1937 – “A Grande Ilusão”


O filme “A Grande Ilusão”, do extraordinário realizador francês Jean Renoir, é frequentemente considerado, com toda a justiça, um dos maiores filmes da história do cinema. Comovente declaração contra a guerra, tendo como cenário a Primeira Guerra Mundial e o encontro de três homens que apesar da situação e das diferenças de classe descobrem ter mais em comum do que podiam pensar, o filme, profundamente humanista, aborda questões tão actuais como o nacionalismo, o preconceito face ao ‘outro’, as diferenças de classe, a guerra. A obra de arte de Renoir tem como referência o livro do escritor e político inglês Ralph Norman Angell, “The Great Illusion”, publicado em 1910. Angell, Nobel da Paz de 1933, membro do comité executivo da Liga das Nações e do Conselho Nacional da Paz, advoga ser “absolutamente certo – e até os militaristas (...) o admitem – que a tendência natural do homem médio é afastar-se cada vez mais da guerra”. Estavam enganados, como se viu quatro anos depois. Renoir afasta-se daquela tese, lembra-nos que muitas são as fronteiras que separam os homens e que nenhum acto é arbitrário. A “grande ilusão”, que muitos acalentaram, de que a Grande Guerra seria a última, já se esfumava em 1937, com o prenúncio do horror que crescia na Alemanha nazi.