- Nº 2659 (2024/11/14)

Destacado obreiro de Abril, Álvaro Cunhal continua a ser exemplo para hoje e amanhã

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Paulo Raimundo foi recebido, no dia 10, por uma sala cheia, em Alpiarça, para uma sessão evocativa do 111.º aniversário do nascimento de Álvaro Cunhal, no ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril. A iniciativa particularizou ainda os diversos e importantes contributos do destacado dirigente comunista para a Revolução.

Álvaro Cunhal regressa a Portugal – de um longo exílio de 14 anos – cinco dias após o 25 de Abril. Ainda no aeroporto, questionado por um repórter da RTP sobre o que sentia naquele momento, o então Secretário-Geral do PCP respondia de forma simples, mas determinada: «Confiança. Confiança em que o nosso povo, em aliança com os militares de 25 de Abril, conduzirão o nosso País pelo caminho da liberdade, da democracia e da paz.»

Álvaro Cunhal demonstrou assim, desde logo, determinação e confiança – a sua e a do seu Partido de sempre – no povo português. Seriam muitos os exemplos que deixaria, nos anos que se seguiram (como nos muitos de clandestinidade, prisão exílio que já tinha atrás de si), sobre a importância de confiar no povo e nas suas potencialidades de compreensão, determinação, luta e realização. O seu contributo para a Revolução de Abril não se esgota nos dias imediatos ao derrube do fascismo e no processo revolucionário que se lhe seguiu. Puderam-se verificar ao longo de toda a sua vida, entregue, desde muito cedo, à causa revolucionária de libertação do povo português.

Foram alguns destes exemplos que um pequeno filme exibido na iniciativa – que se realizou na Casa dos Patudos, Museu de Alpiarça – demonstraram. Antes desse momento, já João Nogueira e os Amigos de Abril tinham trazido, às largas dezenas de pessoas que ali compareceram, um momento musical de grande qualidade. Dos versos de Portugal Resiste (poema de Manuel Alegre, musicado por Luís Cília: Tu saberás que a Pátria não se vende/ E em cada peito em cada olhar se acende/ Este fogo este vento de luta por Ela), passando pelo Hino de Caxias, cantado em uníssono, até Altos Castelos, de José Afonso.

Revolução inacabada
«Comemoramos hoje o 111.º aniversário de Álvaro Cunhal no ano em que se assinalam os 50 anos da Revolução de Abril», começou por dizer Paulo Raimundo, logo após fazer uma breve referência a Alpiarça: «terra de gente de trabalho e com uma história de luta, que enfrentou o fascismo, como na greve por aumento de salários em 1950, onde viria a ser assassinado Alfredo Lima», que também ali foi recordado.

«Abril foi uma Revolução única e cheia de originalidades», afirmou, «que ninguém compreenderá sem conhecer os seus traços originais, nomeadamente aquela que é uma das suas mais significativas características: terem-se realizado profundas transformações revolucionárias a partir da intervenção criadora das massas populares, mesmo sem a existência de um poder revolucionário». Traços e originalidades estes que, para o Secretário-Geral, explicam também muitas das dificuldades que as forças da contra-revolução haveriam de enfrentar, nos últimos 50 anos, para recuperarem o seu domínio e reporem as condições e posições perdidas no processo da Revolução.

«Se é verdade que tivemos um processo revolucionário inacabado», admitiu, não é menos verdade «que temos um longo processo contra-revolucionário, de política de direita de sucessivos governos (…) a quererem ir mais longe para acabar com o que temos de conquistas e valores».

«A Constituição da República Portuguesa (CRP)», filha da Revolução, «apesar de todas as revisões, com amputações e abcessos, consagra direitos essenciais que, aplicados, dão resposta aos problemas dos trabalhadores e do povo, um projecto que aponta o caminho que se impõe para o futuro», salientou Paulo Raimundo. «O problema é que», continuou, «a CRP tem sido reiterada e sistematicamente desrespeitada, por sucessivos governos, incluindo o actual Governo PSD/CDS, com políticas e um Orçamento do Estado (OE) que mereceram, desde o primeiro momento, a nossa mais firme oposição».

São opções políticas tomadas pelo governo «de turno» que, para o Secretário-Geral, o unem com o Chega e IL e com as quais o PS converge, «como se viu na sua decisão de viabilizar o OE». Estão unidos e de acordo na «aceitação da submissão aos ditames de Bruxelas e aos interesses dos monopólios e do grande capital» e na «recusa das soluções que são necessárias para ultrapassar os dramáticos problemas que afectam os trabalhadores». «Soluções que só podem ser encontradas invertendo o rumo contra-revolucionário, pondo termo a décadas de políticas de direita», acrescentou.

Álvaro Cunhal é exemplo a seguir
Guilherme Marques, da JCP, recordou as palavras de Álvaro Cunhal no primeiro congresso da JCP: «Do coração desejamos que a Juventude Comunista, com os pés assentes na terra, tenha capacidade para sonhar e a força e determinação para transformar o sonho em vida». «É com orgulho que os jovens comunistas honram estas palavras, com a sua acção diária, lutando todos os dias com a juventude portuguesa, pelos valores de Abril, pelo socialismo e pelo comunismo», afirmou, referindo o «gigante contributo» de Álvaro Cunhal para luta da juventude pela sua emancipação. «Sabia-nos capazes de continuar a lutar pela felicidade a que aspiramos. Em defesa da escola pública de Abril, do trabalho com direitos a um salário digno, do direito à cultura, habitação, ao desporto e à paz», realçou.

Valter Cabral, da Direcção da Organização Regional de Santarém do PCP, seguindo o exemplo de Álvaro Cunhal, recordou que, em cada momento, é necessário olhar para as condições concretas para avançar com a luta, pois não há outra forma de defender e prosseguir Abril». Dessa luta, naquele distrito, apontou ainda o dirigente, deram exemplos os trabalhadores da Tupperware, em Constância, da TemaHome, em Tomar, ou dos trabalhadores da Nobre, da Câmara Municipal de Tomar, dos profissionais de saúde e dos reformados e pensionistas.

 

Álvaro Cunhal, figura maior de Abril

Como exemplificou Paulo Raimundo ao longo da sua intervenção, Abril é revolução de «hoje e amanhã», que teve em «Álvaro Cunhal uma das suas figuras maiores». «Alguém que desde cedo deu um contributo fundamental para a elaboração e a concretização da linha política do Partido», apontou.

São vários os exemplos: desde logo, no III e IV congressos do PCP, mas de forma marcante no VI Congresso, em 1965, com a elaboração do relatório Rumo à Vitória, no qual são definidas as ideias e linhas fundamentais para os grandes objectivos da Revolução Democrática Nacional. «Um contributo inestimável esse, para a definição do Programa, da estratégia e da táctica do PCP para a etapa da revolução antifascista portuguesa», salientou. Tal contributo viria mesmo a «influenciar decisivamente o desenvolvimento da luta da classe operária e das massas populares, bem como o fortalecimento e unidade das forças democráticas de oposição ao regime, criando as condições para o derrube da ditadura em 25 de Abril de 1974».

«Ao lado do povo, mantendo com ele uma real relação de autenticidade», durante toda a sua vida, mas em particular no processo revolucionário. Como explicou Paulo Raimundo, Álvaro Cunhal manteve sempre, com os trabalhadores, uma «relação de simplicidade, proximidade e de respeito e apreço recíprocos». Aliás, como o próprio já revelara nas suas palavras: «foi na luta, com o empenhamento, dedicação e coragem do grande colectivo partidário, foi nas fábricas, foi nos campos, foi nos portos, foi nas escolas, foi nas grandes iniciativas de massas do Partido, que participei directamente na revolução. Com a classe operária, com a massa trabalhadora, com as massas camponesas, com a juventude, com as mulheres, com os idosos».

Após a revolução, Álvaro Cunhal desmontou e esclareceu o conteúdo e os objectivos da política de direita de recuperação capitalista, agrária e imperialista. E «fá-lo valorizando o papel do PCP na resposta a essa política e às suas consequências», contrapondo-lhe «caminhos alternativos inspirados nos ideais de Abril», demonstrando a «necessidade inequívoca e a importância imperiosa da luta pela alternativa de esquerda», e desconstruindo, «passo a passo, as mentiras da contra-revolução». Contributos estes, que «continuam a ter toda a actualidade e toda a relevância», salientou Paulo Raimundo.