de trabalho, e existe um défice real de 208 trabalhadores (lugares por preencher no mapa de pessoal). Foi divulgado um extenso dossier sindical sobre a realidade da Higiene Urbana em Lisboa.
Não foi cumprido pela CML o acordo celebrado com os sindicatos em Junho de 2023, que levou à suspensão de uma luta então anunciada. Como o presidente do STML, Nuno Almeida, disse à agência Lusa, no dia 19, os trabalhadores esperaram ano e meio por obras em locais de trabalho, investimentos em pessoal, ferramentas e meios mecânicos, reorganização dos circuitos de recolha do lixo. Mesmo sem esta greve de dois dias, ao trabalho normalseria notado o efeito da época festiva, pelo que a responsabilidade cabe apenas à Câmara.
Mostrando incapacidade para organizar a força de trabalho e responder aos problemas, o Executivo PSD/CDS, presidido por Carlos Moedas, vem apontar projectos e soluções que priorizam o sector privado, alertam os sindicatos da CGTP-IN.
Foram anunciadas pelo STAL outras greves no sector da recolha de resíduos, reclamando valorização dos salários, dignificação das carreiras e respeito pelas funções: nas empresas FCC Environment (hoje) e Resinorte (hoje e amanhã) e nos municípios de Oeiras (hoje e amanhã, das zero às 6 horas) e Portimão (greves na EMARP, a 2 e 3 de Janeiro).
Na EMARP, na ERSUC e na Resinorte, foram prolongadas até Março os pré-avisos de greve ao trabalho suplementar.
Combate intenso em Dezembro
No dia 20, fizeram greve os trabalhadores da Lisboagás e demais empresas do Grupo Floene. Nessa manhã, os sindicatos SITE Norte, SITE Centro-Norte, SITE CSRA, SITE Sul e SIESI promoveram um concentração junto à sede patronal, nas Torres de Lisboa. Novas paralisações estão marcadas para 17 de Janeiro e 14 de Fevereiro.
Nessa sexta-feira, estiveram em greve os trabalhadores da fábrica de conservas ESIP, em Peniche.
Entre dias 18 e 20, fizeram greve os trabalhadores dos CTT no Centro de Distribuição Postal de Figueiró dos Vinhos (que abrange ainda Pampilhosa da Serra, Castanheira de Pêra e Pedrógão Grande), com adesão total. Para os dias 2, 3 e 6 a 10 de Janeiro, está decidida greve no CDP da Moita.
No dia 17, com uma adesão que o SEP estimou em 89 por cento, fizeram greve os enfermeiros do Hospital de Vila Franca de Xira, a única ex-PPP onde ainda não foi regularizada a contagem de ponto, para efeitos de progressão. Na concentração, no exterior daquela unidade do SNS, esteve uma delegação do PCP, a expressar solidariedade.
No dia 16, trabalhadores dos museus e monumentos concentraram-se junto da sede do Governo, reafirmando os objectivos das greves ao trabalho extraordinário e em dias feriados.
No dia 13, com um cordão humano entre o Hospital Pediátrico e os HUC, os trabalhadores da Unidade Local de Saúde de Coimbra solução para os problemas de estacionamento.
Nessa mesma sexta-feira, os trabalhadores da Janz, em Lisboa, fizeram greve e receberam a solidariedade do PCP, transmitida por João Ferreira, da Comissão Política do Comité Central.
No dia 12, na baixa de Lisboa, a União dos Sindicatos do distrito levou a cabo uma acção de denúncia das injustiças sociais e desigualdades, utilizando elementos alegóricos da época natalícia. No final, no Rossio, intervieram um dirigente da Interjovem, o coordenador da USL e o Secretário-Geral da CGTP-IN.
Iniciativas semelhantes ocorreram em Setúbal, no dia 17 (marcha da Praça do Quebedo para o Largo da Misericórdia), em Beja (junto à Casa da Cultura, também no dia 17), e em Coimbra (distribuição de folhetos no dia 19, na Praça 8 de Maio).
No dia 11, investigadores da Universidade de Coimbra realizaram uma concentração, exigindo resposta para acabar com a precariedade e garantir o emprego de centenas de profissionais que, a nível nacional, estão empurrados para o desemprego já em Janeiro.
Nos dias 9 e 10, fizeram greve os trabalhadores da Sandbus, em Portimão, com adesão acima dos 80 por cento, como informou a FECTRANS.
No dia 6, pela 17.ª vez, desde Fevereiro de 2023, fizeram greve os trabalhadores da Nobre Alimentação, em Rio Maior, com uma adesão que o SINTAB estimou em 87 por cento.