As notícias sobre os resultados dos principais grupos económicos no final do terceiro trimestre de 2024 em Portugal vão-se sucedendo. São números avassaladores. Em geral, representam subidas de 50% face a 2023, e quase que dobram os lucros alcançados em 2022.
Nestes nove meses, a GALP e a EDP já ultrapassaram os 1000 milhões de euros de lucros cada uma. O caso da banca é igualmente escandaloso quando tudo leva a crer que Santander, BCP, Novo Banco, BPI e CGD, venham a atingir mais de 5000 milhões de euros de lucros no final de 2024. O Jornal de Negócios, aliás, falava na semana passada do “jackpot da banca” alcançado na base dessa coisa simples: cobrar bem mais pelos empréstimos concedidos (com juros e comissões) do que aquilo que paga pelos depósitos.
E depois dos lucros virá a distribuição dos dividendos, ou seja, aquilo que vai directamente para os bolsos dos accionistas. No caso português estamos a falar sobretudo de riqueza que vai para o estrangeiro, numa dupla dinâmica de exploração dos trabalhadores e empobrecimento do povo e do País. Em alguns destes casos, quanto maiores forem os lucros (e dividendos) mais pobre fica o País.
É claro que a dimensão destes lucros (e dividendos) não abre noticiários e muito menos escandaliza quem diariamente faz comentário político. Mais facilmente se vê um “ALERTA CM” sobre uma carteira roubada a um turista na baixa de Lisboa do que sobre as milhares de pessoas que são verdadeiramente assaltadas quando pagam a prestação ao banco. Nas chamadas redes sociais não é diferente. O “algoritmo” não se excita com as gritantes injustiças na distribuição da riqueza e a agenda reaccionária encarrega-se de pôr o pessoal a “revoltar-se” com quem recebe o RSI e tomou o pequeno almoço no café do bairro.
O quadro de valores que é projectado tende a endeusar o lucro e a esconder os mecanismos de exploração que, sobretudo a partir dos grupos económicos e das multinacionais, lhe estão associados. Lucros e salários são as duas faces da riqueza criada que, ou vai para o capital, ou fica nas mãos dos trabalhadores que a produzem. Desvendar esta simples equação é um passo de gigante para compreender o mundo em que vivemos, para ganhar consciência, para tomar partido e lutar, como aliás estamos a fazer, dia a dia, com a campanha “Mais salários e pensões” junto dos trabalhadores e do povo português.